As provas que não se pode provar nada em Ciência

O Cardoso sempre compartilha coisas interessantes e informações relevantes. Infelizmente, ele tem a péssima mania de me causar dores de estômago ao compartilhar maluquices de gente que se julga mais genial, mas com a profundidade de um pires. Um exemplo é a “cientista” (depois eu explico as aspas) que sustenta que em Ciência fatos não existem, leis e teorias não existem e que cientistas não provam nada.

Será? (óbvio que você sabe que eu direi não, mas também está doido para saber o motivo)

Tudo começa com um artigo na Scientific American, que apesar de ser uma revista de divulgação científica importante, não tem revisão de pares. O título é I’m a Scientist, and I Don’t Believe in Facts – The benefits of a post-truth society (Eu sou uma cientista, e eu não acredito nos fatos – Os benefícios de uma sociedade pós-verdade).

Pós-verdade parece algo muito Black… 1984 e seu duplipensar. Ela diz que que mentiras não nos perturbam, e o conhecimento não nos impressiona; isso porque somos “pós-verdade, pós-fato”. Algo interessante, mas vazio, como qualquer pessoa da linha dela… calma, já vou explicar. Primeiro o fato e não o detalhe. Ops…

O problema do texto que é um palavrório repetitivo se baseia no cerne transcrito em palavras nestes parágrafos:

Pensamos em um fato como uma verdade irrefutável. De acordo com o dicionário de Oxford, um fato é “uma coisa que é conhecida ou provou ser verdadeira”. E de onde provém? Ciência?

Bem, deixe-me contar um segredo sobre a ciência; Os cientistas não provam nada. O que fazemos é coletar evidências que apoiam ou não suportam nossas previsões. Às vezes fazemos as coisas uma e outra vez, de maneiras significativamente diferentes, e obtemos os mesmos resultados, e então chamamos esses achados de fatos. E, quando temos muitas e muitas repetições e variações que todos dizem a mesma coisa, então falamos de teorias ou leis. Como a evolução. Ou gravidade. Mas em nenhum momento provamos nada.

O primeiro parágrafo mete as patas de trás pelas patas da frente. Os fatos não vêm da Ciência. Os fatos CONSTRÓEM a Ciência. Ciência é feita de fatos assim como uma casa é feita de tijolos, mas um punhado de tijolos não são uma casa e um punhado de fatos não fazem Ciência.

Não, Ciência não nos diz o que são fatos. Eles estão à nossa volta. Ciência é conhecimento organizado. Um monte de fatos que passaram por um escrutínio, uma faxina e uma lapidação. Isso leva tempo. Mas, e se não existir fatos?

Vejamos esta foto, tirada em 1932, com operários na sua merecida hora de almoço enquanto levantam o RCA Building no Rockefeller Center, com 260 metros de altura.

Sim, eles estão bem alto, sentados numa viga de aço e embaixo deles alguns belos metros até a calçada na Ilha de Manhattan. Se fatos existissem, cada um deles saberia que bastava soltar uma pedra de 100 g de uma altura de 200 metros chegaria em baixo como algo com 20 kg bem na sua cabeça. Aliás, deve ser por existirem fatos que hoje nós obrigamos nossos operários a usarem cinto de segurança. É fato, pois nós sabemos o que vai acontecer, pois vários operários caíram do alto de prédios.

Se bem que a queda não causa mal algum. O problema se dá quando você chega no chão.

Quando eu digo que 2 + 2 = 4, eu posso provar que sim. Basta eu juntar duas tampas de caneta vermelha e duas tampas de caneta azul. Terei quatro tampas. Isso não é prova? Não estou demonstrando por meio de experimentos? A articulista diz que tudo depende de observação e experimentação que pode, ou não, confirmar as previsões, mas que isso efetivamente não é prova.

O que é prova?

PROVA
s.f.

1. aquilo que demonstra que uma afirmação ou um fato são verdadeiros; evidência, comprovação.
2. ato que dá uma demonstração cabal (de afeto, fidelidade etc.); manifestação, sinal.

Entendi. O problema deve ser a língua inglesa. Que tal vermos a definição em inglês para proof. Shall we?

