Uma caixa d’água de um bilhão de anos

Nosso mundo, como muitos outros mundos, não é estático. Ele não para para nada, nem para parar de se indignar com acordos ortográficos horríveis. Ainda assim, há sempre um recanto perdido, longe de nossas mãos pecaminosas, mantendo-se imutáveis, ou quase isso. Extremófilos mudaram muito pouco nesses longos milhões de anos, mas há algo bem mais antigo, mesmo sem ser espíritos do mal. Uma mina d’água que se acredita ter um bilhão de anos. Se você queria uma visão do passado sem ter um DeLorean, taí a sua chance.

O dr. Christopher Ballentine é professor de Geoquímica da Universidade de Manchester. Juntamente com sua equipe, Ballentine (não confunda com o whisky) estudam algumas fraturas nas rochas de uma mina com um depósito que data de cerca de 2,7 bilhões (sim, BILHÕES) de anos. Esta mina está situada na região de Timmins, cidade próxima da província de Ontário.

O principal interesse de um "buraco" no chão de mais de 2 km de profundidade é o que se pode encontrar lá. A saber: água, mas não é uma água qualquer, dessas que você encontra em qualquer pia de cozinha. É algo bem velho. Eu costumo brincar com meus alunos que a água que eles bebem hoje deu banho em muito dinossauro (a cara de nojo deles é excelente!), mas nesse caso da mina, não estamos falando de ciclo da água. Essa água realmente está lá há muito, muito tempo!


Sim, é uma foto sem graça, mas vai assim mesmo.

Segundo a pesquisa do dr. Ballentine, os fluidos presos em inclusões minerais podem ter bilhões de anos de idade e preservar um registro da química do fluido e do ambiente no momento da mineralização. Essa pesquisa foi publicada no periódico Nature. Abaixo, um vídeo gravado pela equipe de pesquisadores (na verdade são dois, mas juntei tudo numa coisa só):

Várias perfurações foram feitas para sondar a direção do minério para interceptar uma rede de fraturas contendo a água. Vários desses poços estão produzindo grandes quantidades de fluido. Foi montado um coletor dentro da abertura dos furos de prospecção para a coleta de líquido, onde a pressão da água é bem elevada. Uma válvula no fundo do dispositivo permite a amostragem do fluido vindo da fratura.

As análises isotópicas dissolvidas na água comprovam o grau de "velhice" do líquido. É uma foto de um momento da história do nosso planeta, mostrando como eram as condições químicas para o surgimento da vida, em escala líquida, mineral e atmosférica de um período bem distante no tempo.

4 comentários em “Uma caixa d’água de um bilhão de anos

  1. Vamos expor minha ignorância.

    Essa água aprisionada nas profundezas, nas inclusões minerais, não se move para lugar nenhum? Como deve ocorrer a oxigenação dela? Não deteriora-se?

    Se ela move-se para algum lugar, como é visto no vídeo, como pode ser uma água “mais antiga” que as demais encontradas na terra? Ela move-se em moto-contínuo, não tem perdas, é uma constante?

    Ajudem-me, pois ainda não consegui entender.

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      1. @André, Não sei explicar ainda mas não consigo enxergar fundamento nessa pesquisa. Já lí duas vezes o artigo que você indicou, da Nature. Estou sentindo-me um analfabeto científico.

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  2. Pode surtar e imaginar que é o caldo ralo da sopa primordial? :grin:

    Se a água está há bilhões de anos naquele lugar, imagina a composição dos gases suspensos. Enfim, muito bizarro. Esses cientistas devem estar se divertindo pra caramba :/

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