Pessoas são boas de nascença? Não é bem assim

Será que as pessoas já nascem com boa índole e altruísmo, ou qualquer influência externa pode nos fazer bonzinhos ou verdadeiros monstros? Existem várias explicações para o altruísmo. Alguns dizem que é inato, já nasce com a pessoa (enquanto outros nascem verdadeiros maníacos psicopatas). Outras teorias dizem que é um processo evolucionário, pois a ação de cuidar um do outro garante melhor sucesso de sobrevivência do que na base do "cada um por si".

Psicólogos de Stanford retomaram estudos sobre isso (na verdade, esses estudos nunca pararam) e concluíram que o comportamento altruísta pode ser regido por relações mais complexas do que se acredita até então.

A drª Carol Dweck é professora de Psicologia de Desenvolvimento da Universidade de Stanford. Ela estuda o desenvolvimento do comportamento ético e altruísta nas pessoas, desde bebezinhos. Será que somos bons de nascença? Não, não somos, segundo a doutora.

Desde 2006 experimentos analisando o comportamento de crianças são efetuados pelos pesquisadores. Psicologia bem feita (e não aqueles inúteis que dizem que o fato de você ter trauma é porque roubaram seu sorvete quando você tinha 3 anos) demora um bom tempo para apresentar resultados e o principal problema é a reprodução dos experimentos, já que há muitos fatores envolvidos no nosso desenvolvimento. O problema também é que a simples interação dos pesquisadores com o objeto observado (as crianças, por exemplo), altera o caminhar da pesquisa e pode dar resultados diferentes do que deveria acontecer. O simples ato de jogar com a criança, a fim de acostumá-las com o pessoal da pesquisa, já influencia o resultado. Se eu fosse um imbecil irresponsável, chamaria isso de "Psicologia Quântica", e sim, esta palhaçada existe, mas isso aqui é um site que preza a Ciência, não besteiras que vendem livros toscos.

Rodolfo Barragan é aluno de Dweck e fez uma pesquisa sobre o assunto. Professora e aluno projetaram, então, uma nova experiência que visa isolar o efeito do período de aquecimento pré-teste. Eles recorreram a um e 34 crianças de dois anos e dividi-los em dois grupos. No primeiro grupo, o experimentador iria rolar uma bola para frente e para trás com a criança, enquanto conversava. Depois de alguns minutos, o experimentador "acidentalmente" deixava um objeto cair da mesa, e observava se a criança iria ajudar buscá-lo, exatamente como no estudo de 2006.

A diferença foi no segundo grupo. Nele, o experimentador e a criança jogam, cada um com sua própria bola, o que é conhecido como "jogo paralelo", ambos ainda conversando enquanto o pesquisador envolvido no mesmo tipo de bate-papo. Mais uma vez, depois de alguns minutos, o experimentador deixava um objeto cair da mesa..

As crianças envolvidas no jogo recíproco eram três vezes mais propensas a ajudar a apanhar os itens como as crianças que haviam se empenhado em apenas uma brincadeira paralela. Quando os cientistas repetiram o experimento em condições ligeiramente diferentes com crianças mais velhas, o grupo do jogo recíproco foi duas vezes mais propensos a dar uma mão.

Os resultados sugerem que o comportamento altruísta pode ser regido por relações sociais, mesmo que breve, do que por puro instinto.

Mas, espere aí! Como saber se alguém é altruísta só porque jogou uma bolinha por alguns minutos.

Estamos falando de Psicologia, não de Matemática. Não existem regras universais, ou leis invioláveis. O que se demonstra é que as pessoas, mediante relações sociais – seja de qual tipo for – interagem e alteram o comportamento umas das outras. Estabelecemos vínculos que reforçam certos comportamentos ou reforçam negativamente. Mas ninguém nasce inteiramente bom ou inteiramente ruim.

Os pesquisadores argumentam que o altruísmo inata é que era uma adaptação evolutiva benéfica, na base do "eu coço as suas costas e você esfrega as minhas", em que ainda pode haver pressões evolutivas acarretando no comportamento altruísta. Somos bons porque isso nos favorece. Simples.

A pesquisa foi publicada no periódico PNAS, mas os pesquisadores ressaltam que ele não é definitivo e que mais estudos são necessários para verificar os resultados, particularmente em crianças com idade inferior a 18 meses. Mas se ações durante nosso desenvolvimento direciona nosso comportamento, essa pesquisa pode ajudar a direcionar pesquisas futuras.


Fonte: Press Release de Stanford

3 comentários em “Pessoas são boas de nascença? Não é bem assim

  1. Isso tudo é muito relativo. Claro que as condições sociais ajudam a moldar personalidades, como uma espécie de chimpanzés (que me esqueci o nome) que se desenvolveu isolada dos demais primatas na África. Eles são altruístas vivem em paz quase que sem violência nenhuma, enquanto a outra espécie de chimpanzés se desenvolveu na outra margem do rio onde tiveram que competir por área e alimento com outras espécies, inclusive gorilas. Mas se um desses chimpanzés altruístas fosse colocado junto a outros primatas mais agressivos, claro que com o tempo ele poderá se tornar também agressivo por uma questão de sobrevivência mas é de sua natureza, devido sua espécie ter se desenvolvido assim, ser altruísta. Pode ser o que ocorre também conosco.

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  2. Outras teorias dizem que é um processo evolucionário, pois a ação de cuidar um do outro garante melhor sucesso de sobrevivência do que na base do “cada um por si”.
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    Algo parecido pode ser encontrado no reino animal e tem sido bem estudado em nossos parentes mais próximos, os chimpanzés. Seria um comportamento ,descrito e nomeado “altruísmo recíproco” pelo biólogo Robert Trivers, segundo o qual os animais podem fazer favores a outros na expectativa de que vão receber de volta os favores. Eles provém do fundo de nosso passado evolucionário. Já estavam em nossa linha ancestral numa época que ainda não éramos humanos.
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    Ps: Sim, Carl Sagan. Sim, bilhões e bilhões pag. 169.

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