
Você deve conhecer Odin, o deus barbudão caolho, pai de Thor que fica tentando resolver o monte de trapalhadas que o filho aprontou. É o deus máximo do panteão nórdico e o que se sabe sobre as suas origens não era muito claro, mas se tinha mais ou menos uma ideia de quando. O problema é que uma nova descoberta da Dinamarca, apelidada de bráctea Vindelev, desafiou a compreensão anterior da religião na Escandinávia pré-histórica tardia e no início da Escandinávia medieval.
O achado em questão trata-se da descoberta da mais antiga menção registrada ao deus Odin – geralmente conhecida de histórias muito posteriores da mitologia nórdica – empurrando a idade dessa divindade para cerca do século V, cerca de 150 anos das mais antigas menções ao Odin, o tipo de divindade… interessante.
O achado se deu em 2022, num sítio arqueológico na Jutlândia, na Dinamarca. Entre os objetos estava uma bracteata de estilo escandinavo. Bracteatas são medalhas de ouro planas, finas e usadas como uma joia sob a forma de pingentes; elas eram produzidas no norte da Europa predominantemente durante o período de migração da Idade do Ferro germânica. Normalmente, esses pingentes eram modelados aproveitando moedas e/ou medalhões romanos.

Mais de mil desses brácteos foram encontrados em toda a Europa. A maioria provavelmente foi feita no sul da Escandinávia e apresenta representações de animais e figuras humanas ou humanas.
A drª Lisbeth Imer é pesquisadora sênior do Museu Nacional da Dinamarca, especializada em runologia, epigrafia e alfabetização de tribos germânicas nos tempos da Alta Idade Média. Já Krister Vasshus e doutorando estudando línguas nórdicas em Språksamlingane e também trabalha no Museu Nacional da Dinamarca. Juntos eles estudam a bráctea Vindelev que é… curiosa, já que é particularmente grande e exibe uma cabeça humana (provavelmente masculina) e um cavalo galopante. A peça estava inscrita com runas. Os pesquisadores identificaram o nome Jaga, ou Jagaz, e a frase “homem de Odin”.
Imer e Vasshus argumentam que Jagaz era um rei e líder de culto de uma tribo escandinava do sul. No entanto, quando se trata de iconografia pré-histórica, os estudiosos podem ser um pouco obcecados por reis. Na realidade, não há informações diretas sobre quem é a figura. Ele poderia ser um guerreiro, um xamã, um curandeiro tudo isso ou nada disso. Simplesmente, não se sabe!
E quanto a Odin? Bem, Odin Pai de Todos (você deve ter aprendido isso vendo filme da Marvel) era mais que um deus poderosão (não que ele não fosse); ele era um mestre de seiðr. Seiðr era uma prática mágica e ritual que envolvia cantar, tocar tambores e ver o futuro ou falar com os mortos, e aprendeu o seiðr com a deusa Freyja.
Entretanto, o seiðr era associado a mulheres e porque seus componentes extáticos podem ter tido alusões sexuais, Odin chegou a ser visto como um deus não masculino. Isso levou a alguns estudiosos a argumentar que Odin não era sempre homem, mas seu gênero mudava conforme a necessidade, enquanto outros acadêmicos acham que isso é besteira e o Pai de Todos simplesmente queria ter um vasto conhecimento sobre tudo, o que fica evidente quando ele se enforcou, feriu-se com sua lança e jejuou de comida e bebida por nove dias e noites, a fim de descobrir o segredo das runas. Outro caso clássico do desejo por conhecimento de Odin sem medir consequências, ele chega perante o Poço de Mimir, sendo Mimir um ser sombrio cujo conhecimento de todas as coisas era praticamente incomparável entre os habitantes do cosmos. Mimir alcançou esse status em grande parte ao tirar sua água do poço, cujas águas transmitem esse conhecimento cósmico.
Quando Odin pediu a Mimir um copo da água, o guardião do poço exigiu que o buscador oferecesse um olho em troca. Odin arrancou um de seus olhos e o jogou no poço, ao que prontamente Mimir mergulha o seu chifre no poço e ofereceu uma bebida a Odin. Com isso, querer saber os segredos de seiðr com a deusa Freyja não parece algo a ver com gênero, e sim insaciável busca pelo Saber, o que, para Odin, é a fonte do verdadeiro poder.
Mas e quanto à bráctea Vindelev? Bem, o que sabemos sobre a origem das histórias dos deuses nórdicos é incerto, pois muito foi contaminado por meio de copistas e autores medievais que não via os povos nórdicos com bons olhos. Daí o mito que vikings usavam capacetes com chifres. Não usavam. Era pura alegoria para compará-los com o Diabo.
A bráctea Vindelev se soma a vários objetos que confirmam que as fontes escritas não são puramente invenções de autores cristãos na alta Escandinávia medieval. Pelo menos, não totalmente. Se o Odin da bráctea Vindelev é exatamente o mesmo personagem que o Odin das fontes medievais quase 1.000 anos depois é difícil determinar. Mas o nome tinha raízes profundas entre os escandinavos. A nova descoberta também coloca a divindade entre os povos germânicos que contribuíram para a queda do Império Romano do Ocidente.
Isso fornece pistas sobre penteados e ideais de corpo na época e apoia evidências de que o cabelo era uma parte especialmente importante e significativa do corpo.
Fonte: Vejlemuseerne

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