O cérebro é zuado. Ele odeia tarefas maçantes ou repetitivas. Dirigir é um belo exemplo. Eu, por exemplo, ODEIO dirigir. Eu xingo mentalmente quando tenho que conduzir Miss Daisy. Algumas pessoas amam, mas sem nem saber o porquê. Só que o cérebro mesmo detesta isso. Ele gosta de informações novas. Quando não as tem, ele faz uma dessas duas coisas: desliga parcial ou totalmente.
O cérebro desliga parcialmente no efeito chamado Hipnose da Estrada. É um estado mental em que uma pessoa está dirigindo, sai do ponto A e chega no ponto B e só então se toca que não se lembra do que aconteceu no meio do caminho (maiores detalhes neste artigo do Cardoso). Só que quando o tosco do cérebro não faz isso, ele desliga o disjuntor e ZZZZZzzzzzZZZZZZZZZZZzzzzzzz Dorme. Mas o que dispara isso?
Stephen Robinson é um jogador e técnico de futebol, mas ele não tem nada a ver com a história. Stephen Robinson é astronauta e já voou ao Espaço quatro vezes, mas ele também não tem nada a ver com isso. O Stephen Robinson que nos interessa é o chefe da cadeira de Psicologia da Universidade RMIT da Austrália. Ele resolveu estudar o que faz as pessoas sentirem sonolência enquanto dirigem, e o que ele descobriu tem a ver com as vibrações naturais dos carros, já que não existe motor que não faça vibrações.
De acordo com as pesquisas do professor Robinson (não o que se perde no Espaço igual a um idiota) as vibrações naturais dos carros afetam os níveis de concentração e alerta das pessoas em apenas 15 minutos depois que o motorista senta a bunda atrás do volante e sai com o possante.
As vibrações de baixa frequência alteram o estado de alerta das pessoas e isso as faz se sentirem com sono. Da mesma maneira, algumas pessoas adoram barulhinho de chuva ou mesmo o som do ventilador para dormir. São ruídos de baixa frequência que começam a afetar estados do cérebro.
Robinson (que não é o Cruzoé) e seus colaboradores testaram como 15 voluntários se saíam num simulador virtual que replica a experiência de dirigir em uma monótona estrada de duas pistas. O diferencial é que este simulador foi montado em uma plataforma que vibrava em diferentes frequências (não, não do jeito que você poderia supor ou desejar), montado num eixo que poderia se mexer em todas as direções, com sistemas hidráulicos controlados por computador. Cada cobaia, digo, voluntário foi testado duas vezes: uma com vibrações em baixas frequências (em torno de 4 a 7Hz) e uma vez sem vibração.
Ao observar a variabilidade da frequência cardíaca dos voluntários (que muito provavelmente era um grupo de estagiários que trocaram um lanche para participar do projeto), os pesquisadores conseguiram obter uma medida objetiva de como estavam sonolentos quando o teste de 60 minutos progredia. Dentro de 15 minutos após o início do teste de vibração, as cobaias estavam pela bola sete, caindo de sono. Em 30 minutos, a sonolência foi significativa, exigindo um esforço substancial para manter o estado de alerta e o desempenho cognitivo. A sonolência aumentou progressivamente durante o teste, chegando aos 60 minutos.
A pesquisa foi publicada no periódico Ergonomics. Ela é importante para entender como sentimos sono durante o trajeto e isso é muito importante quando entendemos que boa parte dos acidentes automobilísticos é devido a um cochilinho básico de um cérebro tosco que não pode sentir algo vibrando que já quer tirar uma soneca.