GEO-01: Métodos de datação são imprecisos
Alegação:
Métodos de datação radiométrica dão resultados imprecisos.
Resposta:
Os métodos de datação, assim como quaisquer ferramentas, possuem suas aplicações específicas e suas limitações. Uma ferramenta pode ser mal usada, podendo fornecer medições imprecisas se for mal empregada. Se o método é mal utilizado, obviamente a culpa não é do método, e sim da pessoa que o executou inadequadamente.
Por exemplo, o método de datação por carbono 14, ao contrário do que muitos criacionistas pensam, não é usado para datar fósseis. Como sua meia-vida é de 5.730 anos, ele não é o mais apropriado para datar além de cerca de 50.000 anos. É como usar uma régua para medir a distância entre Curitiba e Florianópolis. Ele também só serve para datar estruturas orgânicas, e não rochas e fósseis.
Outro problema freqüentemente citado por criacionistas é o da contaminação. E esse é um problema real, que pode trazer resultados imprecisos. O que os criacionistas não dizem é que os cientistas estão cientes disso, e conhecem formas de descobrir e evitar amostras contaminadas.
Ao examinar o contexto geológico de onde as amostras são retiradas, eles podem experimentar diferentes técnicas em diferentes minerais sujeitos a diferentes condições, para determinar quais técnicas, minerais e condições são válidas e quais não são. Por exemplo, se há suspeita de contaminação de argônio, melhor utilizar o método urânio-chumbo. Agora, se pode ter havido contaminação de chumbo, usa-se o potássio-argônio. Muitos dos casos que os criacionistas alegam ser discordantes e imprecisos são na verdade resultados de experimentos que usaram os métodos de forma errada, por desconhecimento ou por desonestidade mesmo.
O que é importante lembrar é que medições independentes, feitos por métodos radiométricos diferentes e por profissionais diferentes, dão resultados consistentes (Dalrymple 2000; Lindsay 1999; Meert 2000). Tais resultados não podem ser explicados por simples acaso, nem por um mesmo erro em todos eles.
Para finalizar, datações radiométricas são consistentes com outros métodos de datação não-radiométricos, por exemplo:
· As ilhas do arquipélago do Havaí estão se movendo lentamente sobre um bolsão de lava quente subterrâneo, e seu movimento pode ser medido via satélite. Datações radiométricas são consistentes com a ordem e taxa de movimento delas sobre a lava (Rubin 2001).;
· As datações radiométricas são consistentes com os ciclos Milankovitch, que dependem exclusivamente de fatores astronômicos, como a precessão da Terra e a excentricidade orbital (Hilgen et al. 1997);
· As datações radiométricas são consistentes com o método de datação por luminescência (Thompson n.d.; Thorne et al. 1999);
· As datações por carbono 14 são consistentes com objetos orgânicos que tenham datas conhecidas, como tumbas de faraós e troncos de árvores centenárias, ao se contar os anéis de crescimento.
Referencias:
Thompson, Tim, 2003. A radiometric dating resource list. http://www.tim-thompson.com/radiometric.html
Wiens, Roger C., 1994, 2002. Radiometric dating: A Christian perspective.http://www.asa3.org/ASA/resources/Wiens.html
Dalrymple, G. Brent, 2000. Radiometric dating does work! Some examples and a critique of a failed creationist strategy. Reports of the National Center for Science Education 20(3): 14-17.
Harland, W. B., R. L. Armstrong, A. V. Cox, L. E. Craig, A. G. Smith, and D. G. Smith, 1990. A Geologic Time Scale 1989. Cambridge: Cambridge University Press.
Hilgen, F. J., W. Krijgsman, C. G. Langereis and L. J. Lourens, 1997. Breakthrough made in dating of the geological record. EOS 78(28): 285,288-289. http://www.agu.org/sci_soc/eos96336.html
Lindsay, Don, 1999. Are radioactive dating methods consistent with each other? http://www.don-lindsay-archive.org/creation/crater_chain.html
Lindsay, Don, 2000. Are radioactive dating methods consistent with the deeper-is-older rule? http://www.don-lindsay-archive.org/creation/confirm.html
Meert, Joe, 2000. Consistent radiometric dates. http://gondwanaresearch.com/radiomet.htm
Rubin, Ken, 2001. The formation of the Hawaiian Islands. http://www.soest.hawaii.edu/GG/HCV/haw_formation.html
Thompson, Tim, n.d. Luminescence and radiometric dating. http://www.tim-thompson.com/luminescence.html
Thorne, A. et al., 1999. Australia’s oldest human remains: Age of the Lake Mungo 3 skeleton. Journal of Human Evolution 36(6): 591-612.
