Planeta dos Macacos versão elétrica

Eu não sei se as pessoas costumam fazer elucubrações sobre como será seu último dia, mas creio que na lista de maneiras improváveis de se morrer a opção “ser eletrocutado por um fio rompido por um macaco em cima de um templo lotado durante uma oferenda sagrada às 2h da manhã” não parece ser algo sequer cogitado. Mas, como sempre, a realidade na Índia decidiu ultrapassar todos os roteiros do Shyamalan com um toque de National Geographic e um final trágico.

Foi em Barabanki, no meu estado indiano favorito: Uttar Pradesh. Os queridos fiéis hindus, movidos pela fé e pela devoção durante o mês sagrado de Shravan, lotaram o Templo Ausaneshwar Mahadev. Ali, entre orações e promessas, eis que surge o novo Arauto do Apocalipse: um mamaco. Não, não estou falando que Hanman veio dar um rolé aqui na Terra, porque lá no seu reiuno celestial estava tedioso. Foi um legítimo representante da fauna que resolveu bancar o Tarzan e pular num fio elétrico de alta tensão. Resultado? O fio caiu sobre os galpões de lata e transformou o templo num triste experimento de condução elétrica em massa.

Ante este evento eletrizante, duas pessoas morreram, outras 19 ficaram chocadas e mais de 20 se machucaram na debandada causada pelo pânico; mesmo porque, veja bem, nada estabelece que serenidade espiritual seja alcançada com gente sendo eletrocutada às 2 da matina. E antes que alguém pense que foi um caso isolado, a cereja no sundae da tragédia: no mesmo dia, em Uttarakhand (o Uttar Pradesh do banco de reservas), outro templo viveu o seu próprio momento Woodstock satânico, com oito mortos e 30 feridos por causa de um boato de fio elétrico solto.

Não bastasse o problema real, agora temos os problemas imaginários também.

A explicação oficial, como sempre, é uma aula de competência governamental: O magistrado distrital explicou que o fio rompido passou corrente por três galpões de lata (!). Claro, porque o que poderia dar errado quando você combina uma multidão de fiéis, estruturas metálicas e fiação elétrica frouxa? Spoiler: o que aconteceu.

Yogi Adityanath, o primeiro-ministro de Uttar Pradesh, fez o que se espera nessas horas: ofereceu condolências e anunciou uma indenização de 500 mil rúpias por morto, algo como um pote de paçoquita. Um preço razoável por cabeça, se você ignorar completamente o fato de que elas estavam lá apenas tentando exercer sua fé e não esperavam que um símio hiperativo decidisse brincar de Black Lightning.

E antes que você pense que isso é um caso isolado, um lembrete: no início do ano, dezenas morreram na debandada do Maha Kumbh Mela. A tradição é bela, os números oficiais são mágicos, e a gestão de multidões… bem, é uma piada cruel. Talvez esteja na hora de um curso básico de segurança elétrica para templos. E, quem sabe, um código de conduta para os macacos locais. Porque do jeito que a coisa vai, o próximo passo é um babuíno presidindo o comitê de prevenção de acidentes.


Fonte: Independent

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