Um vinho velho, marcante com notas distintas e de 8 mil anos

Encher a fuça de álcool não é novidade alguma desde a antiguidade. Mas quando falo “Antiguidade”, eu falo Antiguidade MESMO! Eu até citaria os relatos bíblicos, mas eles são muito recentes (par fins históricos), já que a redação final do Velho Testamento (a Tanakh hebraica) ficou lá pelo século 6AEC. Pessoal já enchia a cara antes disso, apesar de muitos crentes dizerem que o vinho da Bíblia era praticamente suco de uva, sem álcool, enquanto Noé dançou pelado, totalmente bêbado, e as filhas de Lot encachaçaram o pai para conhecê-lo melhor, em termos bíblicos.

Mas qual e o mais antigo exemplar de vinho já encontrado?

As evidências arqueológicas mais antigas de vinho de uva e vinicultura datam do Neolítico, mais especificamente entre 6.000 e 5.800 AEC, mediante análise de materiais recém-escavados de dois locais na Geórgia, no sul do Cáucaso. O vinho foi fundamental para a civilização como a conhecemos no Ocidente. Foi usado como remédio, interação social, exemplo de produto de alto valor e fundamental para o comércio.

Quando os humanos começaram a colher uvas de propósito, a vinificação ganhou seus dois possíveis locais de origem. A vinificação pode ser rastreada há milhares de anos em sociedades antigas na China e no Oriente Médio. Acabou por se tornar a bebida alcoólica mais bebida no mundo, sendo o foco de cultos religiosos, farmacopeias, culinárias, economias e sociedade no antigo Oriente Próximo. Esta cultura do vinho posteriormente se espalhou pelo mundo. A vinicultura ilustra a engenhosidade humana no desenvolvimento de técnicas de horticultura e vinificação, como domesticação, propagação, seleção de características desejáveis, prensas para produção da incrível bebida que tanto ajudou a escrever a História dos acontecimentos.

Análises químicas de compostos orgânicos antigos absorvidos nos tecidos de cerâmica de locais na Geórgia na região do Sul do Cáucaso, trouxeram fascinantes informações arqueológicas e biomoleculares para vinho de uva e vinicultura daquela região.

Em 2017, pesquisadores encontraram resíduos de vinho em cacos de cerâmica de dois sítios arqueológicos ao sul da capital georgiana, Tbilisi, datados de 5980 AEC, o que não é de admirar num país que afirma ter mais de 500 variedades de uvas. O país, que se estende pelos vales férteis das montanhas do sul do Cáucaso, entre a Europa e o Oriente Médio, pode ter sido o lar dos primeiros humanos a conquistar a uva comum. Os oito jarros de cerâmica foram descobertos em duas aldeias neolíticas, chamadas Gadachrili Gora e Shulaveris Gora, a cerca de 50 km ao sul de Tbilisi. Por sinal, até hoje se usam jarras semelhantes chamadas “Qvevri”, na Geórgia. Mesmo porque, se sempre funcionou, por que ir para modernidades se podemos abraçar a tradição?

As descobertas trouxeram as primeiras evidências até agora de vinho feito da uva eurasiana, que é usada em quase todos os vinhos produzidos em todo o mundo. Os achados químicos são corroborados pela reconstrução climática e ambiental, juntamente com evidências arqueobotânicas, incluindo pólen de uva, amido e restos epidérmicos associados a um frasco de tipo e data semelhantes. As jarras de grande capacidade, algumas das primeiras cerâmicas feitas no Oriente Próximo, provavelmente serviam como recipientes combinados de fermentação, envelhecimento e serviço. Eles são o tipo de cerâmica mais numeroso em muitos locais que compõem a chamada “Cultura Shulaveri-Shomutepe” do período neolítico, que se estende até o oeste do Azerbaijão e norte da Armênia.

A manguaça nos ajuda a entender os Antigos, seu modo de vida e como eram as técnicas de preservação de bebidas. E não, ninguém quis tomar um ole, já que poderia dar ruim. Vai se saber o que tinha ali!

2 comentários em “Um vinho velho, marcante com notas distintas e de 8 mil anos

  1. Em algum ponto da trilogia ‘problema dos três corpos’ eles põe a mão num barril de vinho muito antigo, se lembro bem, o barril era revestido de cobre e foi preservado no fundo do mar.
    Um cidadão mandou o goró pra dentro e quase morre [só não morreu devidos aos seus poderes protagonisticos].

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