GEO-02: O método C14 não é confiável
Alegação:
O método do carbono 14 não é confiável.
Resposta:
Como qualquer ferramenta, o método do carbono 14 pode ser mal usado. E nesse caso o problema não está no método e sim na pessoa que o utilizou incorretamente.
Interessante que a maioria das pessoas que criticam os métodos de datação sequer sabem ao certo como eles funcionam, suas aplicações e suas limitações.
No caso do carbono 14, é normal ver criacionistas alegando que ele é usado para datar fósseis, quando na verdade ele não é utilizado para essa função. Como sua meia-vida é de 5730 anos, ele serve para datar no máximo até 50.000 anos. Além disso, ele só serve para datar estruturas orgânicas, como madeira, pele, tecido, folhas, etc.
O método do carbono 14 funciona de forma diferente que os métodos convencionais, como o Potássio-Argônio, Rubídio-Estrôncio e Urânio-Chumbo, etc. Esse método é chamado método cosmogênico, porque o carbono 14 é constantemente formado por raios cósmicos nas camadas superiores da atmosfera. Ele é um elemento instável, que ao decair se transforma em nitrogênio 14.
Mesmo em pequenas quantidades (cerca de 0,001% do carbono existente na Terra), o C14 é absorvido pelas plantas e animais. Dessa forma, os organismos estão com o C14 em equilíbrio com a atmosfera. Quando eles morrem, o C14 não é mais absorvido, e o que existe neles tende a se tornar N14.
Comparando a quantidade ainda existente de C14 no organismo com a quantidade existente na atmosfera, temos uma boa previsão de quando ele morreu.
O método C14 foi calibrado até 11.800 anos, utilizando a dendrocronologia, a ciência que estuda os anéis de crescimento de árvores centenárias. Depois de calibrado ele mostra notável precisão. As chamadas “árvores matusalém”, existentes na seca região entre Nevada e Flórida, crescem por até 6.000 anos! Árvores desse tipo demoram milhares de anos para se decompor. Ao fazer correlações dos anéis com as árvores mortas, baseado em grandes períodos de seca ou chuvas, o período pode ser estendido para até 11.800 anos.
Além de 11.800 anos não é mais possível calibrar pela dendrocronologia, pois ocorreu um cataclismo mundial que alterou de forma abrupta como as árvores cresciam naquela época (antes que os criacionistas digam, não, não foi o dilúvio bíblico, e sim o descongelamento provocado pelo fim da última era glacial).
Porém existem outras formas de calibrar o método C14 além desse ponto. Uma delas é encontrar baías ou lagos onde a sedimentação ocorre relativamente rápida. Em muitos casos a sedimentação é sazonal, e cada ano se forma uma nova camada, e as camadas podem ser contadas iguais a anéis de árvores.
Outra forma é encontrada em geleiras. As camadas de gelo também são sazonais e podem ser contadas, ao se escavarem cilindros de gelo. Se algum animal ou matéria orgânica ficar presa e for congelada, pode se descobrir quando isso ocorreu facilmente.
Também pode ser usado o crescimento de estalagmites, pois sua evolução pode ser verificada facilmente.
Dessa forma é possível calibrar a datação por C14 a até 50.000 anos. Além desse limite o método não é mais recomendado.
A datação por radiocarbono tem sido largamente usada, com resultados consistentes e confirmado por fontes independentes, além de confirmado por outros métodos de datação.
Referências:
Bard, Edouard, Bruno Hamelin, Richard G. Fairbanks and Alan Zindler, 1990. Calibration of the 14C timescale over the past 30,000 years using mass spectrometric U-Th ages from Barbados corals. Nature 345: 405-410.
Faure, Gunter, 1998. Principles and Applications of Geochemistry, 2nd ed. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall.
MNSU, n.d. Radio-carbon dating. http://emuseum.mnsu.edu/archaeology/dating/radio_carbon.html
Watson, Kathie, 2001. Radiometric time scale. http://pubs.usgs.gov/gip/geotime/radiometric.html
Higham, Tom, 1999. Radiocarbon WEB-Info. http://www.c14dating.com/
Thompson, Tim, 2003. A radiometric dating resource list. http://www.tim-thompson.com/radiometric.html#reliability
GEO-03: Não se sabe o estado inicial dos elementos
Alegação 1:
Os métodos de datação radiométrica estimam quanto tempo demorou para o elemento pai decair para o elemento filho. Porém não se sabe quanto do elemento pai existia na época de sua formação, portanto isso prova que os métodos não funcionam.
Alegação 2:
A fórmula para datação radiométrica é:
No = N . e ^ (k.t)
Onde:
No é a quantidade de isótopos do elemento pai, N é a quantidade presente de isótopos, k é constante e t é o tempo.
