CIE-01: A evolução é apenas uma teoria
Alegação:
Perece(sic) que no final das contas todos nós concordaremos que a Teoria da evolução NUNCA passará de uma mera teoria.
Resposta:
Muitas vezes as pessoas confundem “Teoria Científica” com teoria popular, por puro desconhecimento dos termos. Uma teoria científica é o grau máximo de comprovação de uma hipótese.
Da mesma forma que a Teoria da Relatividade, a Teoria da Gravitação, e a Teoria Atômica, a Teoria da Evolução é cientificamente aceita por apresentar evidências científicas.
A diferença entre Teoria e Lei, é que a lei foi comprovada em sua totalidade, enquanto uma teoria ainda restam pontos a serem comprovados. É por esse motivo que as leis tendem a ser mais simples que as teorias.
E a Teoria da Evolução já foi comprovada, tanto em campo quanto em laboratório. É de grande utilidade em áreas como epidemiologia, controle de pragas, pesquisas medicinais, entre outros (Bull and Wichman 2001; Eisen and Wu 2002; Searls 2003).
Outra confusão é entre teoria e fato. Teoria não é fato, mas sim composta por fatos. Dizemos que a evolução é um fato, e que a teoria da evolução explica o fato.
Se “apenas uma teoria” fosse objeção a alguma coisa, criacionistas também deveriam ser “antigravitacionistas”, “antiatomistas” e “antirelativistas”.
E mesmo assim, até a teoria gravitacional apresenta grandes desafios (Milgrom 2002), mas mesmo assim o fenômeno da gravidade, assim como a evolução, continua sendo um fato.
Referências:
Bull, J. J. and H. A. Wichman. 2001. Applied evolution. Annual Review of Ecology and Systematics 32: 183-217.
Eisen, J. A. and M. Wu. 2002. Phylogenetic analysis and gene functional predictions: Phylogenomics in action. Theoretical Population Biology 61: 481-487.
Milgrom, Mordehai. 2002. Does dark matter really exist? Scientific American 287(2) (Aug.): 42-52.
Searls, D. 2003. Pharmacophylogenomics: Genes, evolution and drug targets. Nature Reviews Drug Discovery 2: 613-623.
Informações Complementares:
A TE É APENAS UMA TEORIA
O título foi só para chamar a atenção. O tópico é direcionado para aqueles que não estão com os estudos de metodologia científica em dia, aqui são dadas as definições de “teoria”, “hipótese”, “postulado”, etc.
HIPÓTESE
Uma hipótese é uma teoria provável mas não demonstrada, uma suposição admissível. Na matemática, é o conjunto de condições para poder iniciar uma demonstração. Surge no pensamento científico após a recolha de dados observados e na consequência da necessidade de explicação dos fenômenos associados a esses dados. É normalmente seguida de experimentação, que pode levar à verificação ou refutação da hipótese. Assim que comprovada, a hipótese passa a se chamar teoria, lei ou postulado.
TEORIA
Teoria científica é o nome dado ao sistema organizado de idéias e conceitos que explicam um conjunto de fenômenos (ou leis) que podem ser testados por meio de experiências reprodutíveis. Uma teoria científica é o maior grau de comprovação que uma hipótese pode alcançar, sendo considerada o conhecimento atual mais seguro sobre o tema que trata.
Existem basicamente três níveis para se definir a validade de uma afirmação dentro do conhecimento científico. O mais básico é a hipótese. Quando essa hipótese passa a ser suportada por fatos ainda sem ser confirmada por pesquisas independentes, passa a ser considerada uma tese (atualmente esse termo está em desuso, sendo uma etapa muitas vezes suprimida). Por último surge a teoria. Para se estabelecer como teoria as suas evidências devem ser comprovadas pelo crivo do Princípio da Falseabilidade postulado por Karl Popper.
