Típicas Justificativas Criacionistas

ABI-01: Pasteur provou que só vida origina vida

Alegação:

Pasteur e outros cientistas provaram que não existe a geração espontânea e estabeleceram a “Lei da Biogênese”, ou seja, que somente vida gera vida.

Resposta:

Uma das vedetes dos criacionistas, esse argumento é um dos mais usados por eles, geralmente aliado à idéia errônea de que a Teoria da Evolução explica a Origem da Vida.

Mal sabem eles que Pasteur na verdade provou que não existe o criacionismo. Exatamente, Pasteur e outros provaram que vida, como ratos, larvas, e bactérias, jamais aparecem plenamente formadas. Isso é um tipo de criacionismo.

Não há nenhuma “Lei da Biogênese” que diz que a vida extremamente primitiva não possa se formar a partir de moléculas cada vez mais complexas.


ABI-02: A TE diz que tudo surgiu a partir do nada

Alegação:

O Milagre da Evolução

O “Fato” da Evolução ter acontecido é tão fantástico, tão especial que só aconteceu uma Única vez… Pq tudo o que acontece hj… é totalmente contrário ao que ela propõe… as leis da física, quimica, biologia… sugere coisas diferentes do ela diz… Tudo existe pro acaso… e do nada!!! Meu DEUS!!! Ela nunca se repetiu?

Nada hj surge do nada… se eu dissese que este PC(ou Mac), bem na tua frente surgiu numa explosão vc acreditaria? claro que não né? De contra ponto vc cre que TODA essa complexidade da natureza veio de uma “BIG-bang” explosão!!Que Fé!!! (sic sic sic sic)

Fonte da perola: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=184959&tid=22862975

Resposta:

Confusão extremamente comum. A evolução não trata de Origem da Vida, nem de Origem do Universo. É como dizer que para aprender como dirigir um carro é necessário saber como ele foi montado.

O mesmo ocorre com as teorias. Para a Teoria da Evolução, não importa como a vida surgiu, se foi Deus, se foi o acaso, se foram aliens, ou se foi o duende debaixo do sofá. O que importa é que, se existe vida, ela evolui!

A Teoria da Evolução não precisa saber como a vida surgiu, ou como o Universo surgiu. Ela se aplica enquanto existir vida.

E mesmo assim, a Teoria do Big Bang jamais disse que tudo surgiu do nada. Que diz isso é o criacionismo. O Big Bang diz que a energia do universo sempre existiu, o que é bem diferente.


ABI-03: Abiogênese é especulativa

Alegação:

A abiogênese é especulativa e não possui evidências. Já que nunca foi observada em laboratório, não é ciência.

Resposta:

Ainda há muita coisa sobre a abiogênese que não foi descoberta. É para isso que serve a ciência: desvendar o desconhecido. E especulações fazem parte do processo. Enquanto uma especulação pode ser testada, ela é científica.

Mesmo tendo muito a descobrir, a ciência já descobriu muita coisa, incluindo:

·    Pesquisas na formação de longas cadeias protéicas (Ferris et al. 1996; Orgel 1998; Rode et al. 1999);
·    Síntese de moléculas complexas no espaço (Kuzicheva and Gontareva 1999; Schueller 1998);
·    Síntese de compostos ferro-sulfúricos em estâncias hidrotermais (Cody et al. 2000; Russell and Hall 1997);
·    Síntese da uréia por Friedrich Wöhler, provando que o inorgânico pode formar o orgânico naturalmente;
·    Síntese do primeiro vírus em laboratório, verifique a fonte em: http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn4383

Alguém duvida que em breve será criada a primeira vida em laboratório?

Referências:

Cody, G. D. et al. 2000. Primordial carbonylated iron-sulfur compounds and the synthesis of pyruvate. Science 289: 1337-1340. See also Wächtershäuser, 2000 (below).

Ferris, J. P., A. R. Hill Jr., R. Liu and L. E. Orgel. 1996. Synthesis of long prebiotic oligomers on mineral surfaces. Nature 381: 59-61.

Kuzicheva, E. A. and N. B. Gontareva. 1999. The possibility of nucleotide abiogenetic synthesis in conditions of ‘KOSMOS-2044’ satellite space flight. Advances in Space Research 23(2): 393-396.

Orgel, L. E. 1998. Polymerization on the rocks: theoretical introduction. Origins of Life and Evolution of the Biosphere 28: 227-34.

