ANA-01: O olho não pode ter evoluído
Alegação:
O olho é complexo demais para ter evoluído.
Resposta:
Um dos argumentos mais usados pelos criacionistas, é dito aos quatro ventos que o olho é complexo demais para ter evoluído, muitas vezes citando inclusive Darwin fora de contexto (ver CON-01).
Olhos existem de todos os tipos, desde simples células fotosensíveis até olhos complexos e incrivelmente precisos como os das águias e falcões. Darwin reconheceu esse problema, porém ele próprio forneceu uma forma de como eles podem ter evoluído:
1) Células fotosensíveis simples, que permitam apenas diferenciar o claro do escuro. Essa diferença, embora pareça pequena, pode ser uma enorme vantagem em ambientes onde todos são cegos.
2) Células fotosensíveis pigmentadas se agregam, sem nervo.
3) Um nervo ótico cercado por células pigmentadas e coberto por pele translúcida.
4) As células formam uma pequena depressão. O animal já consegue focalizar precariamente possíveis predadores e/ou presas.
5) As células formam uma depressão mais profunda. Ele já consegue focalizar melhor.
6) A pele translúcida sobrepõe a depressão, tomando a forma de lente.
7) Músculos permitem que as lentes se ajustem.
Todos esses passos são viáveis, porque todos eles existem animais hoje em dia. Os incrementos entre esses passos podem ser divididos em incrementos ainda menores. A seleção natural deveria sempre favorecer is incrementos, por menores que eles sejam.
Como os olhos não fossilizam bem, nós não sabemos ao certo qual o caminho exato o desenvolvimento do olho seguiu, mas certamente não podemos dizer que esse caminho não existe.
Podemos ver as evidências do desenvolvimento dos olhos dos vertebrados por anatomia comparada e pela genética. Os genes do ??-cristalino dos vertebrados, que codifica diversas proteínas cruciais para as lentes, são muito similares com o ??-cristalino do Ciona. O Ciona é um urocordato, um parente distante dos vertebrados. O ??-cristalino do Ciona é expressado no seu otólito, uma célula pigmentada irmã das células fotosensíveis. A origem das lentes parece estar baseada na co-interação das células preexistentes em no sistema anterior sem lentes.
Esse é apenas um argumento baseado em incredulidade pessoal. Só porque uma pessoa não acredita que algo funcione, não significa que não funciona.
Referências:
Lindsay, Don, 1998. How long would the fish eye take to evolve? http://www.don-lindsay-archive.org/creation/eye_time.html
Darwin, C., 1872. The Origin of Species, 1st Edition. Senate, London, chpt. 6,http://www.talkorigins.org/faqs/origin/chapter6.html
Nilsson, D.-E. and S. Pelger, 1994. A pessimistic estimate of the time required for an eye to evolve. Proceedings of the Royal Society of London, Biological Sciences, 256: 53-58.
Shimeld, Sebastian M. et al. 2005. Urochordate ??-crystallin and the evolutionary origin of the vertebrate eye lens. Current Biology 15: 1684-1689.
Dawkins, Richard, 1996. Climbing Mount Improbable, New York: W.W. Norton, chpt. 5.
Land, M. F. and D.-E. Nilsson, 2002. Animal Eyes. Oxford University Press.
Fernald, Russell D. 2006. Casting a genetic light on the evolution of eyes. Science 313: 1914-1918.
E o youtube está repleto de vídeos que explicam a evolução do olho.
E até do prof. Richard Dawkins, numa palestra extraodinária
ANA-02: O ouvido não pode ter evoluído
Alegação:
O ouvido é complexo demais para ter evoluído.
Resposta:
Não é necessária muita complexidade para o ouvido evoluir. Basta um nervo conectado a algo que possa vibrar. Insetos desenvolveram “ouvidos” em pelo menos onze partes diferentes do corpo, desde antenas ate as patas (Hoy and Robert 1996). Até seres humanos podem detectar freqüências pelo tato, não pelos ouvidos.
Esse é apenas um argumento baseado em incredulidade pessoal. Só porque uma pessoa não acredita que algo funcione, não significa que não funciona.
Referências:
Hoy, R. R. and D. Robert. 1996. Tympanal hearing in insects. Annual Review of Entomology 41: 433-450.
ANA-03: O cérebro não pode ter evoluído
Alegação:
O cérebro é complexo demais para ter evoluído.
