Hoje é ante-véspera de Natal. Isso me traz memórias. Memórias de coisas que não acontecerão de novo. Memórias que tiveram seu momento único. Aliás, cada dia é um evento único, algo a ser recordado. Algumas coisas ruins, algumas coisas boas. A recordação é inerente a nós. Animais também tem memórias, mas só seres humanos tem completo entendimento do que o que foi recordado significa.

Estava aqui olhando pela a minha janela.Eu gosto da minha janela, como já devem saber, posto que volta e meia eu falo dela. Sim, amo a minha janela! Minha janela é como um portal, uma tela hiperHD em que eu vejo o que se passa. E uma coisa que eu percebo é que as pessoas aos poucos deixam de se interessar pelas datas.

Antes as pessoas enchiam as sacadas dos prédios com luzinhas, festões, guirlandas etc. Nas casas, as varandas eram enfeitadas. Com o tempo, isso foi escasseando. Não é apenas por causa da pandemia, com a morte de milhares de pessoas, com muitos tendo perdido o ente querido e o interesse por comemorar diminuiu. Isso eu tenho visto ao longo dos anos. Cada vez mais as pessoas largaram mão de comemorar datas. Natal é capitalista, é coisa de deístas, é coisa de cultura eurocêntrica ou outras bobagens. Nossos pais comemoravam de um tudo e hoje só se quer o feriado para não ir trabalhar e só.

A verdade é que isso era um hábito de pessoas antigas e elas… bem, as pessoas morrem. Morrem e ninguém mais se interessa pelos hábitos de outrora. Estamos ficando sem tradições, sem costumes, sem cultura. Estamos caindo na irrelevância, na desmemoriada existência, e nem os vídeos no YouTube e tik toks da vida irão suprir isso. Aos poucos, as luzes de natal estão se apagando, no sentido real e metafórico. Isso é ruim. Não é nem questão que estamos substituindo uma tradição por outra. Ela simplesmente está se desvanecendo, sumindo, e nada está ocupando o lugar.

Caiu a noite, a capa escura da desesperança parece cobrir o mundo. Mas sempre terá alguém resistindo.