Rode, B. M., H. L. Son and Y. Suwannachot. 1999. The combination of salt induced peptide formation reaction and clay catalysis: a way to higher peptides under primitive earth conditions. Origins of Life and Evolution of the Biosphere 29: 273-86.

Russell, M. J. and A. J. Hall. 1997. The emergence of life from iron monosulphide bubbles at a submarine hydrothermal redox and pH front. Journal of the Geological Society of London 154: 377-402. http://www.gla.ac.uk/Project/originoflife/html/2001/pdf_articles.htm

Schueller, Gretel. 1998. Stuff of life. New Scientist 159(2151) (12 Sep.): 31-35, http://www.newscientist.com/hottopics/astrobiology/stuffof.jsp


ABI-04: A probabilidade é muito pequena

Alegação:

As proteínas necessárias à vida são muito complexas. As chances de uma simples proteína se formar ao acaso é de 1 para 10¹¹³ (ou 10²³², ou 10³²³²¹, depende de quem inventou a frase).

Resposta:

Cálculos de probabilidade são totalmente irrelevantes tanto para a evolução quanto para a origem da vida, primeiro porque é assumido que as proteínas se formam ao acaso, enquanto a bioquímica não é regida pelo acaso. Ela é regida por reações químicas e complexas interações entre os produtos. Por exemplo, moléculas complexas foram encontradas inclusive no espaço. É até possível que os tijolos da vida tenham se originado lá (Spotts 2001).

Em segundo lugar, assume-se as células primordiais surgiram como as de hoje. Ninguém sabe como elas eram, mas sabe-se que deveriam ser muito mais simples que as que nós temos hoje. As de hoje são o resultado de bilhões de anos de evolução e seleção natural. As primordiais provavelmente eram muito mais simples.

E por último, não se leva em conta os trilhões de tentativas que podem ser feitos ao longo de bilhões de anos. Por exemplo, as chances de ganhar na mega sena é de uma em 50.063.860. Ou seja, há uma grande probabilidade de eu passar o resto da vida jogando, e jamais acertaria os 6 números premiados. Mesmo assim, apesar de acumular muito, sempre tem alguém que ganha. Isso acorre porque junto comigo outros milhões de brasileiros também estão jogando. Eventualmente, e inevitavelmente, alguém vai acertar.

Agora, imagine os zilhões de moléculas, em cada um dos milhões de planetas espalhados no universo, ao longo de bilhões de anos. Será assim tão improvável o surgimento da vida em algum, ou alguns, desses planetas?

Referências:

Spotts, Peter N. 2001. Raw materials for life may predate Earth’s formation. The Christian Science Monitor, Jan. 30, 2001. http://search.csmonitor.com/durable/2001/01/30/fp2s2-csm.shtml

Musgrave, Ian. 1998. Lies, damned lies, statistics, and probability of abiogenesis calculations. http://www.talkorigins.org/faqs/abioprob/abioprob.html

Stockwell, John. 2002. Borel’s Law and the origin of many creationist probability assertions. http://www.talkorigins.org/faqs/abioprob/borelfaq.html


ABI-05: DNA requer proteína. Proteína requer DNA

Alegação:

DNA precisa de certas proteínas para se replicar. E proteínas precisam de DNA para se formar. Nenhum dos dois poderia ter se formado sem que o outro já existisse.

Resposta:

DNA pode ter evoluído gradualmente de um replicador mais simples. RNA é um bom candidato, já que ele é capaz de catalisar sua própria duplicação (Jeffares et al. 1998; Leipe et al. 1999; Poole et al. 1998). O próprio RNA pode ter tido precursores ainda mais simples, como ácidos nucléicos peptídicos (Böhler et al. 1995). Uma desoxiribozima pode tanto catalisar sua própria replicação quanto fixar o RNA, ambos sem nenhuma enzima protéica (Levy and Ellington 2003).

Referências:

Böhler, C., P. E. Nielsen, and L. E. Orgel. 1995. Template switching between PNA and RNA oligonucleotides. Nature 376: 578-581. See also: Piccirilli, J. A., 1995. RNA seeks its maker. Nature 376: 548-549.

Jeffares, D. C., A. M. Poole and D. Penny. 1998. Relics from the RNA world. Journal of Molecular Evolution 46: 18-36.

Leipe, D. D., L. Aravind, and E. V. Koonin. 1999. Did DNA replication evolve twice independently? Nucleic Acids Research 27: 3389-3401.