Toda teoria científica deve ser formada usando a lógica, principalmente por processos de dedução (mas também por indução) baseando-se nas evidências que sustentam a sua afirmação. Para a validação de qualquer teoria, é absolutamente necessária a existência de um ou mais experimentos reprodutíveis que a sustente. A ausência de experimentos ou da sua reprodutibilidade (o que implicaria que o princípio da falseabilidade não foi satisfeito) impedem que qualquer hipótese possa alcançar o nível de teoria.
Equívocos sobre teorias científicas
Muitas vezes as pessoas se confundem sobre a definição de uma teoria. Nossos dicionários trazem o significado que corresponde a uma visão popular de uma teoria, o que seria equivalente a uma hipótese, ou definindo de uma forma ainda melhor, uma especulação. No entanto, na Ciência, uma hipótese não é o mesmo que teoria.
Há também uma confusão quando se quer analisar o grau de confiabilidade que uma teoria apresenta. Muitas pessoas acreditam que uma lei científica possuiria um grau maior de comprovação que uma teoria, mas não é isso que ocorre. Teorias e leis segundo a ciência são conceitos distintos, de natureza diferente, e logo tratam de coisas diferentes. Entre elas não existe nenhum tipo de hierarquia, sendo comum o fato de que muitas teorias de fato explicam leis – de certa forma, sendo as teorias mais abrangentes.
Outra confusão freqüente é o equívoco entre fato e teoria. TEORIA é o que explica o fato, e portanto uma teoria deve ser construída a partir de um fato. Não se pode afirmar que uma teoria é um fato. O que acontece é que muitas leis científicas possuem o mesmo nome que teorias. E muitos fatos são referências diretas a essa ou aquela teoria. Um bom exemplo é a teoria da gravidade. Existe também a lei da gravidade, e existe o fato comprovado da atração da matéria. São três coisas diferentes que muitas vezes podem ser interpretadas como uma só – e isso pode acontecer também em relação a várias outras teorias.
LEI
Lei, no sentido cientifico, é uma regra que descreve um fenômeno que ocorre com certa regularidade.
Ao contrário da lei no sentido jurídico, a lei científica não tem o poder de determinar que um fato qualquer deva ou não ocorrer. Ela apenas verifica a sua ocorrência, analisando as causas e os efeitos relacionados com o evento.
Como exemplos de leis científicas podem ser citadas a lei da oferta e da procura e as leis de Newton.
Uma lei natural é um enunciado de uma verdade científica, assim compreendida no âmbito de um paradigma científico.
Forçosamente, tal enunciado deve ser um reconhecimento, através do método científico, de um conhecimento “sugerido” ou por uma teoria física, ou ainda por um fato observado.
Um lei natural deve ter certas características de generalidade e abrangência, a fim de poder ter um aspecto prático. Por outro lado, deve também ser falseável, no sentido em possa ser refutada, tanto logica como experimentalmente. Do contrário, poderia ser enquadrada como religião, filosofia, arte ou qualquer outra atividade do gênero humano, mas não ciência.
É comum, embora não necessariamente, uma lei natural ser expressa em termos matemáticos. Quando tal acontece, assume a feição de uma fórmula matemática, envolvendo uma relação entre duas ou mais grandezas físicas.
POSTULADO
Na epistemologia, um axioma ou postulado é uma verdade auto-evidente., na qual outros conhecimentos se devem apoiar e a partir da qual outro conhecimento é construído. Contudo, nem todos os epistemologistas concordam que os axiomas, entendidos neste sentido, existam.
Fonte: http://tiosam.com/?q=Hip%C3%B3tese
CIE-02: A evolução nunca foi provada
Alegação:
A evolução não pode ser uma tese, porque uma tese deve ser provada, enquanto que a doutrina da evolução é não-provada e também não-palpável.
(http://www.scb.org.br/artigos/FC01-27a42.asp)
Resposta:
Nada no mundo real pode ser provado com absoluta certeza. Porém algo pode ser afirmado com alto grau de certeza. No caso da evolução, nós temos montanhas de dados e evidências provenientes de diversos campos de conhecimento. Extensivas evidências podem ser encontradas em diferentes formas, mostradas a seguir:
· Toda a vida na Terra mostra uma unidade nos mecanismo de replicação, hereditariedade, catálise e metabolismo.