Resposta:
Cérebros existem em diferentes tipos e tamanhos. O caramujo do mar possui apenas 20.000 neurônios em todo o seu sistema nervoso. Celenterados possuem um sistema nervoso ainda mais simples, consistindo apenas de uma rede nervosa, sem cérebro. Existe um sem número de formas intermediárias entre humanos e animais sem cérebro.
A evolução gradual do cérebro não é um desafio para a evolução. Esse é apenas um argumento baseado em incredulidade pessoal. Só porque uma pessoa não acredita que algo funcione, não significa que não funciona.
Referências:
Comparative Mammalian Brain Collections, n.d. Brain evolution, http://brainmuseum.org/Evolution/ (under construction)
ANA-04: Besouro bombardeiro não pode ter evoluído
Alegação:
O besouro bombardeiro não pode ser explicado pela evolução. Portanto ele teve um design.
Resposta:
Esse é um argumento da incredulidade pessoal, aliado a uma descrição imprecisa de como o mecanismo do besouro funciona. Tudo seria respondido se o argumentados pelo menos fosse olhar nas evidências. De fato, o caminho evolucionário que leva ao besouro bombardeiro não é difícil de decifrar (Isaak 1977).
Uma seqüência plausível, apesar de abreviada, pode ser:
1) Insetos produzem quinonos para proteger sua pele. Quinonos os tornam desagradáveis para predadores, então insetos evoluem para produzirem mais e mais deles como defesa química, incluindo hidroquinonos.
2) Os predadores desenvolvem resistência aos quinonos, o que faz os besouros adquirirem ainda mais quinonos, num círculo vicioso que é chamado de co-evolução.
3) Os insetos evoluem depressões para armazenamento e músculos para ejetá-los na superfície quando são ameaçados. A depressão se torna um reservatório com glândulas secretoras fornecendo hidroquinono nela. Essa configuração existe em muitos besouros, incluindo parentes do besouro bombardeiro (Forsyth 1970).
4) Peróxido de hidrogênio é misturado com os hydroquinonos. Cataleses e peroxidases aparecem junto com a saída do reservatório, assegurando que mais quinonos apareçam no produto expelido.
5) Mais cataleses e peroxidases são produzidas, gerando oxigênio e produzindo uma pequena descarga, como no besouro bombardeiro Metrius contractus (Eisner et al. 2000).
6) À medida que a passagem de saída se torna uma sólida passagem, ainda mais catalases e peroxidades são produzidas, gradualmente se tornado os besouros bombardeiros de hoje.
Todos esses passos podem ser quebrados em passos ainda menores, sendo sempre, lentamente, mais vantajosos. Vários estados intermediários são viáveis, porque eles existem
em outras espécies conhecidas.
Aqui mais um excelente vídeo do youtube mostrando como o besouro não é irredutivelmente complexo.
Assim sabemos que a evolução funciona. Insetos incríveis como o besouro bombardeiro não apresentam desafio, pois ele pode tranqüilamente ser explicado por uma série lenta e gradual de aprimoramentos, até o besouro atual.
Na verdade, olhando mais a fundo, os besouros bombardeiros na verdade indicam que não houve design nenhum:
· Com design, podemos esperar que formas similares tenham sido criadas para propósitos similares, e formas diferentes para propósitos diferentes. Mas não é o que vemos na natureza. O que vemos abundantemente são formas diferentes para mesmas funções, algo que podemos esperar de algo que evolua espontaneamente. Diferentes grupos de besouros bombardeiros usam mecanismos extremamente diferentes para realizar a mesma função do seu spray (Eisner 1958; Eisner and Aneshansley 1982);
· Algumas formas não possuem função. Alguns besouros bombardeiros possuem asas vestigiais que não servem para voar (Erwin 1970, 46,55,91,114-115,119);
· Se o besouro bombardeiro tem um propósito, então a morte é parte integral dele, já que os besouros são predadores (alguns, como larvas, são parasitas, devorando gradualmente as pupas de outros besouros [Erwin 1967]), e seu spray serve de defesa contra predadores também. Muitos criacionistas alegam que a morte não fazia parte do plano de Deus.
