O ser humano é bem diferente dos outros animais. Não por causa da sua morfologia ou fisiologia. O que nos diferencia de outros animais é nosso comportamento. Seres humanos gostam de “aparecer”, de chamar a atenção, quando no mundo animal, quem se esconde está no lucro. Técnicas de mimetização e camuflagem garantem a sobrevivência de uma espécie, já que se aproximar de uma presa sorrateiramente promove um lauto jantar, se esconder deste tipo de visitante garante que se almoce no dia seguinte e não seja “O” jantar. Mas os seres humanos fazem de udo para se destacarem entre seus pares, e isso muitas vezes garante uma bela recompensa.
Renata Mariah está famosa pelas interwebs da vida; se bem que eu nem fazia ideia que ela existia até esta semana. Ela é garota de programa e até foi entrevistada pelo Fantástico. A onda agora é se mostrar pro pessoal via Internet, só que isso não é tão novidade assim, a não ser se você comprou seu PC do Milhão ontem e está roubando a conexão da casa do vizinho. Exibir-se por uma webcam não é nenhuma novidade por, pelo menos, uns 10 anos.
Eu me lembro quando comecei a usar a Internet: janeiro de 1998. Tinha um Pentium MMX 166 MHz, com 16 MB de RAM, um HD de 4 GB e outro de 1 GB (morram de inveja, losers, eu tinha DOIS discos rígidos) e um CD-ROM 8x. Comprei meu fax-modem US-Robotics por 200 reais e vim feliz da vida, instalei o miserável e a placa de som parou de funcionar. Lindo. Com muita dor de cabeça descobri sobre as malditas IRQs, jumpers e configurações herméticas que até mesmo Champolion falaria para eu desistir. Enfim, eu coloquei tudo para funcionar, provando que quando a gente é capaz de aprender Química, consegue aprender qualquer coisa.
Assim, eu contratei um provedor de acesso chamado Bridge Online (a empresa parece que existe, mas o site está jogado às moscas) e entrei no maravilhoso mundo da cultura internética. Tinha conta de e-mail, mas não tinha ninguém para mandar um e-mail. Orkut ainda não existia e o Google ainda rastejava. Nada de YouTube. Acessei o site do jornal O Globo. Show de bola. Procurei alguns textos sobre Química, e não achei nada que prestasse. Saco! Para que eu entrei na Internet mesmo? Ah, bem…
Como eu lia sobre Informática, antes da InfoExame se tornar Info e virar a versão nerd da Veja, eu li algo sobre uma dona chamada Jennifer Ringley. Segundo aquela reportagem, ela era saidinha e resolveu documentar (sem trocadilho) sua vida privada (ainda sem trocadilho). Ela instalou uma webcam e transmitia, para meu total espanto, imagens pela internet capturadas de tempos em tempos. Assim, como bom estudioso do comportamento humano, eu pensei muito e refleti sobre as implicações disso na minha vida. Assim, depois de 32 segundos meditando sobre a situação, concluí de forma bastante filosófica: Caraca, assim eu poderei vê-la pelada!
Por causa do fuso-horário, eu nunca conseguia examinar a garota em bons detalhes, apesar de conseguir vê-la uma vez. Não era muito bonita, como vocês podem ver aqui embaixo, mas é o mistério, a fascinação do proibido. É como espionar a vizinha trocando de roupa (neste quesito eu já tive maiores sucessos, principalmente quando estava na faculdade e olhava pela janela e conseguia ver o apartamento em frente. Tempos bons aqueles.).

Jennifer Ringley nasceu em 10 de agosto de 1976. Ela fez 34 aninhos na última terça-feira. Ela estreou sua JenniCam em 1996 e através de sua webcam sua vida passou pelo mundo. Ali, quando a câmera não ficava mostrando apenas sua cama vazia, ela aparecia comendo, bebendo suco, visitando sites, trocando de roupa, se masturbando ou transando com seu namorado. Ao redor do mundo, muitos acompanhavam a JenniCam. Vendo o potencial disso, ela começou a cobrar pelo acesso, e mesmo assim as pessoas acessavam. Se você quiser checar alguns screenshots da câmera dela, pode começar pelo site: http://web.archive.org/web/20000303084511/www.jennicam.org/gallery/101.jpg e basta variar a numeração da imagem para ver as outras, as quais não publicarei aqui, pois o Cet.net não é um site voyeur e muito menos pornográfico (e por isso ele não me deixou rico ainda).
Em 31 de dezembro de 2003, a política do Pay Pal, sistema de pagamentos via Internet, que proibia vincular seu uso com sites de conteúdo “adulto” (aka, “de sacanagem”) fez com que a JenniCam encerrasse as atividades. Imagino que a Jennifer teve que catar um outro emprego. De qualquer forma, ela não teve 15 minutos de fama. Teve 7 anos inteirinhos. Junto com o desejo de “aparecermos”, mais forte ainda é o de querer saber da vida dos outros. O voyeurismo, a fofoca, o disse-me-disse e o completo interesse pela vida de moças bem dotadas fisicamente nos faz acompanharmos, mesmo que por breves instantes ou por longos 7 anos, a vida alheia.
