Dinheiro no chão, bênção na mão… Ou quase isso

Silas Malafaia é um ícone e um verdadeiro exemplo entre o meio religioso. Mesmo porque, um exemplo não precisa ser um bom exemplo e ele é uma figura unificadora entre ateus, agnósticos, céticos em geral e muitos religiosos (cristãos, muita das vezes), onde todos os supracitados possuem uma séria reserva quanto à idoneidade dele (aka, o acham um safado aproveitador, homofóbico e pilantra). Outro ponto em comum é que o acham certo ao falar das mazelas da IURD, o que acaba sendo um delicioso paradoxo, mas o mundo é assim mesmo.

Desta vez, Marac… Malafaia soltou mais um exemplo de sua doutrina, ao dizer, em meio ao seu “singelo” templo que quem não desse dinheiro estaria saindo dali sem bênção. É a versão gospel de “Dinheiro na mão, calcinha no chão”.

Chega a ser pateticamente hilário o cara fazer uma declaração dessas num templo maior que o número de reclamações da minha chefe e mais caro que os “lanchinhos” que minhas filhas fazem cada vez que vão no cinema (eu juro que levo uma cesta com feijoada completa na próxima vez).

O achaque, digo, solicitação ocorreu no antro de perdição na igreja Vitória em Cristo, em Araruama, município da Região dos Lagos, ao norte do estado do Rio de Janeiro. Lá, ele informou a bagatela pela qual a igreja foi erigida (coisa pouca: 600 mil reais, algo de valor pouco maior que o BMW dele) e soltou a oferta à lá Dom Corleone: “Quem não der oferta, tudo bem. Mas não sairá daqui abençoado.”

De acordo com o Boechat (sim, Isto É! A imprensa golpista mais uma vez em ação!), parte do público deixou o local sem dar tostão nenhum, mas tenho certeza que muitas Ovelhinhas do Senhor deram sua graninha e saíram com duas coisas: A Bênção Divina e aquilo que a Luzia achou na horta.

Já, de acordo com o Gospel² (não olhem pra mim, foi o Lealcy quem me informou a respeito), nos informa que tio Malafaia faz parte de uma minoria entre os evangélicos que possui curso superior, sendo formado em Psicologia mas “se distingue por um estilo direto e ríspido, com casca de abacaxi”. Realmente, não preciso comentar muito a respeito.

Agora, uma liçãozinha de análise textual bíblica para vocês.

O princípio no qual se apoia a cobrança de dízimos está em Malaquias 3:10:

Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes.

Resumindo, Javé, o Deus dos Exércitos, diz que se ele não der graça nenhuma, é preciso que alguém vá puxar o saco dele. Entretanto, prestem atenção à parte sublinhada: “para que haja mantimento na minha casa”. Os dízimos eram (e ainda são) uma doação entre os fiéis para ajudar a manter o templo. Ainda é assim, onde igrejas pobres praticamente caindo aos pedaços, precisa de ajuda de seus frequentadores. Até aí, nada demais, mas quando vemos a opulência obscena do Vaticano, nos dá um gosto amargo na boca ao ver que solicitam dinheiro dos católicos para ajudar nas obras assistenciais (sim, elas existem e eu não serei desonesto em fingir que não se faz papel social em muitas igrejas, independente da vertente religiosa); da mesma forma, é uma grande sacanagem ver uma igreja imensa, que custou uma fortuna (e inteiramente isenta de todos os impostos) EXIGIR que seus fiéis dêem dinheiro, ameaçando não dar benção nenhuma. Pelo que eu saiba, a bênção vem de Deus e eu não sabia que a megalomania do Malafaia chegava a tanto!

Agora, devemos levar em conta também outra coisa: a velha história do Templo da Lei x Tempo da Graça.

Por exemplo, quando questionamos os cristãos se eles seguem as 613 leis mosaicas, eles vêm com o papinho que estamos no Tempo da Graça, pois estamos (eles. Eu, não) vivendo a nova aliança feita com Jesus, firmada na Santa Ceia. Se as leis mosaicas foram abolidas (coisa que Jesus disse que NÃO VEIO fazer), então a chamada “lei do dizimo” deixa de fazer sentido também. Muito pelo contrário, seria malafaia a ajudar os mais necessitados, distribuindo parte de sua fortuna com os mais pobres (sim, podem rir).

A bem da verdade, várias vertentes cristãs discutem a este respeito, onde alguns concordam e outros discordam, evidenciando a minha tese que o Cristianismo é a religião mais zoneada de todas.

