Comprovada evidência de memória episódica em animais

Dizem que o que nos diferencia de outros animais é que um age com civilidade enquanto os outros se pegam de porrada em jogo de futebol. Fora isso, seres humanos são tidos como os únicos capazes de reter memória de eventos passados e repassá-las mentalmente. Saca aquele filme que você passa dentro da sua cabeça com o que lhe aconteceu? Pois é, pelo visto, outros animais também conseguem fazer isso. Não, o seu tio Astolfo continua zureta, mas é fingimento. Ele se lembra muito bem que lhe deve dinheiro, aquele cachaceiro.

O dr. Jonathon Crystal é diretor do Programa de Neurociência do Departamento de Ciências Psicológicas e do Cérebro da Universidade de Indiana. Sua pesquisa visa o desenvolvimento de novos modelos animais para estudos de cognição, e seu grupo de trabalho chegou no que foi tido como a primeira evidência que animais não-humanos podem repassar mentalmente os eventos passados ??da memória. Claro, a meta é ajudar na pesquisa do tratamento da doença de Alzheimer; mas tudo começa por algum lugar, e esta pesquisa começou abordando a memória episódica e sua repetição.

Memória episódica é a capacidade de lembrar de certos eventos específicos. Suponha, por exemplo, que você não sabe onde deixou a sua carteira. Daí sempre alguém pergunta o que você estava fazendo na hora. O esquecido repassa mentalmente os passos desde quando se lembrava com certeza que tinha a carteira, até que chega a um ponto que a perde, ou seja, no lugar que recorda que viu a carteira pela última vez. Todo esse percurso é armazenado no cérebro de forma automática, e você nem percebe.

Até agora não se sabia se animais não-humanos tinham esta capacidade. Vamos aos testes? Vamos aos testes!

Para avaliar a capacidade dos animais de reter a memória episódica, o dr. Crystal estabeleceu alguns experimentos. Ele e seus colaboradores passaram quase um ano trabalhando com 13 ratos, treinando-os para memorizar uma lista de até 12 odores diferentes. Os ratos foram colocados dentro de uma “arena” com odores diferentes e recompensados ??quando identificaram o penúltimo odor ou o quarto ao último odor da lista.

Crystal e seu pessoal mudou o numeral de odores na lista fenomenal. (sim, e sei que vocês odeiam rimas despropositadas). Eles fizeram isso antes de cada teste para confirmar que os odores foram identificados com base em sua posição na lista, não apenas pelo odor, provando que os animais estavam confiando em sua capacidade de lembrar a lista inteira em ordem. Arenas com diferentes padrões foram usadas para comunicar aos ratos qual das duas opções era procurada.

A ratarada completou a tarefa com sucesso, com um percentual de acerto de 87%. Muito longe de ser apenas acaso, o resultado do teste mostrou uma forte evidência de que os animais estavam usando uma espécie de replay de sua memória episódica.

Experimentos adicionais confirmaram que as memórias dos ratos eram duradouras e resistentes à “interferência” de outras memórias, ambas características da memória episódica. Eles também realizaram testes que suprimiram temporariamente a atividade no hipocampo – o local da memória episódica – para confirmar que os ratos estavam usando essa parte do cérebro para realizar suas tarefas. Mas, claro, você acha pouco e quer videozinho, certo? Toma videzinho!

A pesquisa foi publicada no periódico Current Biology (aproveita que tá com conteudo aberto)

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