Referências:
Isaak, Mark, 1997. Bombardier beetles and the argument of design. http://www.talkorigins.org/faqs/bombardier.html
Erwin, Terry L., 1967. Bombardier beetles (Coleoptera, Carabidae) of North America: Part II. Biology and behavior of Brachinus pallidus Erwin in California. Coleopterists’ Bulletin 21: 41-55.
Erwin, Terry L., 1970. A reclassification of bombardier beetles and a taxonomic revision of the North and Middle American species (Carabidae: Brachinida). Quaestiones Entomologicae 6: 4-215.
Eisner, T., 1958. The protective role of the spray mechanism of the bombardier beetle, Brachynus ballistarius Lec. Journal of Insect Physiology 2: 215-220.
Eisner, T. and D. J. Aneshansley, 1982. Spray aiming in bombardier beetles: jet deflection by the Coanda effect. Science 215: 83-85.
Eisner, T., D. J. Aneshansley, M. Eisner, A. B. Attygalle, D. W. Alsop and J. Meinwald, 2000. Spray mechanism of the most primitive bombardier beetle (Metrius contractus). Journal of Experimental Biology 203: 1265-1275.
Forsyth, D. J., 1970. The structure of the defence glands of the Cicindelidae, Amphizoidae, and Hygrobiidae (Insecta: Coleoptera). Journal of Zoology, London 160: 51-69.
Morris, Henry M., 1974. Scientific Creationism, Green Forest, AR: Master Books.
Weber, C. G., 1981. The bombardier beetle myth exploded. Creation/Evolution 2(1): 1-5.
Angier, N., 1985. Drafting the bombardier beetle. Time (Feb. 25), 70.
ANA-05: A girafa não pode ter evoluído
Alegação:
O coração da girafa deve ser muito grande para bombear sangue para a cabeça. Uma série de válvulas especiais no pescoço regula a corrente sanguínea, para impedir que vá sangue demais para a cabeça quando ela abaixar para beber água, e uma rede de veias na base do cérebro guardam um pouco de sangue de reserva para quando ela levantar a cabeça, senão ela desmaiaria. Todas essas características – um coração grande, as válvulas e a rede de veias – deveriam estar no lugar simultaneamente ou a girafa morreria simplesmente ao beber água. Elas não poderiam ter evoluído gradualmente.
Resposta:
Esse tipo de dúvida é típico de quem não entende direito como funciona a evolução por seleção natural.
O próprio Darwin respondeu essa alegação em 1868. Essa alegação assume que “gradualmente” significa “um de cada vez”. Não é o caso. Na verdade, se as estruturas surgissem uma de cada vez, prontinhas, isso seria criacionismo.
As diferentes características evoluíram todas simultaneamente e gradualmente. Um coração um pouco mais forte produziria um pouco mais de pressão para um pescoço um pouco maior, enquanto válvulas parciais suportariam um pouco mais de pressão e uma pequena rede de veias armazenaria um pouco de sangue. À medida que pescoços maiores fossem selecionados, todos os componentes seriam modificados pouco a pouco também.
Em outras palavras, para cada centímetro que o pescoço crescesse, a fisiologia da girafa teria que evoluir para suportar tal crescimento, antes de crescer o próximo centímetro.
Referências:
Darwin, Charles, 1868. Variation of Animals and Plants Under Domestication, vol. 2, chpt. 20. London: John Murray.http://pages.britishlibrary.net/charles.darwin/texts/variation/variation20.html
Gould, Stephen J., 1998. The tallest tale. In: Leonardo’s Mountain of Clams and the Diet of Worms, New York: Three Rivers Press, 301-318.
ANA-06: O sexo não pode ter evoluído
Alegação:
O sexo é complexo demais para ter sua origem explicada pela evolução. Machos e fêmeas teriam que ter evoluído separadamente, e qualquer incompatibilidade física, química e comportamental levaria à extinção. Nesse caso, reprodução assexuada deveria ser muito mais favorável do que a sexuada, já que eles podem se reproduzir mais rápido sem a necessidade de um parceiro.
Resposta:
A variedade dos ciclos da vida é muito grande, não é apenas questão de reprodução sexuada e assexuada. Existem vários estágios intermediários, por exemplo:
· Animais que se reproduzem de ambas as formas, sexuada e assexuadamente;
· Animais que podem mudar a forma de reprodução, de sexuada para assexuada, ou vice-versa, dependendo das condições do habitat;
· Animais que possuem ambos os sexos (hermafroditas);
· Animais que mudam de sexo em caso de necessidade.
