Telefones, marketing e a figura da autoridade

Dia 12 de setembro p.p. aconteceu o Keynote, onde a Apple apresentou seus incríveis e mágicos apetrechos. entre eles o tão aguardado iPhone 5, que segundo boatos iria ter visor holográfico, fritaria ovos e viria com toda a coleção musical do PSY, incluindo o seu maravilhoso (pelos motivos errados) Gangnam Style. Bem, o que vimos foi que ele veio com… um visor uma linha maior, mantendo sua fantástica interface gráfica de ícones e pastas, tão modernas quanto o Windows 95. Entretanto, não perderei meu tempo falando sobre celulares. Deixo isso pros blogs de Tecnologia de Informação (um site que fale sobre material de construção também é um "site de tecnologia", meus caros pedantes). A questão que eu quero abordar é um programa de TV que apresentou o novo iPhone para as pessoas dizerem o que acharam. Mas havia um certo detalhe escondido.

JImmy Kimmel tem um programa no canal ABC. Em seu programa, na tradição entrevista de rua, as pessoas eram paradas para dizerem o que achavam do recém-anunciado iPhone 5. As pessoas pegavam o aparelho e diziam o que estavam achando. Alguns o acharam bem mais leve, um que parecia o Hulk Hogan depois da tuberculose achou que estava mais pesado. Isso sem falar que todo mundo o achou bem mais rápido e fluido, com uma câmera bem melhor, mesmo comparando com seus próprios iPhones. O detalhe, meio que sem importância, é que o aparelho era um iPhone 4S.

Claramente, isso mostra o poder da mídia. Não que o aparelho seja ruim, não é disso que estamos tratando. Estamos falando do velho argumento de autoridade, onde basta uma figura mais respeitável e tendemos a segui-la (não por acaso, comercial de pasta de dente ou de remédios são apresentados por um pessoal vestido de branco que nem pipoqueiro). Eu já tinha falado sobre isso quando abordei o experimento de Milgram, que mostra o quanto nós somos éticos. Aliado a isso, tem o teste de Asch, explicado no artigo sobre as raízes do preconceito. Se você não se lembra, o teste de Asch mostra o bando de maria-com-as-outras que as pessoas são, quando se coloca duas ou mais pessoas respondendo a um teste (e errando propositalmente), fazendo com que uma última mude suas próprias respostas para ficar em conformidade com o grupo. O vídeo do experimento é este aqui:

Podemos ver isso em várias situações, como comícios, comerciais de TV etc. Profissionais de propaganda e marketing amam isso de paixão, desde que Ramsés II voltou da Batalha de Kadesh e "publicou" (aka, mandou entalhar um imenso mural), enaltecendo sua superioridade militar, vencendo a guerra contra os hititas. O detalhe é que ficou no zero a zero, mas os hititas também fizeram sua propaganda, dizendo como eles colocaram os egípcios para correr. Lemos resenhas, que muito dificilmente são isentas, já que nós somos frutos de nossas próprias opiniões.

Isso acarreta um efeito nas pessoas. Por exemplo, conheço uma que comprou um iPhone 4S, sem sequer saber o que são aplicativos, não irá usar mapa, nem GPS, e se conseguir cadastrar nomes na agenda interna, terá sido um feito incrível. Mas ela comprou o aparelho e o acha incrível, com o mesmo uso que daria a um Nokiazinho de 1,99, como eu o chamo. Os marketeiros enalteceram as vendas e dirão quanto o número de vendas justifica a qualidade do produto, numa bela falácia de apelo ao número (o número de apreciadores de Funk supera o de música clássica no Brasil. Logo, Funk é o melhor ritmo musical).

É gozadíssimo ver as pessoas terem um aparelho igual ao que lhes foi mostrado, mas acham que o "novo" é mais leve, mais rápido, melhor blábláblá. Se essas pessoas não conhecem nem o que têm no próprio bolso, fica complicado analisar seus julgamentos, não só com relação a aparelhos telefônicos, mas tudo. É como na eleição de 1989, onde eu ouvi de muita mulher que ia votar no Collor, pois ele era novo e bonito, e o resultado foi o que já conhecemos.

Sobre o telefone? Sei lá, cada um usa o que quiser. Eu ainda prefiro meu dynaTAC, que dá de 1000 a zero em qualquer celular de vocês, bando de nerds.

3 comentários em “Telefones, marketing e a figura da autoridade

  1. Eu fiquei ouvindo essa história de todos os meus amigos por quase 1 mês (carinhosamente chamo esses meus amigos de Mac Fags). Quando finalmente nasceu, vi a fuça e achei igual aos outros 4S, 3S, etc.

    Isso me fez pensar um pouco no Efeito Forer, no sentido de como é fácil enrolar as pessoas e como elas mesmas conseguem se iludir. Ou como disse o Millor: “Quando o primeiro espertalhão encontrou o primeiro imbecil, nasceu o primeiro deus”

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  2. (Quase)tudo que a Apple faz conta com um grau relativamente alta de resistência física e estabilidade de programação. A obsolencência programada e o espírito early adopter faz as vendas dispararem, marca do já mencionado MacFag/AppleFag.

    Soube que o pessoal do CERN tem feito experimentos no LHC colidindo vários Nokia 3310 e DynaTACs em busca de buracos negros. Em 21 de dezembro vai acontecer a colisão final, onde os tijol-celulares vão finalmente se partir e revelar do que deus é feito.

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