Vida de vassalo não é fácil. Enquanto vocês, dalits, ralam para conseguir algumas migalhas aqui e ali, xátrias como eu e o próprio Sidarta Gautama gozamos dos prazeres que a nossa casta fornece (esta sentença ficou esquisita). Assim como muito provavelmente não ascenderei ao trono hindu, por motivos mais do que óbvios, abelhas operárias morrem operárias, e o anseio de ascender socialmente e ser eleita rainha é totalmente nula,m mas isso não impedem que elas cheguem numa espécie de classe média abelhuda, onde podem desempenhar vários cargos numa colmeia.

No mundo animal não tem democracia. Deve ser por isso que funciona direito (ou quase). Uma abelha abestada jamais galgaria altos postos de comando, no máximo iriam dar ferroada a esmo, perdendo a bunda no processo. Abelhas operárias nascem para ser operárias e fim de papo. Caso a rinha morra, nenhuma das que estão lá pulará no trono e gritará "Le Stat C’est Moi" por dois motivos. Primeiro, abelhas são péssimas em francês. Segundo, nenhuma operária é promovida a nada. No máximo, alimentaram uma das larvas com geleia real, de forma que a larva já cresça como uma rainha, ganhe o tamanho de uma rainha e seja aquela que venha a todos governar, e na escuridão de uma colmeia aprisioná-los.

A drª Gro Andam é professora associada da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida. Seu grupo de pesquisa estuda abelhas melíferas e suas estruturas sociais, bem como a integração de fatores genéticos, fisiológicos e ambientais que a progressão do ritmo biológico adotada e alterada para dar origem a estilos de vida sociais dos indivíduos.

A pergunta que você está fazendo agora é "que diabos o André falou?". Basicamente, Amdam e sua equipe estuda como é a estrutura social das abelhas e o quanto é determinado pelo convívio e quanto é estabelecido num viés genético.

Abelhas não podem chegar ao ápice do poder, mas isso não implica que elas não possam ter uma derivação lateral de carreira, isto é, alcance algo como uma classe média. Algumas operárias passam a trabalhar na coleta de néctar, que irá alimentar a colmeia, ou pode trabalhar até como babás de larvas. Estas babás aspiram a postos mais altos e o mais alto que se pode chegar é exatamente bancar motoboy de flor, também chamadas de "abelhas forrageiras".

A pesquisa de Amdam demonstra que essa mudança de status é reversível, onde uma abelha forrageira pode voltar ao seu status anterior, de enfermeira, dependendo de vários fatores, como a falta de enfermeiros, por exemplo.

Quando os ajudantes de Amdam retiraram todas as abelhas enfermeiras de uma colmeia, depois que a trupe de forrageuras saiu para fazer seu trabalhinho, ao voltarem, 50% das forrageiras passaram a atuar como enfermeiras, demonstrando a necessidade supera classe social. Analisando essas "abelhas modificadas", os pesquisadores perceberam que cerca de 107 genes foram alterados durante essa inversão. A pesquisa foi publicada no periódico Nature Neuroscience.

A quetão principal nem é tanto o que as abelhas fazem ou deixam de fazer, e sim como e por que fazem e deixam de fazer da forma que fazem. A maioria dos genes analisados parecem estar envolvidos no controle de outros genes, onde uma expressão genética acarreta outra expressão (expressão é quando o gene se ativa e, bem, faz o que faz). É como se alguns genes fossem chefes de outros genes, acordando os miseráveis e colocando-os para trabalhar, mediante a necessidade.

Outra questão a ser analisada é que essa mudança de comportamento é muito rápida (questão de horas), então precisa-se entender como e o que está havendo, e se essa ativação de genes é ponto principal ou colateral do comportamento das abelhudas.