Excesso de CO2 causará tubarões banguelas daqui a uns anos

Tubarões são aquelas máquinas assassinas psicóticas que tocam o terror nos oceanos, matam tudo que tem pela frente, tocam bateria e exigem respeito. Aqueles maníacos oceânicos abala geral. O problema é que um dia você acorda e descobre que esses predadores implacáveis que há 400 milhões de anos cortam os mares como facas suíças com barbatanas estão ficando banguelas. Não metaforicamente, como um político em crise. Literalmente. Pois é exatamente isso que um grupo de cientistas alemães descobriu ao simular o futuro ácido dos nossos oceanos, numa pesquisa que parece saída de um filme B de terror marinho, mas que é terrivelmente real.

Os pesquisadores da Universidade Heinrich Heine pegaram dentes de tubarões-de-pontas-negras-do-recife (Carcharhinus melanopterus) – aqueles elegantes predadores de recifes que mostram quem manda mares tropicais – e os deixaram de molho por oito semanas numa água com pH 7,3. Para quem não fala químico, isso é o equivalente oceânico do que espera nossos mares daqui a cerca de 275 anos, quando o CO₂ que insistimos em despejar na atmosfera tiver transformado os oceanos numa versão light de ácido sulfúrico.

O resultado foi digno de um episódio de CSI marinho. Os dentes, essas obras-primas da engenharia evolutiva, começaram a se desintegrar como biscoitos molhados no café. A microscopia eletrônica revelou corrosão visível nas coroas, degradação das estruturas das raízes e perda dos detalhes das serrilhas.

Para entender a gravidade da situação, é preciso saber que os dentes de tubarão são basicamente tanques biológicos. Compostos principalmente por fluorapatita, eles evoluíram para ser praticamente indestrutíveis. São continuamente substituídos ao longo da vida do animal. Um único tubarão pode produzir mais de 30.000 dentes durante sua existência, numa demonstração de redundância que impressionaria até mesmo um engenheiro alemão.

O experimento, conduzido no aquário Sealife Oberhausen, utilizou 600 dentes coletados de forma minimamente invasiva. Os pesquisadores literalmente mergulharam para catar os dentes que os tubarões naturalmente perdiam, numa espécie de caça ao tesouro subaquática, mas com finalidade bem menos romântica.

Os resultados foram unânimes: nos dentes expostos ao pH ácido, a circunferência aumentou significativamente; não porque cresceram, mas porque suas bordas se tornaram irregulares devido à corrosão. É como se um escultor talentoso tivesse passado a obra para um aprendiz bêbado. As raízes, compostas por osteodentina porosa, mostraram 8,2% de corrosão, contra apenas 5,3% no grupo de controle. Para completar o desastre, surgiram rachaduras e buracos na base dos dentes, transformando essas máquinas de cortar em relíquias arqueológicas.

Claro, nada disso é novidade para quem não sabe um mínimo de Química, mas qualquer dentista vai te falar que isso é extremamente normal em meios ácidos, e é por isso que você deve usar filtro solar e escovar os dentes (ok, só este último). Isso porque evita a proliferação de bactérias que irão secretar substâncias ácidas e atacar os dentes formando aquilo que chamamos de “cárie”.

Mas aqui está o plot twist digno de Shyamalan: estudos anteriores sugeriam que os dentes de tubarão eram resistentes à acidificação oceânica. A diferença crucial é que eles estudaram animais vivos, onde processos fisiológicos como remineralização e tamponamento interno podem compensar os efeitos ácidos. A alemonzada, por outro lado, focaram nos efeitos puramente químicos, como se dissessem: “Muito bem, vamos ver o que acontece quando não há mais nada para salvar esses dentes do apocalipse ácido”.

A questão é que, na natureza, as raízes dos dentes não ficam protegidas por tecidos moles como acontece conosco, mamíferos privilegiados. Elas ficam expostas diretamente à água do mar, como soldados sem armadura numa batalha química. E quando essa água se torna mais ácida que um comentário de ex em rede social, as consequências são previsíveis.

A pesquisa foi publicada no periódico Frontiers in Marine Science

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