· Ancestralidade comum prevê uma hierarquia organizada, ou em grupos dentro de grupos. Nós vemos tal arranjo em uma única, consistente e bem definida hierarquia, a saber, a chamada árvore da vida.
· Linhas diferentes de estudos dão os mesmos arranjos para a árvore da vida. Nós temos os mesmos resultados, não importando se olhamos morfologicamente, bioquimicamente ou geneticamente.
· Fósseis animais também se encaixam na árvore da vida. Temos vários exemplos de fósseis transicionais.
· Os fósseis aparecem em uma ordem cronológica, com as mudanças consistentes com ancestrais comuns após centenas de milhares de anos, e inconsistentes com criação repentina.
· Muitos organismos possuem órgãos vestigiais rudimentares, como olhos que não enxergam ou asas que não voam.
· Atavismos ocorrem de vez em quando. Um atavismo é o reaparecimento de uma característica presente em um ancestral distante, mas que foi perdido nos ancestrais recentes. Os atavismos são sempre consistentes com a história evolucionária do organismo.
· Ontogenia (embriologia e biologia do desenvolvimento) fornece informações sobre a história evolucionária do organismo. Por exemplo, embriões de baleias e de muitas cobras apresentam membros inferiores, que depois são reabsorvidos após o nascimento.
· A distribuição das espécies é consistente com sua história evolucionária. Por exemplo, marsupiais estão mais limitados à Austrália, e as exceções podem ser explicadas pela deriva continental. Ilhas remotas geralmente possuem espécies de animais que são altamente diversificados, mas próximos geneticamente. Tal consistência ainda permanece quando é incluída a distribuição por fósseis.
· A evolução prevê que novas estruturas são adaptadas de outras que já existiam, e, portanto similaridades estruturais refletem a história evolucionária dos organismos. Por exemplo, mãos humanas, asas de morcegos, patas de cavalos e nadadeiras de baleias, todos possuem estrutura óssea similar, apesar de funções completamente diferentes.
· O mesmo princípio vale a nível molecular. Humanos partilham uma vasta quantidade de seus genes (cerca de 70%) com moscas da fruta e com nematóides.
· Quando dois organismos evoluem a mesma função independentemente, surgem diferentes estruturas. Por exemplo, asas de pássaros, de morcegos, pterodátilos e de insetos. E muitos outros animais podem planar de várias outras formas. E, de novo, isso também ocorre em nível molecular.
· As limitações do desenvolvimento evolucionário algumas vezes levam a estruturas ineficazes em alguns aspectos. Por exemplo, a garganta e o sistema respiratório humano tornam impossível respirar e engolir ao mesmo tempo, sob o risco de sufocar.
· Estruturas ineficazes também aparecem a nível molecular. Por exemplo, grande parte do DNA não possui função.
· Alguns DNAs sem função, como transposons, pseudogenes e vírus endógenos, mostram um padrão de hereditariedade, mostrando ancestralidade comum.
· A especiação já foi observada.
· Os aspectos da evolução dia-a-dia – variabilidade genética, mudanças morfológicas, mudanças funcionais, e seleção natural – ocorrem em taxas consistentes com ancestrais em comum.
Ainda mais, as diferentes linhas de pesquisa são consistentes entre si, todas elas apontam para o mesmo fato. Por exemplo, evidências à partir da duplicação dos genes no genoma do levedo mostram que sua habilidade para fermentar glicose evoluiu cerca de oito milhões de anos atrás. Evidências fósseis mostram que frutas fermentáveis se tornaram comuns em torno do mesmo período de tempo. Outras evidências genéticas que mostram essa mudança são encontradas em plantas e insetos frutíferos, também no mesmo período (Benner et al. 2002).
