O Brasil, lugar que ama a Pseudociência, já baixou normativa do Ministério da Saúde oferecendo nos hospitais e postos de saúde do SUS atendimento a vários tipos de pseudociência. Um deles é o apiterapia, que é o tratamento com abelhas e seus produtos, que nem sua avó, que tudo mete própolis na receita. Evidências científicas? Vamos ficar devendo, mas uma pesquisa veio trazer um lado… ruinzinho deste tratamento. Pessoas estão morrendo por causa dele.
O dr. Ricardo Madrigal-Burgaleta é pesquisador Hospital Universitário Ramón y Cajal em Madri, Espanha. Sua especialidade são alergias e ele tem Twitter. Que maravilha poder falar diretamente com pesquisadores via rede social, não é? Enquanto isso, você está aí repassando hashtag idiota e seguindo subcelebridade. Tsc tsc.
Madrigal-Burgaleta e seus colaboradores estudam os efeitos de tratamentos usando abelhas em alguns pacientes como forma de terapia alternativa. Bem, este tratamento não acabou nada bem para uma mulher espanhola de 55 anos. Ela faleceu após passar por uma terapia que seria digna da Idade Média: Apertar uma abelha n paciente para que esta dê uma ferroada e o veneno seja usado como o que alegam ser um medicamento.
A mulher (que teve a identidade mantida em sigilo) começou a se submeter a essa palhaçada merda inutilidade enganação… a este pseudotratamento por dois anos. Não foi registrado nenhuma melhora, mas ela estava lá, firme e forte, para se livrar de dores musculares e stress. Coisa que com medicação que preste teriam dado jeito. Ou quase. Stress tem muitos fatores, mas poucas pessoas querem mudar seu ritmo de vida, e se a abelhinha fofuxa estava ali, vamos a ela, certo?
Bem, as pessoas esquecem que envenenamento pode ser cumulativo, e foi o que aconteceu com ela, culminando numa reação alérgica muito séria.
Péra. Mas não era para o organismo ter adquirido resistência ao veneno.
Sim, e não. Não estamos falando de inoculação de vacinas, estamos falando de substâncias químicas tóxicas. O corpo tentará reagir sempre. E cada vez o sistema imunológico fica mais e mais forte, mediante a seleção natural. A alergia é quando o corpo perde o controle da administração do problema. Manda um avião A-10 Warthog e seu lindo canhão de 30 mm GAU-8/A Avenger para enfrentar dois pregos num fusca 68 que acabaram de roubar uma velhinha.
E isso é só o canhão.
O fusca pode até escapar (não vai) mas tudo em volta irá para as cucuias!
Uma reação alérgica séria é a mesma coisa. Não importa que o agente que será combatido é mínimo. O sistema imunológico foi selecionado para ser cada vez mais eficiente, eficiente até demais. O problema é que ele ataca a substância e as células junto.
Uma pesquisa de cientistas do Instituto Coreano de Medicina Oriental, em Daejeon, Coreia do Sul concluiu mediante um total de 145 estudos, incluindo 20 ensaios clínicos randomizados, 79 auditorias e estudos de coorte, 33 estudos de caso único e 13 séries de casos, que a frequência de pacientes que sofreram eventos adversos relacionados à imunoterapia com veneno foi de 28,87% nos estudos de auditoria. Comparado com a injeção salina normal, a acupuntura por veneno de abelha mostrou um risco relativo aumentado de 261% nos ensaios clínicos randomizados, que pode ser superestimada ou subestimada devido à má qualidade de relato dos estudos incluídos.
Vou repetir.
Tomando por base uma série de estudos, concluiu-se que uso de terapias com veneno de abelha aumentou o risco de ataques alérgicos em DUZENTOS E SESSENTA E UM POR CENTO!
Ah, mas e se parar a tempo?
E se não parar? Temos que levar em conta que não existe dose mínima geral, pois cada pessoa reage de uma forma. Abelhas são um dos animais que mais matam por ano (achou que era tubarão, hein?), e isso pela quantidade de pessoas que têm alergia a veneno de abelha.
Então, devemos ter medo aqui com esta prática do SUS?
Isso eu não sei. Se não tem nem aspirina nos postos, vai ser meio difícil arrumar abelhas, mel, própolis etc. É… acho que não pega nada, não. A única coisa que pode ser negativa é que ao invés de ter um tratamento que realmente resolva o problema do paciente, vive-se com alguma promessinha natureba. Afinal, se é natural, não pode prejudicar, não é?
Só não digam isso à família da senhora que morreu por causa de um bichinho criado por Deus, Nosso Senhor, num incrível e maravilhoso projeto inteligente.
O caso investigado foi publicado no periódico Journal of Investigational Allergology and Clinical Immunology cujo *.pdf você pode ler AQUI.