Levy, Matthew and Andrew D. Ellington. 2003. Exponential growth by cross-catalytic cleavage of deoxyribozymogens. Proceedings of the National Academy of Science USA 100(11): 6416-6421.

Poole, A. M., D. C. Jeffares, and D. Penny. 1998. The path from the RNA world. Journal of Molecular Evolution 46: 1-17.


ABI-06: Não é mais formada nova vida hoje

Alegação:

A evolução ensina que energia, tal como relâmpagos ou calor, podem, ocasionalmente, criar nova vida. No entanto, toda a nossa indústria alimentícia se apóia no fato de que isso jamais pode ocorrer. Se examinarmos um vidro de pasta de amendoim, ele contém matéria, e está exposto à luz e calor. Mas nunca encontramos nova vida dentro, a não ser que uma forma de vida exterior a contamine.

Detalhes em: http://br.youtube.com/watch?v=FZFG5PKw504

Resposta:

A idéia de que deveríamos encontrar vida dentro de um vidro hermeticamente fechado de pasta de amendoim, sem que tivesse sido contaminada por outra vida externa, deveria ter como resposta nada além de gargalhadas.

Mas enfim, é uma dúvida que deve ser explicada…

Primeiramente, a velha confusão sobre a Evolução falar alguma coisa sobre Origem da Vida. Evolução não trata de origem da vida.

Mesmo assim, as condições hoje são diferentes das do passado em dois importantes aspectos:

1 – Quase não havia oxigênio molecular na atmosfera ou nos oceanos quando a vida apareceu pela primeira vez. Não sabemos ao certo como era a atmosfera naqueles tempos, mas sabemos que o oxigênio é altamente reativo e interferiria na formação de moléculas orgânicas complexas. Sabemos também que o oxigênio só apareceu em grandes quantidades após o surgimento da fotossíntese.

2 – Mais importante, não havia vida antes de surgir a primeira vida. A vida que existe hoje, principalmente microorganismos, consomem qualquer tipo de moléculas complexas antes que elas tenham chance de se tornar qualquer coisa parecida com vida.


ABI-07: Nem todos os aminoácidos foram formados

Alegação:

O experimento de Stanley Miller não foi capaz de produzir todos os aminoácidos de que as proteínas são feitas, e nenhum outro experimento foi capaz de produzi-los até hoje.

Resposta:

Os experimentos de Stanley Miller produziram treze dos vinte aminoácidos utilizados pelos seres vivos (Henahan 1996). Os outros aminoácidos podem ter sido formados por outros mecanismos. Podem ter inclusive terem sido formados no espaço e carregados até a Terra por meteoros (Pizzarello and Weber 2004).

O que importa é que os experimentos provaram que o inorgânico pode gerar o orgânico naturalmente.

Além do mais não se sabe quais ou quantos aminoácidos são necessários para gerar a vida primordial. Talvez nem mesmo os trezes produzidos fossem necessários. E, depois da vida ter surgido com aminoácidos simples, eles podem ter evoluído e produzido os outros mais complexos, que se tornaram essenciais para formas de vidas mais complexas.

Referências:

Henahan, Sean. 1996. From primordial soup to the prebiotic beach: An interview with exobiology pioneer, Dr. Stanley L. Miller. Fonte disponível neste link: http://www.accessexcellence.org/WN/NM/miller.html

Pizzarello, S. and A. L. Weber. 2004. Prebiotic amino acids as asymmetric catalysts. Science 303: 1151.


ABI-08: A atmosfera era inválida

Alegação:

Nos experimentos de Miller demonstrando a formação de moléculas orgânicas complexas a partir de simples componentes, a composição atmosférica usada era redutora, com pouco oxigênio. Porém a Terra primitiva provavelmente possuía uma atmosfera bem mais oxidante. Evidências mostram que a quantidade de oxigênio era grande.

Resposta:

Desde as experiências de Miller, tanto ele quanto outros cientistas experimentaram outras composições atmosféricas também (Chang et al. 1983; Miller 1987; Schlesinger and Miller 1983; Stribling and Miller 1987). Moléculas orgânicas complexas são formadas sob uma grande gama de condições pré-bióticas.

Além do mais, é possível que a vida tenha surgido bem longe da atmosfera, por exemplo, em profundos lençóis hidrotermais. Isso tornaria as condições atmosféricas totalmente irrelevantes.