As evidências são massivas e consistentes, e todas apontam para o mesmo fato consumado da evolução, incluindo ancestralidade comum, mudança com o tempo, e adaptação influenciada pela seleção natural. Seria presunção demais não aceitar esses fatos como evidência científica.
Referências:
Theobald, Douglas. 2004. 29+ Evidences for macroevolution: The scientific case for common descent.http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/
Colby, Chris. 1993. Evidence for evolution: An eclectic survey. http://www.talkorigins.org/faqs/evolution-research.html
Moran, Laurence. 1993. Evolution is a fact and a theory. http://www.talkorigins.org/faqs/evolution-fact.html
Benner, S. A., M. D. Caraco, J. M. Thomson and E. A. Gaucher. 2002. Planetary biology–paleontological, geological, and molecular histories of life. Science 296: 864-868.
Mercer, John M. and V. Louise Roth. 2003. The effects of Cenozoic global change on squirrel phylogeny. Science 299: 1568-1572.
CIE-03: A evolução não faz previsões
Alegação:
A verdadeira ciência precisa fazer previsões. A teoria da evolução apenas descreve o que ocorreu no passado, ela não é faz previsões.
Resposta:
A diferença entre o poder de previsão da TE e de outras ciências é de escala, não de tipo ou qualidade. Todas as teorias são simplificações, elas propositalmente desprezam tantas variáveis externas quanto possíveis. Mas essas variáveis afetam a previsão, com certeza. Por exemplo, você pode prever a órbita de um planeta, mas seus cálculos estarão sempre um pouco fora do real, porque é impossível considerar todos os efeitos de todos os pequenos corpos celestes do sistema solar. Já a evolução é mais sensível às condições iniciais e a fatores externos, então previsões específicas sobre como as mutações irão ocorrer e quais características vão sobreviver são impraticáveis. No entanto é possível fazer previsões gerais sobre o futuro, por exemplo, podemos prever que vírus e bactérias que provocam doenças um dia se tornarão resistentes a qualquer medicamento novo que exista hoje.
E tem mais, o poder de previsão da ciência vem de dizer coisas que não seríamos capazes de dizer sem ela. Não precisa ser necessariamente sobre o futuro. Por exemplo, podemos prever eclipses que ocorreram milhares de anos atrás. Evolução permite incontáveis previsões desse tipo.
E mesmo assim, a evolução foi a base para muitas previsões no futuro:
· Darwin predisse, baseado em homologias com primatas africanos, que os ancestrais humanos surgiram na África. Isso foi confirmado por evidências fósseis e evidências genéticas (Ingman et al. 2000).
· A teoria predisse que organismos em ambientes heterogêneos e que mudam bastante deveriam ter maiores taxas de mutações. Isso foi descoberto em casos de bactérias infectando pulmões de pacientes com fibrose cística crônica (Oliver et al. 2000).
· A relação predador-presa são alteradas em inúmeras formas, através da evolução da presa (Yoshida et al. 2003).
· Ernst Mayr predisse em 1954 que a especiação deveria ser acompanhada por grande crescimento evolutivo. Uma análise filogenética apoiou essa afirmação (Webster et al. 2003).
· Vários autores predisseram as características dos ancestrais dos craniados (animais com crânio). Após estudo detalhado, o fóssil Haikouellase “encaixa na descrição perfeitamente” (Mallatt and Chen 2003).
· A evolução predisse que diferentes tipos de características deveriam dar a mesma árvore filogenética. Isso foi confirmado uma miríade de vezes, com diferentes seqüências de proteínas, por Penny et al. (1982).
Com previsões como essas, a teoria da evolução pode e foi colocada em prática em vastas áreas de conhecimento, como descobrimento de novos remédios e controle de pragas.
