A Revolta do DRM: Esqueça 4, 8, 15, 16, 23, e 42

Os verdadeiros números do poder são 09-f9-11-02-9d-74-e3-5b-d8-41-56-c5-63-56-88-c0.

drmikm.gifEsta seqüência de números hexadecimais são supostamente usados para destravar e decriptografar conteúdo nos novíssimos HD DVDs e foram publicadas nesta segunda-feira em um blog. Os números em si não eram tão novidade assim, já que sozinhos ainda não fazem muita coisa. Mas quando a indústria cinematográfica obviamente partiu para o ataque ordenando a retirada do site do ar a notícia se espalhou e com ela os números, até chegar ao site de “notícias sociais” mais quente do momento, o Digg. Foi aí que a coisa começou a ficar interessante.

Se você não conhece, uma explicação rápida: o Digg usa o já martelado conceito de web 2.0 onde os usuários enviam notícias (acompanhadas de links) e os próprios usuários decidem quais notícias são quentes ou não para figurar na primeira página. Estar na primeira página do Digg hoje é o sonho de muita gente, garantia de muitas e muitas visitações ao seu site e, provavelmente, dinheiro com clicks nos seus banners. O site foi fundado pelo geekboy Kevin Rose, ex-apresentador do canal TechTV que, entre outras coisas, tem um vidcast — thebroken — sobre temas de legalidade discutível como por exemplo “como desbloquear seu XBox” ou “como fazer um bloqueador de celular”. Muito por causa disso a comunidade Digg é composta por tecnófilos da pesada. Mas além do thebroken Rose apresenta um outro vidcast semanal sobre as notícias quentes do Digg que tem como um dos patrocinadores o consórcio do HD DVD.

Cada notícia sobre os números era retirada do site, já que aparentemente o Digg também foi notificado legalmente pelos meganhas do HD DVD. Mais que isso: as contas de quem publicava a notícia eram banidas do site para todo o sempre.

Isso, claro, faz a turba online 2.0 salivar que nem lobo no pasto de ovelhas. Dizer que houve uma revolta é pegar leve. Durante o dia de ontem a homepage do Digg continha apenas notícias relacionadas, de uma forma ou de outra, aos números. Cada notícia retirada era substituída por outras 10 mais rápido do que gizmos molhados.

No fim do dia Don Rose mandou avisar: não vamos mais tirar as notícias do ar. Se é para sermos processados até a morte, que seja, pelo menos vamos morrer lutando. marcando o fim apenas da primeira temporada dessa série que até agora é bem mais agitada do que a outra série sobre números. (sem falar naquela outra)

A história toda tem várias morais a serem pensadas nesse mundinho que gira bem mais rápido do que girava 20 anos atrás.

Pode uma seqüência de 16 números aparentemente aleatórios ter copyright? Estes números sozinhos não fazem nada. Eles precisam ser colocados em um programa de descodificação para causarem o bem ou o mal. Mas uma chave sozinha também não faz nada, ela precisa de uma fechadura presa a uma porta para ter algum efeito. Esses números podem ser de alguém, que pode decidir quem pode e quem não pode carregá-los?

Algum veículo velha mídia vai publicar os números? Empresas têm muito a perder. Um jornal ou programa de TV pode levar um processo de bilhões na cabeça. Só que neste caso mais uma vez os interesses comerciais de um grupo de empresas estão transformando pessoas comuns em criminosos pelo simples fato de divulgar uma lista de 16 números.

Na péssima palestra do Paulo Henrique Amorim (um cara com o qual eu simpatizava até então) na conferência Web 2.0 ele disse literalmente: user content is loser content (quando perguntado espeficamente sobre sites com o Digg). Segundo ele os usuários são burros demais para saber o que é e o que não é notícia, precisam de caras gostosões como ele para decidir. E isso depois de gastar metade da palestra para dizer como ele odeia a Rede Globo. Será que o site dele vai publicar os números? Ou notícia de verdade é ficar dizendo como o Daniel Dantas é feio e bobo? Qual a diferença entre ele e a Globo?

Os números são a liberdade. Sim, obviamente eles também podem ser usados para piratear filmes (e serão). Mas destravar um filme criptografado significa dar a quem pagou pelo filme a escolha de onde e como ver seu filme. Sem os números (e o software para usá-los) não é possível ver um filme em um iPod ou em um computador rodando Linux. Eles só podem ser vistos em aparelhos selados, registrados, carimbados, avaliados e rotulado pelas empresas que fazem os discos. Se amanhã resolverem parar de fabricar estes aparelhos os (caros) discos com os filmes vão virar, sem os números, apoio de copo ou calço de mesa. Na visão da big media você precisa pagar para ver um filme na sala e pagar de novo para vê-lo no iPod e de novo…

Guarde aí os números e corra porque o trem da modernidade está acelerado e tem muita empresa caindo dos estribos. Leis, aquelas coisas inventadas lá na Grécia, parecem não estar conseguindo acompanhar. Será que a ordem da turba é quem vai prevalecer?

PS: Parece que a Wikipedia, a garota-propaganda da liberdade de expressão online, também quer fingir que os números não existem.

Veja também: A Revolta do DRM: Como a MPAA quer proibir um número

Um comentário em “A Revolta do DRM: Esqueça 4, 8, 15, 16, 23, e 42

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