Polímeros sintéticos são uma maravilha tecnológica. As muitas aplicações dos plásticos moldaram e moldam o nosso mundo. Mas não existe almoço grátis. A longevidade dos plásticos é seu maior problema, acarretando em poluição. Centenas de milhões de toneladas de plásticos são jogadas foras e boa parte desse montante não são recicladas. Temos que dar um jeito de acabar com eles, e o melhor jeito é por meio de agentes decompositores, como bactérias, por exemplo.
A nova promessa para o combate ao alastramento dessas toneladas de plásticos no meio ambiente é o queridinho ser chamado Ideonella sakaiensis, um ser vivo lindinho que produz uma enzima que manda plásticos para o Céu dos Plásticos.
O Shosuke Yoshida é pesquisador do Instituto de Tecnologia de Kioto, Japão. Ele estuda como mandar o famigerado plástico PET (politereftalato de etileno) pra vala. Como usar solvente no mundo todo não seria visto com bons olhos, Yoshida-san resolveu usar bactérias, preferindo a I. sakaiensis. Esta produz uma enzima que permite decompor PET, o mesmo PET que pedagoga adora usar em projetinho tosco de escola, que fatalmente irá pro lixo, também.
Normalmente usa-se reaproveitamento e reciclagem para sumir com o plástico, e ele não some, apenas é trocado de lugar. Incineração é muito legal, mas mandar pra atmosfera alguns produtos tóxicos também não é lá algo que nós queremos, certo? Derretimento e remodelagem é ótimo, mas gasta-se energia, e isso não é legal, também, já que essa energia tem que vir de algum lugar, seja foros elétricos, seja por combustíveis fósseis. O negócio seria usar algo que já tem na Natureza, mas mandar tudo pro Sol é meio fora de cogitação. Restaram as bactérias.
A I. sakaiensis ama plástico. Dando um ambiente bem legal, ela destrói, acaba, aniquila, devora, o plástico completamente em algumas semanas. Claro, o “devorar” não significa que ela literalmente come. A bactéria apenas secreta uma enzima que, esta sim, destrói as estruturas químicas da macromolécula do PET, fazendo-o desaparecer, dando origem a outras substâncias de cadeias menores e mais facilmente degradadas pelo ambiente..

As amostras de plásticos foram coletadas do lixo no próprio meio-ambiente, em sedimentos, no solo, águas residuais etc, num um quintal de uma fábrica de reciclagem de garrafas PET, na cidade de Sakai, Osaka. Yoshida-san colocou seus samurais para trabalhar e coletaram 250 amostras de PET que estavam pelo local no total, e colocaram em contato com a bactéria feliz, devidamente acondicionada em tubos de ensaio com extrato de levedura, sulfato de amônio, uma solução-tampão fosfato (para manter o pH correto) e um pouco de alface e ovo, para manter o meio de cultura.
Após 15 dias, a I. sakaiensis tinha devorado toda a camada de 0,2mm de PET. Você acha pouco? mas estamos falando de um tubo de ensaio, e de um ser vivo que tem alta taxa de reprodução. Sói reta uma dúvida: O que se faz quando a reprodução dessa bactéria sair do controle? Não sei, ninguém sabe. O ideal, então, seria ter um sistema controlado, em que levaríamos os plásticos para lá e eles seriam o jantar de trocentas bacteriazinhas. Resultou que ainda teremos que depender dos métodos de coleta. Ajudou, mas não resolveu.
Em outras palavras, é um aliado a mais, mas o melhor mesmo seria reduzir o consumo de plástico, de preferência usando algo que é 100% reciclável e completamente reaproveitável: o vidro. Mais higiênico, mas mais trabalhoso. Ninguém desinfeta garrafa PET de refri. Joga fora e pronto. As garrafas precisam ser recolhidas, lavadas e desinfetadas. São pesadas e os floquinhos de neve vão se machucar cada vez que uma se quebrar.
É… pelo visto ainda estaremos usando PET por um bom tempo.
A pesquisa do dr. Yoshida foi publicada na Science. E sim, tem paywall. Lamento.

Enzimas normalmente são específicas. Amilase não ataca celulose. Por isso não podemos comer capim.
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