Medo: Quando o cérebro decide que é hora de fugir

William James, filósofo do final do século 19 e começo do século 20, uma vez disse que as pessoas não temem um urso quando o vêem, mas quando saem correndo dele.

Cem anos depois, um novo estudo de imageamento do cérebro prova que James poderia estar certo. Usando um jogo de vídeo game similar ao Pac-Man e imagens de ressonância magnética funcional (fMRI), os cientistas demonstraram que quando um estímulo provocador de medo (como um urso, por exemplo) é detectado à distância, o cérebro humano liga um circuito que analisa o nível de ameaça e maneiras de evitar o animal ou o perigo. Se o urso se aproximar – aumentando a ameaça –, outras regiões do cérebro, mais reativas, entram em ação, desencadeando uma resposta imediata de proteção, seja lutar, fugir ou ficar paralisado.

“Essa dualidade é evolucionariamente vantajosa, já que o sistema precisa estar pronto para avaliar e tomar decisões em relação a estímulos externos e chegar à conclusão de que se trata de uma ameaça ou não,” afirma Dean Mobbs, co-autor do estudo, do University College London. “Respostas rápidas”, ele completa, “também são importantes porque para os primeiros mamíferos, que eram menores e mais fracos que os répteis, uma reação rápida na forma de uma luta, fuga ou paralisação era e ainda é crucial para a sobrevivência do animal”. Nos humanos, anormalidades nessas funções podem levar à ansiedade e transtornos de pânico.

Mobbs e seus colegas relatam na revista Science que projetaram um vídeo-game que requer que 14 indivíduos movimentem peças do jogo em uma grade virtual para evitar um predador. Para aumentar o fator medo, os jogadores capturados pelos predadores poderiam receber uma série de três choques elétricos leves, um choque elétrico leve ou nenhum tipo de punição.

Ao realizar o fMRI dos participantes, os pesquisadores descobriram que, quando o predador estava longe, aumentava a atividade nas áreas do cérebro responsáveis por um processamento mais sofisticado, como o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC), uma seção do córtex (o principal computador do cérebro), localizado atrás das sobrancelhas. À medida que o predador se aproximava, a substância cinzenta periaquedutal (PAG, na sigla em inglês), localizada próxima ao tronco cerebral, entrava em ação; a PAG, que provoca a liberação da analgesia opióide, o analgésico interno do organismo, também está relacionada a reações instintivas como lutar ou fugir.

“Sob a ameaça de mais choques, observamos maior atividade na PAG, enquanto que a ameaça de menos choques aumentou a atividade no vmPFC”, afirma Mobbs. “Isso indica que quanto mais temido o estímulo é, mais usamos a PAG, enquanto que uma ameaça menor está sob controle do vmPFC”.

Em um editorial que acompanha o artigo, Stephen Maren, professor-associado de psicologia e neurociências na University of Michigan em Ann Arbor, escreveu que essa mudança da PAG para o vmPFC pode estar por trás de uma avaliação subjetiva de medo. “A ativação do córtex pré-frontral por ameaças distantes e imprevisíveis pode promover a ansiedade, enquanto que a ativação da PAG por ameaças próximas pode estimular o pânico”, diz. “Uma disfunção nesses circuitos, portanto, provavelmente pode dar origem a uma série de transtornos crônicos de ansiedade.”

Mobbs concorda que uma PAG superativa (e um vmPFC menos ativo) pode ter um papel em transtornos de pânico, enquanto que a relação contrária pode levar à ansiedade. “Isso poderia nos ajudar a compreender os sistemas que são anormais em pessoas com essas complicações. Este é o primeiro passo para ajudar esses pacientes,” explica.

Fonte: Scientific American Brasil

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