No caso de Renata Mariah, isso é uma lucrativa fonte de renda. Sendo garota de programa e, em última análise, uma comerciante, ela precisa de clientes. Assim, a mais velha das profissões precisa da segunda mais velha das profissões: propaganda. No Império Romano, as prostitutas ficavam perto dos templos da deusa Vênus, a Deusa do Amor, tal qual Afrodite dos gregos. Assim, as casas perto do templo de Vênus eram chamadas Casas Venéreas. O mais interessante, é que a mais antiga das profissões era regulamentada pelo governo, recolhia impostos e recebiam visitas de inspetores de saúde. Na porta de cada casa, tinha entalhada uma imagem com a, digamos, especialidade da “prima”.
Como propaganda é a alma do negócio, Renatinha resolveu mostrar o material… ou quase. A bem da verdade, ela não mostra nada. Eu sei porque fiz uma… cahan… pesquisa de campo. Enquanto os babacas ficavam pedindo para ela mostrar os seios, rebolar, tirar alcinha do vestido e mandar lambidinhas (segundo ela, mandar beijo é coisa da Xuxa), ela estava bela e formosa, retocando o batom enquanto via algum programa humorístico. A dúvida que me passou é se ela estava rindo do programa ou do que os imbecis aborrecentes escreviam naquela famoso português analfabético. A bem da verdade, ela quase não mostra nada. No máximo, a curvatura do corpo, usando vestidos ousados. Chegou inclusive a se mostrar tomando banho, mas sem maiores detalhes e, quando muito, mostrou os seios, mas aí a conexão caiu (mas não as partes anatômicas de muita gente). Dessa forma, ela faz propaganda do “material” e garante novos clientes, enquanto que a pobretada fica no 5 contra 1. E esse 1 não é a Renata.
O tempo passa, o tempo voa, mas o ser humano não muda. Assim que conseguirem transmissão holográfica em 3D, ainda teremos alguém para se mostrar e muitos querendo ver, com algo duro e firme nas mãos, pronto pro uso: o cartão de crédito.

Pareça que ela tá chupando um caroço de manga. :lol:
E falando de idiotice humana, esses dias eu parei pra pesquisar quanto tempo um vídeo pornô e um artigo científico levam pra serem visualizados.
Por enquanto que no artigo científico, depois de 5 horas, só tinha um comentário, no video pornô já tinha 27! E olha que ainda tinha gente agradecendo. … …
Sério, agradecendo?! WTF?
A nature apanhou feio! E provavelmente apanharia para os outros 370 milhões também.
Por isso tô pensando até em mudar meu blog de documentários pra pornografia. Aí, de 30 visualizações por documentário, eu teria 47 mil por vídeo pornô.
CurtirCurtir
Lembre-se que o acordo com o adsense impede que vc coloque conteúdo pr0n, bebidas, armas e coisas divertidas assim. Logo, não pense que vai ficar rico às custas do google, mas sempre há outros meios. ;)
CurtirCurtir
“O ser humano é bem diferente dos outros animais. Não por causa da sua morfologia ou fisiologia. O que nos diferencia de outros animais é nosso comportamento. Seres humanos gostam de “aparecer””
Mas e o pavão? Os pintassilgos, canários, uirapurus … (quase todos os pássaros)? E os golfinhos?
Na verdade todos animais gostam de aparecer, é claro que depende da situação.
No caso das aves, quase sempre, tudo é por causa de sexo. Mas os golfinhos parecem gostar de se exibir, mesmo.
No caso dos humanos, a diferença é que as mulheres é que são mais exibidas (pelo menos aparentemente).
Já ouvi certa vez de uma teoria na qual o cérebro seria o equivalente humano do rabo do pavão. Então, até mesmo demonstrações de conhecimento e domínio da linguagem seriam em princípio uma grande pavonada.
CurtirCurtir
Mas e o pavão? Os pintassilgos, canários, uirapurus … (quase todos os pássaros)? E os golfinhos?
Na verdade todos animais gostam de aparecer, é claro que depende da situação.
Não no caso supracitado. As adaptações adquiridas pelos animaius serviram a um propósito evolutivo: arrumar parceiros e gerar descendentes. Tal não é o motivo para mostrar o pinto nos chatroulette da vida.
No caso das aves, quase sempre, tudo é por causa de sexo. Mas os golfinhos parecem gostar de se exibir, mesmo.
Pra fazer sexo, ué.
No caso dos humanos, a diferença é que as mulheres é que são mais exibidas (pelo menos aparentemente).
Bem, há uma questão evolutiva aí também. Afinal, assim conseguem parceiros. Mas isso não explica os exibicionismos via Internet.
Já ouvi certa vez de uma teoria na qual o cérebro seria o equivalente humano do rabo do pavão. Então, até mesmo demonstrações de conhecimento e domínio da linguagem seriam em princípio uma grande pavonada.
Uma carteira com dezenas de cartões de crédito também. por isso, não. ;)
CurtirCurtir
@André,
Umas observações (acho que refutariam as suas respostas):
Os golfinhos seguem barcos e se exibem para os turistas.
