De boas intenções, o Inferno tá cheio… ou as igrejas (se bem que uma coisa não se distingue de outra). Um grupo de missionários batistas foi preso e julgado pela justiça do Haiti (sim, alguma coisa está funcionando lá). A acusação é que eles tentaram levar 33 crianças sem documentos para a vizinha República Dominicana. O grupo, de cinco homens e cinco mulheres, é ligado a uma igreja batista e levava as crianças, com idades variando entre 2 meses e 12 anos. Eu custo a ver algum ato de bondade, ainda mais sabendo que eles estavam fazendo na surdina. Segundo a porta-voz do grupo, os missionários não pagaram pelas crianças, que foram entregues pelo pastor Jean Sanbil, com a desculpa que isso seria para coibir o tráfico de crianças.

Acontece que a Justiça haitiana é um pouquinho melhor que a brasileira e não se convenceu deste monte de besteiras. Assim, os missionários estão vendo o sol nascer quadrado, achando muito provavelmente que isso é alguma provação divina. Amém, pessoal, pois esta é a sua SEXTA INSANA!

Os dez integrantes da referida igreja, baseada no estado americano do Idaho, foram presos no último domingo (31/01), na fronteira entre o Haiti e a República Dominicana, quando tentavam passar a fronteira com 33 crianças que, segundo eles, haviam ficado órfãs por conta do terremoto que devastou o país em 12 de janeiro. O doublê de Capitão Nascimento de lá acreditou tanto nessa história quanto em João e o Pé de Feijão. Segundo o ministro para Assuntos Sociais e Trabalho do Haiti, Yves Christallin, os americanos foram presos já perto da fronteira. “Isso é um roubo, não uma adoção”, afirmou, enfatizando que, para uma criança deixar o Haiti, é necessária uma autorização do Instituto do Bem-Estar Social. De acordo com Christallin, dois pastores, um no Haiti e outro na cidade de Atlanta, nos EUA, também estão envolvidos no caso.

O subprocurador Jean Ferge Joseph disse que o caso será agora encaminhado para um juiz de instrução, que “pode libertá-los, mas pode também continuar a detê-los para novos procedimentos”. Como em todo caso que diz respeito a prisões, os acusados estão jurando pelo sagrado coração de Jesus que eles só tinham boas intenções, e que eles estavam apenas tentando ajudar as crianças. Acontece que, segundo as autoridades haitianas (sim, isso ainda existe por lá. Ou dizem que existe) dizem que o grupo não tinha autorização para retirar as crianças do país, e aparentemente muitas delas não eram órfãs. A polícia haitiana disse que alguns pais admitiram ter entregado seus filhos aos missionários por acreditarem que as crianças teriam educação e uma vida melhor no exterior. É a velha fábula do burro e a cenoura presa numa vara.

Aqui no Brasil, alguns hipócritas estão com peninha das crianças, e se ofereceram para adotá-las. Em reportagem ao G1, o Juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho salientou que, no seu entender, “não é recomendável partir para uma adoção por um apelo emocional. É preciso deixar baixar o ímpeto e pensar muito bem porque adoção é coisa séria e é para o resto da vida”. Mas as pessoas têm estes arroubos de frescura, pois o que não falta são crianças abandonadas, na rua e largadas por aqui mesmo. Por que se preocupar com crianças haitianas? É como se fossem cães, pois todos adoram filhotinhos, mas quando o rotweiller cresce, e as pessoas vêem o trabalho (e custo) que eles dão, logo querem se livrar. Assim é com crianças assim. Como eu disse, se é por pena, dó, amor transbordante ou altruísmo, por que não uma criança de rua daqui do Brasil? Depois, ficam me xingando quando eu atesto o tipo de pessoas que elas são: hipócritas. Mas será apenas hipocrisia? Sabemos bem o valor que órgãos humanos têm no mercado negro. Também sabemos das imensas filas nos hospitais e centros de transplantes. Será que só eu sou o maldoso?

Sim, as autoridades do Haiti devem ficar de olho, pois fé de mais não cheira bem. E sabemos que muitos desses missionários não são flor que se cheire.