Testaram a eficácia de 64 remédios naturais pra depressão. Adivinhe o resultado

Se você já sentiu aquela vontade de sumir, mas sem orçamento pra largar tudo e ir viver criando cabras no interior da Nova Zelândia, talvez tenha considerado a rota mais acessível: passar na farmácia ou clicar num anúncio de Instagram que promete curar sua tristeza crônica com um comprimido de ervas e boas vibrações. Pois bem, a ciência resolveu dar uma fuçada nessa prateleira mística da esperança. Como sempre, separou o pólen da abobrinha.

Um time de pesquisadores com paciência de monge tibetano vasculhou quase 24 mil estudos, peneirou 1.367 deles e encontrou 209 testes clínicos de verdade (daqueles sérios, com placebo e tudo mais) sobre 64 produtos vendidos sem receita que prometem melhorar o humor. Sabe o que eles descobriram? Que a maioria desses produtinhos mágicos tem o mesmo impacto no seu cérebro que um abraço em uma almofada. Ou seja: placebo puro. Mas calma, tem exceções.

Os campeões de audiência são velhos conhecidos do povo natureba: ômega-3 (39 estudos), erva-de-São-João (38), probióticos (18), vitamina D (14) e o glamouroso açafrão (18), não aquele do saquinho do mercado, mas o nobre e genuíno Crocus sativus, caro feito tinta de impressora. A erva de São João e o açafrão se mostraram especialmente eficazes, em alguns casos tão bons quanto antidepressivos prescritos, o problema é o preço. Probióticos e vitamina D também ajudaram, mas o ômega-3… esse ficou em cima do muro, funcionando em uns estudos e em outros não. A Ciência chama isso de “resultados mistos”; eu chamo de “depende do humor do peixe”.

Agora, se você é do tipo que coleciona potinhos esotéricos no armário, vai gostar de saber que alguns produtos têm potencial, mas ainda estão naquela fase de “talvez sim, talvez não, vamos esperar o próximo estudo”. Nessa turma intermediária aparecem folato (ou ácido fólico), lavanda, zinco, triptofano, rhodiola, erva-cidreira, e uns exóticos como laranja amarga e lavanda persa (não confundir com o aromatizador de banheiro). Já modinhas como melatonina, magnésio, curcumina, canela e vitamina C deram resultados tão imprevisíveis quanto humor de segunda-feira.

Outros 41 produtos foram testados em apenas um estudo cada. Um só. Isso é o equivalente científico a perguntar “funciona?” pra sua tia do WhatsApp e basear a política pública nisso.

A boa notícia é que quase nenhum desses produtos causou efeitos colaterais graves. Mas, como sempre, o bom senso manda conversar com um profissional de saúde antes de misturar cápsulas fitoterápicas com antidepressivos, vinho ou desespero.

E o que falta na Ciência? Quase tudo. Só 69% dos estudos relataram direitinho os efeitos adversos. Pouquíssimos investigaram se tomar essas pílulas junto com terapia conversacional ajuda ou atrapalha. E apenas um único estudo se perguntou se o uso de ácido fólico economizaria grana no sistema de saúde. Spoiler: não economizou nada.

No fim das contas, o estudo jogou luz sobre o caos das prateleiras e perfis naturebas, mostrando que alguns produtos merecem mais pesquisa (como camomila, lavanda, erva-cidreira e echium) e outros, como ginseng, ginkgo biloba, flor de laranjeira, hortelã e flores de tília, continuam na categoria “me disseram que é bom”.

Em resumo: se a sua depressão for passageira e você quiser tentar algo natural, talvez tenha sorte com açafrão, probióticos ou um chazinho de lavanda com vitamina D no sol. Mas se for mais séria, não troque o psiquiatra por uma cápsula mágica da internet; porque, apesar do marketing zen, tristeza não se resolve só com pó de planta.

A pesquisa foi publicado no periódico Frontiers in Pharmacology.

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