Referências:
Wilkins, John. 1997. Evolution and philosophy: Predictions and explanations.http://www.talkorigins.org/faqs/evolphil/predict.html
Ingman, M., H. Kaessmann, S. Paaba and U. Gyllensten. 2000. Mitochondrial genome variation and the origin of modern humans. Nature 408: 708-713 . See also: Blair Hedges, S. 2000. A start for population genomics. Nature 408: 552-553. See also: Thomson, Jeremy, 2000 (7 Dec.). Humans did come out of Africa, says DNA. Nature Science Update, http://www.nature.com/nsu/001207/001207-8.html
Mallatt, J. and J.-Y. Chen. 2003. Fossil sister group of craniates: Predicted and found. Journal of Morphology 258(1): 1-31.
Marden, Jim, 2005. Flap those gills and fly: Comment (#46024: 10/29). http://pharyngula.org/index/weblog/comments/flap_those_gills_and_fly/P25/#c46024
Oliver, Antonio et al. 2000. High frequency of hypermutable Pseudomonas aeruginosa in cystic fibrosis lung infection. Science 288: 1251-1253. See also Rainey, P. B. and R. Moxon. 2000. When being hyper keeps you fit. Science 288: 1186-1187. See also: LeClerc, J. E. and T. A. Cebula. 2000. Pseudomonas survival strategies in cystic fibrosis (letter), 2000. Science 289: 391-392.
Penny, David, L. R. Foulds, and M. D. Hendy. 1982. Testing the theory of evolution by comparing phylogenetic trees constructed from five different protein sequences. Nature 297: 197-200.
Webster, Andrea J., Robert J. H. Payne, and Mark Pagel. 2003. Molecular phylogenies link rates of evolution and speciation. Science 301: 478.
Yoshida, T., L. E. Jones, S. P. Ellner, G. F. Fussmann and N. G. Hairston Jr. 2003. Rapid evolution drives ecological dynamics in a predator-prey system. Nature 424: 303-306.
CIE-04: A Evolução não pode ser falseada
Alegação:
A evolução não é falseável e, portanto não pode ser considerado ciência.
Resposta:
Existem várias formas de falsear a Teoria da Evolução. Se fossem encontrados, por exemplo:
· Um registro fóssil estático.
· Quimeras verdadeiras, seres que tivessem combinados diversas partes diferentes e de diversas linhagens, e que não pudessem ser explicados por transferência genética (cuja transferência ocorre por pequenas quantidades de DNA entre gerações), ou por simbiose (quando dois organismos se unem).
· Um mecanismo que impeça as mutações de acumularem.
· A observação de organismos sendo criados.
CIE-05: Ninguém estava lá para ver
Alegação:
Como se chega então a conclusão de que a “Teoria da Evolução” existiu e existe de fato, se não tinha ninguém para observar?
Resposta:
Eventos no passado deixam marcas no presente, e podemos olhar para a evidência hoje.
Se essa pergunta fosse válida para desacreditar a evolução, o que então ela faria com o cristianismo, já que toda a crença cristã é baseada em situações que ninguém aqui presenciou para saber se eram verdade ou não?
Isso sem falar que nenhum criminoso jamais iria para a cadeia a não ser se fosse pego em flagrante.
Uma pergunta que seria muito mais pertinente é “como você sabe disso?” Se a pessoa não responder a pergunta, pode assumir que ela não tem base para afirmar aquilo. Se ela responde subjetivamente, significa que aquela resposta não necessariamente vale para as outras pessoas. Mas se ela responde satisfatoriamente, com evidências científicas, você pode levar a alegação a sério.
CIE-06: A ciência sempre muda
Alegação:
Teorias científicas estão sempre mudando. Você não pode confiar no que os cientistas dizem, porque amanhã pode ser diferente.
Resposta:
A ciência investiga questões difíceis sobre o desconhecido. Cientistas são seres humanos, então é normal que algumas descobertas científicas não serão perfeitas. No entanto, a ciência trabalha investigando mais e mais, o que significa que os resultados são confirmados e reconfirmados com novas descobertas. A razão do porque a ciência muda é porque ela é corrigida. Esse processo de correção é que faz da ciência uma das áreas de maior sucesso no comportamento humano.
