Cientistas pesquisam célula cancerosa com sistema de auto-destruição

Bom dia, senhor Phelps.

Se antes o problema do câncer é que… bem, ele é um bando de células ensandecidas, loucas para lhe devorar de forma voraz e impiedosamente, mostrando como os desígnios do Projetista Inteligente mostram-se bons, justos e misericordiosos. Imagine, senhor Phelps, como seria muito melhor se o seu sistema reconhecesse uma invasão de espiões inimigos, rotulando-os e sabotando-os, de forma que eles mesmos se aniquilasse, protegendo a sua base. Isso não parece uma tarefa difícil, senhor Phelps. É uma missão impossível, mas dois pesquisadores do MIT resolveram aceitar a missão.

Para o dr. Zhen Xie, do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciências da Computação e o Departamento de Engenharia Biológica do MIT, não existe o impossível. Ele imaginou se não poderia criar uma maneira do organismo humano filtrar as células boas das células cancerosas. Uma forma de enviar o câncer para a caixa de spam e eu seria menos que humano se não disse que aquela lixo que chega todos os dias no meu e-mail é um verdadeiro câncer na minha caixa de entrada.

Enquanto você se acha o tal porque pegou algum script na Internet, de forma a se sentir o maioral por ter mais de um milhão de seguidores no Twitter, o bom dr. Zhen Xie criou uma maneira da célula se matar. Para tanto, ela tem que se reconhecer como sendo algo nocivo, e quando eu falo "reconhecer" é em nível químico, pois células não pensam. Nem mesmo neurônios pensam. Assim, com o o auxílio de microRNAs, a célula fica "programada" para se matar com a presença de determinadas sequências em seu código genético. Uma espécie de subrotina If…Then (maiores informações com a divisão tecnonerd do Ceticismo.net. No máximo, programei em Fortran nos tempos de Universidade).

Ei, espere um instante! Que maluquice é essa de células se matando? Qual monstro imundo e antiético colocaria isso em nosso código genético, absolutamente perfeito? Malditos cientistas! Jesus nunca permitiria que isso…

Er… com licença, mas isso não é nenhuma novidade. Existe uma coisinha chamada apoptose. Durante a apoptose, células infectadas por, digamos, um vírus se mata. Ele desempenha um papel crítico ao fazer com que células se auto-eliminem, impedindo de fabricar mais vírus que poderiam infectar outras células. Tudo vai depender da velocidade de replicação do vírus. Com a apoptose, esta replicação é contida (ou nem sempre), onde as necessidades de muitas sobrepujam as necessidades de poucas. Mas estas poucas foram e sempre serão nossas amigas.

Durante a apoptose, a célula prestes a se entregar em um seppuku microscópico encolhe e se afasta de suas vizinhas, como um velho elefante prestes a morrer. Em seguida, a superfície da célula se rompe em fragmentos e o DNA misturado com o DNA viral se condensa e se quebra em vários pedaços de tamanho uniforme. O núcleo se desintegra e toda a célula desmorona. Sentiremos falta dela. Nosso próprio corpo absorve as partes, que a essa altura nada mais são que trechos de substâncias químicas e todo segue adiante. Semp´re acontece isso, a cada momento. Bem capaz de estar acontecendo em você neste exato instante.

O desafio do processo do dr. Xie, cujo trabalho é chefiado pelo dr. Yaakov Benenson, (e cuja pesquisa foi pesquisa foi publicada no periódico Science) é encontrar a sequência certa de microRNAs para que possa agir no maior número de tipos de câncer, já que não existe O câncer, e sim diversas formas como ele se apresenta. Separar células cancerosas das células saudáveis é muito mais complicado do que estas poucas palavras fazem parecer. Como  não há um único tipo de câncer, as células cancerosas se portam de forma totalmente diferente. Achar um fator unificador de modo a desenvolver uma técnica plurivalente é o maior dos problemas. Mas antes, muitas doenças eram incuráveis e sem perspectiva de erradicação, como a varíola.

A missão foi aceita, senhor Phelps. Não sabemos em que dará. Só o princípio promete o uso em computadores em nível molecular, capazes de processar informações e transformar em comportamento biológico. Se isso servirá para a cura do câncer ou melhorar o desempenho de nossos computadores para renderizar melhor os jogos, só o futuro dirá.

Este artigo se auto destruirá nos próximos 500 anos. 499:11:29:23:59:59…

5 comentários em “Cientistas pesquisam célula cancerosa com sistema de auto-destruição

  1. Bem, melhor perder células do que órgãos inteiros. Mas não sei até onde isso pode avançar. Mas aquele futuro que vemos nos livros ou filmes de ficção-científica está cada vez menos utópico. Ou nem mais.

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  2. “…mostrando como os desígnios do Projetista Inteligente mostram-se bons, justos e misericordiosos.”

    Pois é. Eu tenho uma doença auto-imune que ataca meu intestino (doença de crohn). Não é incrível que um “projetista” faça um sistema imunonógico “tão perfeito” que ataca o próprio corpo?

    Só para se ter idéia, eu tomo o mesmo remédio de alguém que fez transplante de algum órgão. Incrível não? rs.

    Eu adoro quando os crias dizem que deus fez nosso corpo perfeito. Eles são tão observadores não é mesmo? eheheheh

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