Alguns passarinhos bebem água que passarinho não bebe

E estamos na quinta-feira, que não é sexta, nem dia da maldade, mas sempre é dia de tomar ela, a mardita, o mé, a cana. A questão é as pessoas não são as únicas que se deliciam em tomar uns golinhos da água que passarinho não bebe. Quer dizer, alguns passarinhos podem não beber, mas outros sim, além de lêmures e macacos. Se bem que “beber” não seria o termo certo, mas o consumo de frutas e néctar naturalmente fermentados, e como vocês sabem (vocês sabem, né?) fermentação de açúcares por fungos produz álcoois, principalmente etanol.

Sim, eles comem para ficarem “alegrinhos”.

A ingestão moderada de etanol está associada a benefícios nutricionais, medicinais e cognitivos, mas muitos deles ainda são pouco estudados para espécies não humanas em contextos naturais. Isso desafia a crença atual de que os humanos modernos são os únicos vertebrados que consomem etanol de forma regular e única e levou os cientistas a reconsiderar o papel ecológico do etanol e o impacto evolutivo na natureza.

Anna Bowland terminou o bacharelado em Biologia da Conservação e Ecologia na Universidade de Exeter e atualmente é estagiária de luxo, digo, mestranda da drª Kimberley Hockings, que também assinou a pesquisa porque… bem, é quem tem o “Dr.” na frente do nome, certo?

Há observações de moscas da espécie Drosophila melanogaster preferem fermentar frutas como habitats larvais, onde os níveis de etanol podem exceder 4% e até 15% em ambientes antropogênicos. Existem relatos anedóticos de vespas se embriagando com frutas fermentadas e besouros Cetonia consumindo cerveja. Borboletas e besouros também foram observados tomando um mézinho.

Na pesquisa de menina Anna, alguns primatas exibiram alguns dos sinais mais pronunciados de consumo proposital de etanol entre os animais estudados. Por exemplo, chimpanzés foram vistos coletando seiva com concentrações detectáveis ​​de etanol de folhas usando “esponjas” improvisadas. Os primatas buscam ativamente essas fontes por causa de suas qualidades especiais; esse comportamento não é mera coincidência.

O etanol pode estimular os sistemas de endorfina e dopamina nesses animais, resultando em relaxamento e potenciais vantagens sociais, levando para o mundo natural o ditado “nunca fizeram amigos bebendo água gelada”.

Surpreendentemente, animais em ambientes controlados mostraram preferência por alimentos com maior teor de etanol. Por exemplo, o estudo descobriu que dietas com níveis de etanol variando de 2 a 5% de álcool por volume eram preferidas por aye-ayes cativos, ou lêmures de dedos longos. No Panamá, frutas selvagens, como frutas de palmeira maduras, podem conter até 10,2%, ilustrando como alguns animais podem ser atraídos por alimentos altamente fermentados naturalmente.

Ok, mas e a parte evolutiva? Isso tem alguma utilidade evolutivamente? De acordo com o estudo, vários animais adquiriram gradualmente a capacidade de metabolizar o etanol de forma eficaz. Os animais podem ter acesso a mais fontes de alimento que outras espécies evitam graças a essa adaptação. Ainda não se sabe, no entanto, se os animais estão ingerindo o etanol propositalmente por seus efeitos ou apenas pelas calorias que as frutas fermentadas fornecem.

Os resultados deste estudo, mostram que não é só com humanos que uma dosesinha alivia a tensão e os demais animais também curtem, e por causa de seus sistemas metabólicos desenvolvidos, esses animais podem estar consistentemente ingerindo álcool sem experimentar quaisquer efeitos negativos. Ou seja, muito dificilmente teremos um lêmure de ressaca.

Espero… tomara que ele tenha essa sorte. Eu bebo a isso. Tim Tim!

A pesquisa foi publicada no periódico Cell.

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