Ou seja, evolução gradual, favorecida pela seleção natural, é possível (Kondrashov 1997).
Os estágios iniciais envolvem organismos unicelulares simplesmente trocando informação genética, sem ser necessariamente sexos distintos. Machos e fêmeas com certeza não precisariam evoluir separadamente. Sexo, por definição, depende de ambos macho e fêmea agindo juntos. À medida que o sexo evoluiu, haveria algumas incompatibilidades causando esterilidade (como ocorre hoje em dia), mas isso afetaria indivíduos, não populações inteiras, e os genes que causam essas incompatibilidades seriam rapidamente selecionados contra.
Muitas hipóteses foram propostas para a vantagem evolucionária do sexo (Barton and Charlesworth 1998). Existem boas evidências experimentais para algumas dessas, incluindo a resistência a mutações deletérias (Davies et al. 1999; Paland and Lynch 2006) e adaptação mais rápida em um ambiente em constante mudança, especialmente para adquirir resistência a parasitas (Sá Martins 2000).
Referências:
Barton, N. H. and B. Charlesworth, 1998. Why sex and recombination? Science 281: 1986-1990.
Davies, E. K., A. D. Peters and P. D. Keightley, 1999. High frequency of cryptic deleterious mutations in Caenorhabditis elegans. Science 285: 1748-1751.
Kondrashov, Alexey S., 1997. Evolutionary genetics of life cycles. Annual Review of Ecology and Systematics 28: 391-435.
Paland, Susanne and Michael Lynch. 2006. Transitions to asexuality result in excess amino acid substitutions. Science 311: 990-992. See also: Nielsen, Rasmus. 2006. Why sex? Science 311: 960-961.
Sá Martins, J. S., 2000. Simulated coevolution in a mutating ecology. Physical Review E 61(3): R2212-R2215.
Judson, Olivia, 2002. Dr. Tatiana’s Sex Advice to All Creation, New York: Metropolitan Books.
Margulis, Lynn and Dorion Sagan, 1990. Origins of sex: three billion years of genetic recombination, New Haven: Yale University Press.
Wuethrich, Bernice, 1998. Why sex? Putting theory to the test. Science 281: 1980-1982. See also several related articles in the same issue.
ANA-07: Órgãos vestigiais tem função
Alegação:
Praticamente todos os órgãos chamados “vestigiais” tem mostrado que possuem funções certas e não são de modo algum vestigiais.
Resposta:
Vestigial não significa inútil. Um vestígio é “um traço ou sinal visível deixado por algo perdido ou desaparecido” (G. & C. Merriam 1974, 769). Exemplos de vestigiais são:
· Ossos de pernas em cobras;
· Restos de olhos em peixes cegos de cavernas (Yamamoto e Jeffery 2000);
· Dedos extras em patas de cavalos;
· Asas de aves e insetos que não voam;
· Molares em morcegos vampiros;
· Dentes de leão (se reproduzem sem fertilização, mas mesmo assim produzem flores e pólen);
· Ossos da pélvis em baleias;
· Os lagartos do gênero Cnemidophorus. Somente a fêmeas se reproduzem, sem a necessidade do macho, por partenogênese. Mesmo assim os machos tentam inutilmente copular com as fêmeas;
· Pelos no corpo nos seres humanos;
· Arrepio (vestígio da tática que os animais usam para parecerem maiores quando ameaçados).
Entre muitos outros. Se hoje esses vestigiais possuem função ou não é irrelevante. Eles com certeza não possuem a função que nós esperaríamos ver em tais partes em outros animais, os quais os criacionistas alegam que tenham um “design”.
Órgãos vestigiais são evidência da evolução porque nós esperamos que as mudanças evolucionárias sejam imperfeitas enquanto as criaturas evoluem e adotam novos nichos. O criacionismo não é capaz de explicar os órgãos vestigiais. Eles são evidência contra o criacionismo porque eles provam que o “designer” criou estruturas sem função, sem propósito, ou com a função seriamente prejudicada, imperfeita, comprometida, etc, exatamente o contrário do que o criacionismo advoga.
Referências:
Theobald, Douglas, 2004. 29+ Evidences for macroevolution: Prediction 2.1: Anatomical vestiges. Detalhes em: http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/section2.html#morphological_vestiges