PROOF

1. the cogency of evidence that compels acceptance by the mind of a truth or a fact.
2. the process or an instance of establishing the validity of a statement especially by derivation from other statements in accordance with principles of reasoning.
3. evidence operating to determine the finding or judgment of a tribunal.

Hummmm, então eu descobri o problema.

Julia Shaw tem doutorado em Psicologia. Todos os seus trabalhos acadêmicos são sempre a mesma coisa: falsa memória. Falsa memória é quando você acha que se lembra de algo, mas esse algo não aconteceu. É uma dor de cabeça para advogados e muito amado por advogados, pois é assim que se manipula testemunhas.

Pensando como quem trabalha com advogados, claro que ela não ia aceitar o conceito de provas, já que trabalha com falas memorias, que evidentemente não são prova alguma. Claro, a função dos advogados é distorcer até mesmo relatórios da perícia, médico-legal etc. CLARO ela não ia aceitar o conceito de prova. Ela não falou como cientista (já que não é), falou como uma burocratazinha de um escritório de advocacia que tentará enrolar juiz e júri para ajudar a defender clientes.

Porque, no final das contas, apesar de Gravidade ser uma teoria e não ter sido provada, ela não pula para fora da janela no 50º andar. Pula?

11 comentários em “As provas que não se pode provar nada em Ciência

  1. Estava difícil para mim entender por que um cientista iria dizer isso,mas ai fui lendo o resto e cheguei na parte sobre o perfil da tal cientista.
    Que no final é psicóloga,ou seja,não é nenhuma cientista,e que está achando que sua profissão lhe garante total direito de dizer o que esta certo ou não pois entende do cérebro humano,logo pois das suas razões finais,o que é claro,está errado.
    É como Thomas Kuhn dizia,a Psicologia falta em base de teoria unanimemente aceita,por exemplo como ciências tais como Física e Química.
    Logo esta em um estado pré-paradigmático,e não tem como ser aceita em embasamento cientifico.

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    1. É engraçado, eu tive que fazer acompanhamento psicológico, para poder entender o fato de que foi o pior investimento de toda a minha vida… Agora tenho que esperar o mês que vem, para poder comprar meu jogo de PS4.rs

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  2. Milhões de sites disputando atenção e clicks para agradar patrocinadores, falta muito para atingir a meta semanal o que você faz
    A- Se vale do nome consolidado para gerar uma polemicazinha e poder descansar no fim de semana.
    B- Faz um trabalho mais sóbrio e leva uma chamada do chefe que ameaça te demitir no natal.

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  3. Claro que ela tinha que falar do “gato de Schrödinger” para dar a pegada com a mecânica quântica, vista como fonte mística inesgotável para o mundo da New Age e para os charlatães. Mas indo a um outro pobto, André, entendo que uma teoria pode nos mostrar novos fatos a serem pesquisados ou de cuja existència bem suspeitávamos, por exemplo, as ondas gravitacionais. Eu me lembro de haver lido em “A parte e o todo” que Einstein faz uma observação desse tipo para Heisenberg, em uma de suas conversas. Muito interessante por sinal.

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    1. No livro em que você citou,”A parte e todo” tem não só haver com Erwin Schrödinger,mas sim com muitos outros físicos importantes da época,entre eles : Niels Bohr,Paul Dirac,Albert Einstein,Max Planck entre outros.
      O livro trata sobre a conversa entre eles e Werner Heisenberg,e sobre os tópicos da época.
      Em uma das partes,Albert Einstein diz para Heisenberg que “Deus não joga dados com o Universo”,e é repreendido por Bohr que diz : “não deve ser tarefa nossa prescrever a Deus como Ele deve reger o mundo”,mas acabou de ver mais para a frente de que a teoria da Incerteza e até mesmo o gato de Schrödinger eram perfeitamente aceitáveis,dizendo de que em um modelo teórico devemos abandonar a ideia de tentar localizar partículas.
      Aliás foi na seguinte frase de Einstein de que levou Heisenberg á teoria da Incerteza : “É a teoria que decide o que podemos observar.”

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  4. “É uma dor de cabeça para advogados e muito amado por advogados”

    Creio que no lugar do segundo “advogados” era pra estar outra coisa.

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    1. Não, eu quis dizer exatamente isso. Você precis lembrar que num processo jurídico existem dois lados, e esses dois lados têm advogados.

      Consegue deduzir daí?

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