E quanto mais evidências se acumulam, mais e mais a ciência se aproxima da verdade. Teorias que suportaram várias décadas de estudo podem ter alguns ajustes em alguns detalhes, mas é muito difícil que elas sejam abandonadas completamente.
Essa é a grande beleza da ciência, ela se corrige e se fiscaliza. E por isso podemos confiar na ciência.
A ciência é humilde, ela aprende com os erros, admite que errou, e procura mudar para melhor. Diferente dos dogmas religiosos, que resistem à mudança, raramente admitem seus erros, e dificilmente aprendem com seus erros.
Interessante notar também que os que dizem que não se pode confiar na ciência não abrem mão de remédios, de cirurgias, de tecnologia, etc.
CIE-07: Cientistas são pressionados a aceitar a TE
Alegação:
Cientistas são pressionados a não desafiar o dogma pré-estabelecido da evolução.
Resposta:
A pressão que a ciência impõe não enfraquece a validade da evolução, muito pelo contrário. Cientistas seriam muito mais recompensados e ficariam muito mais famosos quando descobrem coisas novas, e não apoiando princípios que já são bem conhecidos. Se um cientista encontrasse alguma evidência que falseasse a evolução, ele ou ela ficariam mundialmente famosos e seu nome seria escrito nos livros de biologia para sempre.
Quem parece receber muita pressão são os criacionistas. Já que toda a sua visão de mundo é ameaçada por novas descobertas, eles são fortemente motivados a não admitir nada que contrarie suas idéias pré-estabelecidas.
Veja esse juramento que os criacionistas do site Answer in Genesis precisam aceitar:
“No apparent, perceived or claimed evidence in any field, including history and chronology, can be valid if it contradicts the Scriptural record.”
“Nenhuma evidência aparente, detectada ou alegada em qualquer campo, incluindo história e cronologia, pode ser válida se ela contradiz o relato nas escrituras.”
Fonte: Answer Genesis
Isso sim é pressão.
CIE-08: A Ciência é naturalista
Alegação:
A ciência é baseada no naturalismo, a improvável idéia de que a natureza é só o que existe.
(http://www.arn.org/docs/johnson/pjdogma1.htm)
Resposta:
O naturalismo que a ciência adota é o naturalismo metodológico. Ela não assume que a natureza é tudo o que existe, e sim que a natureza é a única medida padrão que temos. O sobrenatural não está eliminado a priori; se existirem resultados que possam ser estudados cientificamente, o sobrenatural será estudado cientificamente. Isso quase não acontece porque praticamente nunca se viu resultados sobrenaturais confiáveis.
E o naturalismo funciona. Adotando a metodologia naturalista, tivemos enormes avanços na indústria, medicina, agricultura, tecnologia, e muitos outros campos. Se ainda adotássemos o sobrenatural como método científico, provavelmente ainda estaríamos queimando bruxas para espantar a seca e passando sangue de pombo nas paredes para afastar maus espíritos.
E, além disso, disputas sobre explicações sobrenaturais tendem a acabar em violência. Cientistas podem resolver suas diferenças apresentando evidências. Porém qualquer um pode dar uma explicação sobrenatural sobre qualquer coisa, e se a vontade de estar certo for muito grande de ambos os lados, eles tendem a matar uns aos outros.
Referências:
Isaak, Mark. 2002. A philosophical premise of ‘naturalism’? http://www.talkdesign.org/faqs/naturalism.html
Astin, J. A., E. Harkness and E. Ernst. 2000. The efficacy of “distant healing”: a systematic review of randomized trials. Annals of Internal Medicine 132(11): 903-910.
Enright, J. T. 1999. Testing dowsing: The failure of the Munich experiments. Skeptical Inquirer 23(1): 39-46.
CIE-09: A Evolução é uma Teoria inútil
Alegação:
Quando examinamos o conceito de evolução do ponto de vista prático, é muito difícil encontrar alguma forma dessa linha de pensamento ter ajudado a resolver algum problema científico ou feito qualquer contribuição positiva para a sociedade.