Para as mulheres importa mais a qualidade do que quantidade.
O cérebro grande é o principal fator para uma carteira com dezenas de cartões.
E sobre o “propósito evolutivo”:
O fato do comportamento humano parecer muito complexo (muitas vezes absurdo) não necessariamente significa que em princípio ele não sirva a um “propósito” evolutivo. O processo evolutivo é “cego”, ele não colocou na cabeça dos homens boas maneiras de se cortejar uma fêmea e nem mesmo deu a eles muita noção de quando e onde os olhos das meninas estão buscando um parceiro. O “gene do exibicionismo” apenas diz: Seja bastante espalhafatoso.
O que tenho lido sobre as pesquisas sobre comportamento humano (consciência, livre arbítrio, julgamento) tem me dado a certeza de que ações humanas não diferem muito das dos animais. Existe uma doce ilusão de consciência e controle, mas muito é decido antes mesmo de se pensar.
Resumindo, a vontade de aparecer está ligada a algum impulso inato (provavelmente ligado à conquista de poder = muitos parceiros); mas, como é resultado de um processo evolutivo, nem sempre vai dá certo: Podemos terminar como mariposas rodando em torno da luz. Quem diria que estamos tentando voar em linha reta?
Mimetização e camuflagem também existem entre os humanos:
– Um dos maiores medos dos humanos é falar em público.
– Pessoas mais “humildes” dão no pé quando o assunto é ciência ou política, por exemplo.
Nestes casos, o medo de dar vexame na frente de muitas pessoas é a ameaça. E a lei natural para quando se está em desvantagem é fugir ou sumir.
No fim acho que comentei o parágrafo devido ao meu ceticismo quanto às filosofias que glorificam as ações humanas, colocando-as num patamar muito acima de outros fenômenos da natureza, inclusive do comportamento dos outros animais. Sei que até ser ridículo já dá um leve ar de superioridade para alguns humanos, afinal nenhum animal consegue ser tão nonsense quanto algumas pessoas?
CurtirCurtir
Umas observações (acho que refutariam as suas respostas):
Os golfinhos seguem barcos e se exibem para os turistas.
Associe isso com a vontade de aparecer numa webcam.
Para as mulheres importa mais a qualidade do que quantidade.
Do que?
O cérebro grande é o principal fator para uma carteira com dezenas de cartões.
ISso significa que toda playmate só sai com ganhadores do Prêmio Nobel?
O fato do comportamento humano parecer muito complexo (muitas vezes absurdo) não necessariamente significa que em princípio ele não sirva a um “propósito” evolutivo.
Chatroulette é um exemplo?
O processo evolutivo é “cego”, ele não colocou na cabeça dos homens boas maneiras de se cortejar uma fêmea e nem mesmo deu a eles muita noção de quando e onde os olhos das meninas estão buscando um parceiro. O “gene do exibicionismo” apenas diz: Seja bastante espalhafatoso.
O que não vemos. O que vemos são as fêmeas serem espalhafatosas.
O que tenho lido sobre as pesquisas sobre comportamento humano (consciência, livre arbítrio, julgamento) tem me dado a certeza de que ações humanas não diferem muito das dos animais.
Muito, não. Mas diferem.
Existe uma doce ilusão de consciência e controle, mas muito é decido antes mesmo de se pensar.
Se me permite um pouco de sarcasmo, eu cheguei à conclusão que muitos nem pensam.
– Um dos maiores medos dos humanos é falar em público.
– Pessoas mais “humildes” dão no pé quando o assunto é ciência ou política, por exemplo.
Nestes casos, o medo de dar vexame na frente de muitas pessoas é a ameaça. E a lei natural para quando se está em desvantagem é fugir ou sumir.
Acho que estamos fugindo do assunto.
No fim acho que comentei o parágrafo devido ao meu ceticismo quanto às filosofias que glorificam as ações humanas, colocando-as num patamar muito acima de outros fenômenos da natureza, inclusive do comportamento dos outros animais. Sei que até ser ridículo já dá um leve ar de superioridade para alguns humanos, afinal nenhum animal consegue ser tão nonsense quanto algumas pessoas?
HAHAHAHA concordo plenamente.
CurtirCurtir
Fui um dos ingênuos que entrou no chatroullette pra conversar…… nem preciso dizer a primeira coisa que vi. Incrível como as idéias boas são destruidas….
CurtirCurtir
Só uma correção:
“Na porta de cada casa, tinha entalha uma imagem com a, digamos, especialidade da “prima”.”
Acho que comeu um “da” no entalhada. =)
Por fim, bom post, lembrando que agora tá uma mania no Twitcam que fica umas meninas bestas se “exibindo” (nem é tanta exibição, ficam na intenção e um bando de idiota ficam suplicando para ver um pedaço de carne), teve até aquele caso do cara que ia desvirginar a amiga ao vivo. o.0
O blog está muito bom, fico dando F5 esperando novos posts. Continuem assim! (mentira, quero mais posts hehe )
Abs
CurtirCurtir