Mentiroso da um jeito de passar por bonzinho

O que mais vemos hoje é um fenômeno em que a pessoa se posta como mais moral e ética que outras. Ok, isso não é novidade. Pelo contrário, isso vem de longos séculos. Outra coisa que não é novidade é o conceito de “fanfic”, quando a pessoa inventa uma situação em que isso reforce suas qualidades positivas e/ou qualidades negativas do seu desafeto. Pense num caso que eu irei inventar, e qualquer semelhança é mera coincidência. Pense que você vai num banco para sacar uma soma de dinheiro. Por questões de segurança, o banco pede para averiguar. Aí, na hora de falar com as pessoas, você meio que inventa que o banco fechou tudo, chamou a polícia e você foi arrastado de lá. Aí vem a coisinha chata chamada “questionamento”; então, você muda a fala dizendo que você foi na delegacia. Também fala que rasgou seu documento de identificação, mas isso porque o agente policial mandou, já que você não estava com o mesmo penteado. E assim você vai mudando a história, de forma a ressaltar que os outros estão errados e você está certo.

(Lembrando que isso é uma história fictícia. Ninguém seria tão imbecil de inventar uma história sem pé nem cabeça dessas em redes sociais, de forma que concordem que esta pessoa é um mártir)

Pesquisadores resolveram estudar e descobriram uma coisa que todo mundo já sabia mas não com rigor científico): pessoal mente para tirar onda e saírem-se como as mais honestas do mercado.

O dr. Alex Shaw é professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago. Ele acha que todos nós somos ratinhos brancos numa caixa de loucura e quer saber que tipo de pulhas nós somos e o quanto mentimos para dizermos que somos melhores que o tosco que mora no 302.

Lex Lu… Shaw juntou seus companheiros e resolveram descobrir o quão mentirosas as pessoas são. Ok, não era bem isso que ele queria demonstrar, mesmo porque, ele nem é o autor principal do estudo, e sim a drª. Shoham Choshen-Hillel, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Você colocou o nome dele na frente por machismo!

Não, foi pelo plot twist, mas pense o que quiser. Posso continuar? Obrigado!

Shoham, Lex Lu… Shaw e os demais pesquisadores pegaram uma pá de gente e fizeram experimentos online e jogos interativos. O que descobriram era o que todo mundo já sabia: vagabundo mente a doidado! E o principal foco das mentiras é se posicionarem melhor que o populacho.

Nisso eu me lembro de um artigo traduzido pelo Eli Vieira falando sobre exibicionismo moral. Você sabe: “eu sou melhor que você por ser mais humilde e talz”. Leiam lá o texto.

Voltando para a pesquisa, os psicólogos viram que algumas pessoas têm a tendência de absorver custos, de forma a sair por cima da carne seca na empresa para a qual trabalha. Por exemplo, eu trabalhei num colégio que começou a fazer jogo duro com as impressões, já que sabemos muito bem que pessoal usa impressora de trabalho para imprimir trabalho de colégio pra filho, lista de material e até currículos para ele tentar vaga em uma outra empresa que pague melhor e seja mais displicente com as impressões.

A “recomendação” era que as coordenações diminuíssem a quantidade de impressões. Uma das coordenadoras apelou para um expediente maravilhoso. Mandava as suas professoras subordinadas com poucas quantidades de material para serem impresso em outros lugares do colégio. 20 páginas aqui, 15 ali, 25 acolá. E pessoal imprimia na camaradagem, como bons otários que eram, e, obviamente, o número de suas impressões subia, é claro! Na hora da reunião, ela chegava com a fuça mais cândida possível, e dizia que o setor dela era o que tinha a menor quantidade de impressões, para felicidade da direção, que censurava as outras coordenações para, não só não terem diminuído a quantidade de impressões como de fato aumentou!

Evil genius!

Em um experimento realizado pelos psi… visqui… pelos pesquisadores, foi solicitado a 115 advogados em Israel que imaginassem dar a um cliente uma estimativa de 60 a 90 horas faturáveis. Metade dos participantes foi informada de que realmente trabalhava 60 horas, enquanto a outra metade foi informada de que trabalhava 90. Os clientes não tinham como verificar as horas.

Em média, o grupo de 60 horas relatou trabalhar 62,5 horas, com 17% dos entrevistados inflando falsamente o tempo gasto. O grupo de 90 horas, no entanto, relatou uma média de 88 horas, com 18% dos entrevistados subestimando falsamente o tempo que trabalharam.

Eu creditaria isso ao primeiro time ser mais experiente na advocacia que o segundo time, já que estes últimos precisam fidelizar o cliente. Ou, sei lá, são de Humanas e não sabem fazer contas. Vai saber!

Em outros momentos, foi feito jogos e os resultados que muitas pessoas, para se posicionarem como mais éticas, referiam reduzir seus escores para se posicionarem como, digamos, “mais bonzinhos que os outros”. A explicação que o prêmio social por ser tido como melhor pessoa é mais recompensador do que o prêmio inexistente por ter ganho um jogo que efetivamente não se ganhava nada. Nem sempre, querer ganhar tudo é um prêmio. O jogo que a pessoa está fazendo é outro, e a disputa efetiva é apenas um caminho para um prêmio, em sua concepção, melhor em termos de retorno.

Claro, você está doidinho para saber mais, certo? A pesquisa foi publicada no periódico Journal of Experimental Psychology, podendo baixar o PDF com o artigo científico. Seja bonzinho você também e leia lá. Depois não esqueça da fanfic dizendo o quanto você é uma pessoa excelente.

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