(http://www.icr.org/index.php?module=articles&action=view&ID=252)
Resposta:
A Teoria Evolucionária é a moldura que une toda a biologia. Ela explica as similaridades e as diferenças entre organismos, fósseis, biogeografia, resistência a drogas, características peculiares em animais como a cauda do pavão, a virulência de parasitas, e muito mais. Sem a Teoria da Evolução talvez ainda fosse possível saber muito sobre biologia, mas não seria possível entendê-la.
Essa moldura proporcionada pela Evolução é extremamente útil no sentido prático. Primeiro, uma teoria unificada é mais fácil de compreender, porque os fatos se conectam e se unem, ao invés de serem vários pedaços isolados de conhecimento. Segundo, tendo uma teoria unificada torna possível ver lacunas ainda existentes, sugerindo novas e produtivas áreas de pesquisa.
A Teoria Evolucionária já foi colocada em uso prático em várias áreas (Futuyma 1995; Bull and Wichman 2001). Por exemplo:
· Bioinformática, uma indústria multimilionária, consistindo basicamente em comparações entre seqüências genéticas. Descendências com modificações é a mais básica das assunções.
· Doenças e pestes evoluem, criando resistência às drogas que usamos contra elas. A Teoria Evolucionária é usada no campo do controle de resistência na medicina e na agricultura, primordial para a nossa sobrevivência (Bull and Wichman 2001).
· A Teoria Evolucionária é usada na piscicultura, para aumento de produção (Conover and Munch, 2002).
· Seleção artificial tem sido usada desde a pré-história, mas se tornou muito mais eficiente com o uso aplicado da Teoria da Evolução
· O uso aplicado da evolução de parasitas na população humana pode ser usado para guiar a política de saúde pública (Galvani 2003).
· Reprodução sexual, baseado na evolução, foi usada para predizer quais condições o pássaro kakapo iria produzir mais espécies fêmeas, o que o salvou da completa extinção (Sutherland 2002).
A Teoria Evolucionária foi e tem sido usada, e tem potencial para muito mais em muitas outras áreas, desde avaliações de plantações geneticamente modificadas até psicologia humana. E mais aplicações com certeza virão.
Análise filogenética, que usa o princípio evolucionário de um ancestral comum, já provou ser útil em:
· Traçar genes cuja função é conhecida e comparando como eles se relacionam com genes desconhecidos, para prever as funções deles, que é o fundamento para descobrir novas drogas (Branca 2002; Eisen and Wu 2002; Searls 2003).
· Análises filogenéticas é o padrão para a epidemiologia, já que permite a identificação de centros de doenças, e algumas vezes observar passo a passo a transmissão de doenças. Por exemplo, uma análise filogenética confirmou que um dentista da Flórida estava infectando seus pacientes com o HIV, e que HIV-1 e HIV-2 foram transmitidos aos seres humanos de chimpanzés (Bull and Wichman 2001). Foi usada em 2002 para ajudar a prender um homem que intencionalmente infectava pessoas com HIV (Vogel 1998). O mesmo princípio pode ser usado para traçar a origem de armas biológicas.
· Análise filogenética também pode ser usada para traçar a diversidade de uma patologia, e selecionar qual a melhor vacina para uma região em particular (Gaschen et al. 2002).
· Ribotipagem é uma técnica para identificar um organismo ou pelo menos encontra seu parente mais próximo, mapeando seu RNA ribossômico dentro da árvore da vida. Pode ser usado quando não é possível fazer culturas desses organismos ou reconhecível por outros métodos. Ribotipagem foi usada para encontrar agentes infecciosos de doenças que afetam seres humanos, antes desconhecidos (Bull and Wichman 2001; Relman 1999).
