As pessoas veem o mundo das religiões hoje e não sabe que eles não caíram de para-quedas, nem apareceram por mágica. Foram séculos, digo, milênios de ideias que foram se desenvolvendo até chegarmos no que temos hoje. E – SURPRESAAA!!!!! – continuará mudando. Assim, eu não entendi por que as pessoas ficaram chocadas com o caso da pastora canadense que admitiu não acreditar mais em Deus e seus cultos meio que mudaram um pouquinho. Eu disse no título e repito: não vi nada demais.
Gretta Vosper é pastora da White Hill United Church. Pelos evangelhos, isso já está errado, pois…
1 Timóteo 2:12 – Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio.
Mas Gretta tinha permissão para ser pastora. Ela cuida dos paroquianos com palavras e reflexões. Ateus-de-fim-de-semana acham que isso é um absurdo. Eu não sou eles. Eu acho que pessoas têm necessidade de convívio social, então, elas se reúnem, e se a religião lhes dá conforto que necessitam, não serei eu a discordar. Meu problema com as religiões é controle de massa e interferência nas decisões do Estado. Porque um Estado não é somente formado por pessoas de uma única religião.
Devemos ter em mente alguns significados.
1) Ter uma religião não implica necessariamente acreditar em Deus.
2) Em nenhum momento na Bíblia o próprio Jesus diz ser Deus ou um deus (Deus, com letra maiúscula, é nome próprio. Com letra minúscula, é substantivo).
3) No início, havia uma miríade de “cristianismos”, os chamados Cristãos primitivos. Deles derivou-se uma vertente proto-ortodoxa, que dali veio o Cristianismo que seria a Igreja Católica, a Ortodoxa, protestantes, etc. Todos os demais antes dos proto-ortodoxos (que não se chamavam assim, óbvio) já era.
É possível alguém ser cristão e não acreditar em Deus? Olha, vamos colocar dessa forma. Algumas pessoas são budistas, nem por isso Buda é um deus. “O” Buda, refere-se a Sidarta Gautama, o príncipe indiano que resolveu virar hiponga e fundou uma nova linha filosófica, que se tornou uma religião. O buda, em minúsculo, é o espírito liberto da matéria, o espírito que alcançou a iluminação. Como já falei tantas vezes, qualquer um pode se tornar um buddah.
Da mesma forma, se pegarmos os textos evangélicos, poderemos ter um vislumbre muito bom para conduzir as pessoas, independente de achar que Jesus era Deus ou não. Mesmo porque, o Tao Te King e os escritos de Confúcio são lidos e pregados por várias pessoas, sem acharem que Lao Tsé ou Kung Fu Tsé eram deuses. Logo, se considerarmos os Evangelhos de Mateus e Marcos, teremos ensinamentos muito importantes, como em Mateus cap. 5 e 6, onde diz para você ser calmo, conciliador, de bom temperamento e que rezar em igrejas é hipocrisia. Capítulos que normalmente são ignorados pelos fanáticos.
Mas, peraí. Jesus meteu a porrada nos vendilhões do templo e secou figueiras.
Sim, e isso é interessante. O primeiro caso, segundo analistas e críticos textuais bíblicos (acadêmicos, e não o pastor analfabeto da esquina), muito provavelmente aconteceu mesmo.
O segundo caso, estima-se, é alegoria, ainda que canhestra. Uma figura divina não faz sentido agir assim, mas se pegarmos o pregador apocalipsista, sem poderes X-Men, faz total sentido.
Se pegarmos desde Sócrates, tivemos vários exemplos de filósofos, em que Jesus seria mais um; e um filósofo cínico nos moldes de Diógenes de Sinope (não confundir com Diógenes Laércio). Diógenes, que peitou Alexandre da Macedônia (relato apócrifo, mas não duvido. E existem registros de Alexandre levar algumas coisas na esportiva), andava com uma lanterna procurando “um homem”. Não que ele estivesse a fim de encontros sexuais. Era a forma dele dizer que queria encontrar um homem vivendo segundo a sua essência, uma forma alegórica de dizer que ele estava buscando o interior das pessoas, de forma que não fosse levado pelas aparências.
Jesus era um filósofo que mexeu com o status quo. Peitou os poderosos, mesmo sendo humilde e humilhando-os de forma velada. É um relato heróico de uma figura que se sabe pouco, por causa das lendas. Tirou-se as lendas e os relatos heroicos, temos a figura do filósofo; e se podemos extrair bons ensinamentos de Buda, Lao Tsé e Confúcio, podemos ter de Jesus também, pois cada um deles também deu alguma derrapada em seus escritos em termos de moralidade. Confúcio, por exemplo, disse que “se formos pagar o mal com o bem, com o que pagaremos o bem?”, enquanto Jesus falou para perdoar 70 vezes 7 e entrar em acordo com os adversários.
Nas homilias de Gretta, não é dito o nome de Deus, mas fala-se em amor, tolerância e compreensão. Não tem essa de Deus matando criancinhas, não tem Diabo nem “SAI CAPETA”. Há mensagens boas e bons conselhos, daqueles que você daria a m filho seu, e eu acho isso ótimo, mas não é o que a Igreja quer. Ela quer dor, perdição, ameaças, Deus jurando que vai ferrar você e sua família se você não passar a vida toda de joelhos implorando perdão sem saber direito o motivo.
Claro, é óbvio que ela perderá o cargo, mas sempre pode ter a sua própria igreja, certo? Garanto que seguidores não faltarão. Só espero que ela tenha lido o que aconteceu com os Cátaros.
PS. Por que ela se tornou ateia? Sério, isso importa? Importa mais do que as mensagens que ela transmite?
Fonte: BBC
Se o caboclo realmente acredita-se em piscina de lava eterna, ele não ia comprar Porsche com dinheiro de velhinhas crédulas.
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A história dos cátaros é bem interessante. Não para eles, é claro…
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