Todo mundo adora pássaros coloridos, que diferente do que boa parte das pessoas pensa, não existem para nos agradar, da mesma forma que o trinado melodioso, que não passa de chamar a fêmea de gostosa e xingar o concorrente. A questão que fica é, ok, tudo nosso vem codificado no DNA. Qual a parte do DNA que dá aquelas lindas cores vermelhas dos cardeais (o pássaro, não o clérigo)?
Pesquisadores descobriram qual é a chave para isso, e com dois artigos escritos separadamente.
O dr. Miguel Jorge Pinto Carneiro é pesquisador do Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, ó pá! O dr. Pinto estuda para saber de onde veio as belas plumagens dos pássaros, isto é, qual o gene responsável por tal coisa. Concomitantemente, o dr. Nicholas Mundy, pesquisador em Biologia Evolutiva da Universidade de Cambridge, Inglaterra, pesquisava coisa parecida e amos chegaram à mesma conclusão.
O problema começa que diferente de outros animais, as aves não sintetizam pigmentos vermelhos endogenamente, isto é, não é seu corpo quem produz, elas precisam ingerir alimentos que possam dar naquela cor. Isso implica que se elas são vermelhinhas, foi por causa de algo que comeram. Mas calma, que não é tão simples assim!
Para que isso ocorra, é necessário uma conversão enzimática, ou seja, ação de enzimas que agem sobre certas substâncias que dão nessa ou naquela cor. Enzimas são codificadas por genes expressados, que são trechos ativos do DNA. O gene em questão é o CYP2J19, o qual codifica uma enzima pertencente à família do "citocromo P450" de proteínas. Como nem todo pássaro tem esse gene, duas espécies podem ingerir o mesmo alimento e mesmo assim ter plumagens diferentes.
Na verdade, os pássaros com penas vermelhas são amarelos. Este trabalho da CYP2J19 converte (entendeu a "conversão"?) o amarelo em vermelho, mediante o jantarzinho gostoso que eles comeram.
A primeira pesquisa visou estudar a perda de coloração dos bicos, enquanto a outra pesquisa estudava as cores das plumagens de um canário. Todos os dois casos, não-relacionados mostraram-se devido ao mesmo agente.
As duas pesquisas foram publicadas em dois artigos diferentes dentro do mesmo periódico: o Current Biology [1] e [2]. Sim, dá pra ler tudinho. Divirtam-se!