Evolução direta permite a “criação” de moléculas e de grupos de moléculas para criar ou aperfeiçoar produtos, tais como:
· Enzimas (Arnold 2001)
· Pigmentos (Arnold 2001)
· Antibióticos
· Sabores
· Biopolímeros
· Bactérias capazes de decompor materiais tóxicos.
Os princípios evolucionários de seleção natural, variação e recombinação são a base de algoritmos genéticos, uma técnica de engenharia que possui muitas aplicações, incluindo engenharia aeroespacial, arquitetura, astrofísica, engenharia elétrica, finanças, geofísica, engenharia de materiais, robótica e sistemas de engenharia (Marczyk 2004).
E a boa ciência não requer que necessariamente tenha aplicação prática além de saber a verdade, e muitos fatos na ciência não tem muita aplicação prática além da curiosidade, como astronomia, geologia, paleontologia e história natural. Para muitas pessoas, o conhecimento sozinho já é suficiente.
Para finalizar, idéias criacionistas existem há milênios e até hoje não tiveram nenhuma contribuição prática para a sociedade.
Referências:
Arnold, Frances H. 2001. Combinatorial and computational challenges for biocatalyst design. Nature 409: 253-257.
Barbrook, Adrian C., Christopher J. Howe, Norman Blake, and Peter Robinson, 1998. The phylogeny of The Canterbury Tales. Nature 394: 839.
Benner, Steven A. 2001. Natural progression. Nature 409: 459.
Branca, Malorye. 2002. Sorting the microbes from the trees. Bio-IT Bulletin, Apr. 07. http://www.bio-itworld.com/news/040702_report186.html
Bull, J. J. and H. A. Wichman. 2001. Applied evolution. Annual Review of Ecology and Systematics 32: 183-217.
Cherry, J. R., and A. L. Fidantsef. 2003. Directed evolution of industrial enzymes: an update. Current Opinion in Biotechnology 14: 438-443.
Conover, D. O. and S. B. Munch. 2002. Sustaining fisheries yields over evolutionary time scales. Science 297: 94-96. See also pp. 31-32.
Cummings, C. A. and D. A. Relman. 2002. Microbial forensics– “cross-examining pathogens”. Science 296: 1976-1979.
Dunn, M., A. Terrill, G. Reesink, R. A. Foley and S. C. Levinson. 2005. Structural phylogenetics and the reconstruction of ancient language history. Science 309: 2072-2075. See also: Gray, Russell. 2005. Pushing the time barrier in the quest for language roots. Science 309: 2007-2008.
Eisen, J. and M. Wu. 2002. Phylogenetic analysis and gene functional predictions: Phylogenomics in action. Theoretical Population Biology 61: 481-487.
Futuyma, D. J. 1995. The uses of evolutionary biology. Science 267: 41-42.
Galvani, Alison P. 2003. Epidemiology meets evolutionary ecology. Trends in Ecology and Evolution 18(3): 132-139.
Gaschen, B. et al.. 2002. Diversity considerations in HIV-1 vaccine selection. Science 296: 2354-2360.
Howe, Christopher J. et al. 2001. Manuscript evolution. Trends in Genetics 17: 147-152.
Marczyk, Adam. 2004. Genetic algorithms and evolutionary computation. http://www.talkorigins.org/faqs/genalg/genalg.html
Nesse, Randolph M. and George C. Williams. 1994. Why We Get Sick. New York: Times Books.
Relman, David A. 1999. The search for unrecognized pathogens. Science 284: 1308-1310.
Searls, D., 2003. Pharmacophylogenomics: Genes, evolution and drug targets. Nature Reviews Drug Discovery 2: 613-623. http://www.nature.com/nature/view/030731.html
Sutherland, William J., 2002. Science, sex and the kakapo. Nature 419: 265-266.
Taylor, Sean V., Peter Kast, and Donald Hilvert. 2001. Investigating and engineering enzymes by genetic selection. Angewandte Chemie International Edition 40: 3310-3335.
Vogel, Gretchen. 1998. HIV strain analysis debuts in murder trial. Science 282: 851-852.