Chega a ser piada o sujeito que vende a palavra de deus por 900 reais desconhecê-la. Aliás, Deus recebe participação nos lucros? Nisso, me vem à mente duas frases:

O único cristão que existiu morreu na cruz.
— Nietzsche

Dízimo com quem andas e eu te direi quem és.
— Autor desconhecido

17 comentários em “Dinheiro no chão, bênção na mão… Ou quase isso

  1. “… é uma grande sacanagem ver uma igreja imensa, que custou uma fortuna (e inteiramente isenta de todos os impostos)”.
    Concordo plenamente! Acho, inclusive, que a CF/88 deveria ser emendada, para que denominações religiosas com patrimônio declarado superior a uma certa quantia (em dias atuais, R$ 25 mil julgo razoável) percam a imunidade tributária.
    Mundo bizarro…

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  2. Só espero que minha avó, que mora em Araruama e de vez em quando circula por algumas Ig. Evangélicas (nenhuma fixa, vai entender…), não tenha ido passear por lá nesse dia…

    Patético…

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  3. Malafaia falar mal da IURD é como o sujo falar mal do mal lavado. Antes sentia muita pena desse povo, mas após conversar com muitos e refletir percebi que ele [Malafaia] está sendo esperto. Os evangélicos precisam aprender a pensar, são muito inocentes.

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    1. @Nihil,

      A palavra “evangélicos” e a palavra “pensar” na mesma frase, torna a frase incoerente. :mrgreen:

      (antes que me xinguem, eu sei que há exceções ;-) “

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    2. @Nihil,
      “Os evangélicos precisam aprender a pensar, são muito inocentes”

      Não confunda inocência com falta de pensamento .

      Como diz meu avô: cada povo tem o governo que merece. Logo, podemos estender para: cada crente tem o pastor que merece.

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  4. “Outro ponto em comum é que o acham certo ao falar das mazelas da IURD, o que acaba sendo um delicioso paradoxo”
    Fica muito mais delicioso quando lembramos que o Silas Malafaia foi lá na Record em 1995 defender a IURD e agora ele desce o pau na mesma.

    E interessante que ele só defendeu a IURD por dinheiro. E esta informação não veio da imprensa golpista, mas de um outro líder religioso, que “trabalha” para o mesmo deus :mrgreen:

    Vale a pena ver de novo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Wp31RWiJopk

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  5. Divertido é ler os comentários na página do Boechat:

    Lógica:
    “Me admiro em observar a sua ignorância em afirmar algo que aconteceu em um culto de uma igreja evangélica, até aonde eu sei vc não testifica de nenhuma Fé então vc não tem o direito de argumentar sobre algo que não acredita e ou participa para testificar de algo que viu eu estava lá e não vi isso.”

    Perseguição:
    “Sem querer julgá-lo, é muito estranho que em sua coluna venha uma boa notícia a respeito dos católicos e, logo a seguir, uma notícia mentirosa para denegrir os evangélicos. Será que não é preconceito?”

    Fora as ofensas. Mas ainda existem pessoas razoáveis.

    “Sou evangélico.Masacho que deveria haver mais preocupação em obras de caridade do que em expansões milionárias de diversas denominações e templos luxuosos demais.O foco deveria estar voltado para a caridade,fraternidade e depois disso preocupar-se com a expansão da instituição.”

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  6. Num teve um de uma igreja que pediu Trízimo? 10 % do pai, 10% do filho,10% espírito de porco , acho que a Igreja católica então teria direito a como se diria , quadridízimo? por que tem a mãe também né…!!

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        1. @cesarcesc,
          Acho que não fui muito claro.
          A piada é a contagem “trízimo, quadrízimo…” como se “dízimo” tivesse algo a ver com o número 2: essa é forçada mesmo, por se basear em um equívoco.
          Quanto aos estelionatários pedirem 10, 20, 30, 100 ou 150%; o pilantra pede e o trouxa doa.
          Afinal houve até um desses malandros de templo que teve a cara-de-pau de pedir dinheiro para não perder o programa de TV; não há esperança.

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  7. Gente, essa notícia é bizarra. Digna de sexta-insana. O cara definitivamente está assumindo a personalidade megalomaníaca? Eu espero com todo o meu coração que essas pessoas que sairam sem dar dinheiro algum também não retornem nunca mais. Que haja um momento de consciência para elas. Mas ainda estou abismada, como pode ele exigir tal coisa? A fé agora é proporcional aos seus bens materiais e valor aquisitivo? O que eu acredito, o que eu penso não tem valores porque deixei de contribuir na igreja? AH VÁ! Fico com aquela máxima “o reino está em mim e ao meu redor, não em prédios”. Deveria ter sessão do filme na igreja do Malafaia u_u

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  8. Teve sim uma igreja que pediu trízimo, aquela do “pastor preto” (Waldemiro Santiago), como diz o chefe da IURD.
    O dinheiro que eu pago em imposto(s) ainda pode ir parar nas mãos dos evangélicos bem-intencionados que supostamente o usarão para “cura” da homossexualidade!
    É preciso reconhecer que esses antros denominados “igrejas” são, na verdade, empresas muito prósperas, e que nada justifica a imunidade tributária. Imposto para esses salafrários!!

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