E mesmo que a atmosfera primordial tivesse oxigênio, não seria nem um pouco como ela é hoje. As evidências disso são:

·    Formações em bandas de ferro são camadas de hematita (Fe2O3) e outros óxidos de ferro depositados nos oceanos entre 2,5 e 1,8 bilhões de anos atrás. A explicação é de que o oxigênio foi introduzido na atmosfera em quantidades significativas em torno de 2,5 bilhões de anos atrás, quando a fotossíntese evoluiu. Isso fez o ferro livre dissolvido nos oceanos se oxidar e precipitar. Por isso as bandas de ferro marcam a transição entre uma Terra primitiva com pouco oxigênio e muito ferro dissolvido na água, para outra com muito oxigênio e pouco ferro dissolvido.

·    Em rochas mais antigas que as formações em bandas de ferro, existe uranita e pirita como grãos, ou em sedimentos que foram carregados em leitos de rios e em praias. Esses minerais não são estáveis por longos períodos de tempo em presença de oxigênio.

·    “Leitos vermelhos”, que são sedimentos terrestres repletos de óxidos de ferro, precisam de oxigênio para se formarem. Não são encontradas tais formações antes de 2,3 bilhões de anos atrás, mas se tornam cada vez mais comuns após esse período.

·    Evidências mostram que a atmosfera primitiva era predominantemente redutora (Kasting 1993). Era provavelmente rica em hidrogênio, visto que o escape de hidrogênio para a atmosfera era na verdade bem inferior ao que se imaginava (Tian et al. 2005).

Ainda que em média a atmosfera fosse neutra, existiria ainda vários locais onde seria predominantemente redutora, como perto de locais com atividades vulcânicas (Delano 2001; Kasting 1993).

Referências:

Chang, S., D. DesMarais, R. Mack, S. L. Miller, and G. E. Strathearn. 1983. Prebiotic organic syntheses and the origin of life. In: Schopf, J. W., ed., Earth’s Earliest Biosphere: Its Origin and Evolution. Princeton, NJ: Princeton University Press, pp. 53-92.

Miller, S. L. 1987. Which organic compounds could have occurred on the prebiotic earth? Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology 52: 17-27.

Schlesinger, G. and S. L. Miller. 1983. Prebiotic synthesis in atmospheres containing CH4, CO, and CO2. I. Amino acids. Journal of Molecular Evolution 19: 376-382.

Stribling, R. and S. L. Miller. 1987. Energy yields for hydrogen cyanide and formaldehyde syntheses: the HCN and amino acid concentrations in the primitive ocean. Origins of Life and Evolution of the Biosphere 17: 261-273.

Tian, F., O. B. Toon, A. A. Pavlov and H. De Sterck. 2005. A hydrogen-rich early Earth atmosphere. Science 308: 1014-1017. See also: Chyba, C. F. 2005. Rethinking Earth’s early atmosphere. Science 308: 962-963.

Copley, Jon. 2001. The story of O. Nature 410: 862-864.

Farquhar, J., H. Bao and M. Thiemens. 2000. Atmospheric influence of earth’s earliest sulfur cycle. Science 289: 756-758.

Turner, G. 1981. The development of the atmosphere. In: The Evolving Earth, ed. L. R. M. Cocks. London: British Museum, 121-136.

Delano, J. W. 2001. Redox history of the Earth’s interior since ~3900 Ma: Implications for prebiotic molecules. Origins of Life and Evolution of the Biosphere 31: 311-341.

Kasting, J. F. 1993. Earth’s early atmosphere. Science 259: 920-926.

Thomas, Dave. 2005. New trouble for Wells’s “Icon of Anti-Evolution #1”. Fonte em: http://www.talkreason.org/articles/Wells.cfm


ABI-09: O acaso não pode criar vida

Alegação:

A vida é complexa demais para ter surgido ao acaso.

Resposta:

Primeiro, bioquímica não é acaso.

Coloque um osso dentro de um copo com ácido. Ele não será corroído ao acaso. Misture água e óleo dentro de uma garrafa e agite, a água e o óleo não vão se separar ao acaso.

São reações químicas, interações entre as moléculas, o que de maneira alguma é acaso.

E depois, não sabemos ao certo como a vida original era, mas sabemos que deveria ter sido muito mais simples do que vemos hoje. A vida de hoje é o resultado de bilhões de anos de evolução, mesmo uma ameba está muito mais adaptada do que qualquer vida primordial.