Como não sabemos No, e t é o que queremos descobrir, temos duas variáveis para apenas uma equação, o que prova que os cientistas manipulam os dados para encontrarem as datas que quiserem.
Resposta:
Se nós sabemos a proporção que existe entre o elemento pai e o elemento filho, é possível saber quanto que existia na época de sua formação.
Por exemplo, a meia-vida do Urânio 238 é de 4,5 bilhões de anos. Ou seja, demora 4,5 bilhões de anos para metade que uma certa quantia de Urânio 238 se transforme Chumbo 206. Portanto, se uma amostra de rocha possuir 50% de U-238 e 50% de Pb-206, significa que se passou uma meia-vida desde sua formação e portanto sua idade seria de 4,5 bilhões de anos, isso se ela não tiver sido metamorfizada (o que pode ser verificado).
Se em algum momento a rocha tiver sido re-aquecida, seu “relógio radiométrico” irá mostrar uma data mais recente do que ela realmente é. E se ela for totalmente fundida o relógio vai ser “zerado”.
As rochas mais antigas da Terra datam de cerca de 3,6 bilhões de anos, mas sabemos que a Terra é mais antiga que isso, porque muitas rochas foram metamorfizadas novamente por processos vulcânicos e geológicos. Análises de rochas da Lua mostram que ela se formaram há 4,1 bilhões de anos, e de asteróides e meteoritos mais antigos fornecem 4,5 bilhões.
A maioria dos cientistas aceitam que os corpos celestes foram todos formados mais ou menos na mesma época, portanto uma boa data para a Terra é de 4,5 bilhões de anos.
GEO-04: Métodos assumem sistema fechado
Alegação:
Os métodos de datação assumem que as amostras são um sistema fechado, ou seja, que nenhuma amostra perdeu nem ganhou nenhum dos seus isótopos utilizados na datação desde a sua formação até hoje. Porém sistemas fechados não existem na natureza.
Resposta:
A pergunta que deve ser feita é: a rocha é suficientemente próxima a um sistema fechado que seus resultados seriam próximos aos de um sistema fechado verdadeiro?
Desde os anos 60 inúmeros livros foram publicados sobre o assunto. Esses livros mostram experimentos detalhados sobre determinados métodos de datação, quais materiais funcionam sempre, quais minerais funcionam sob certas condições, e quais minerais têm a tendência de perder átomos e fornecer resultados imprecisos.
Entender essas condições faz parte da ciência da geologia, e os geólogos são cuidadosos para usar o melhor método disponível para cada caso.
GEO-05: Métodos usam lógica circular
Alegação:
Para saber a idade de um fóssil, é medida idade da rocha ao seu redor. Mas para saber a idade da rocha, é medida a idade do fóssil. Isso é raciocínio circular.
Fontes:
http://www.chick.com/tractimages93567/0801/0801_14.gif
http://www.chick.com/reading/tracts/0801/0801_01.asp
Resposta:
Não se sabe de onde os criacionistas tiram tantos absurdos. Requer profundo desconhecimento e ingenuidade achar que métodos consagrados de datação estão baseados em tamanha fraqueza de raciocínio.
Os métodos de datação não fazem uso de lógica circular. Eles fazem uso do conhecimento adquirido ao longo de anos sobre o comportamento de núcleos de elementos radioativos, e faz uso da mesma tecnologia utilizada para o tratamento de câncer.
Willard Libby, o descobridor do método do Carbono 14, recebeu o prêmio Nobel por isso. Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel, e seu marido, Pierre Curie, morreram vítimas dos experimentos que fizeram para revelar os segredos da radioatividade, e que serviram para iluminar o nosso conhecimento nos dias de hoje.
Dizer que os métodos usam raciocínios tão infantis e ignorantes quanto esses é uma ofensa às pessoas que dedicaram as suas vidas em nome da ciência e do conhecimento.
GEO-06: O decaimento talvez não seja constante
Alegação:
Assume-se que o decaimento atômico permanece constante durante milhões de anos. Porém isso é apenas uma extrapolação. Ninguém sabe disso ao certo, já que ninguém estava lá na ocasião para medir.
Resposta:
A idéia de que “ninguém estava lá” pode ser contornada facilmente pela ciência simplesmente olhando para as evidências. Do contrário criminosos só seriam presos se fossem pegos em flagrante. Mas não é assim que a ciência funciona. Podemos ver no presente as marcas deixadas no passado.
Isótopos radioativos têm um decaimento exponencial muito bem comportado. E nem todos decaem em milhões ou milhares de anos, alguns decaem em questão de dias, ou ainda em minutos como, por exemplo, alguns isótopos do potássio e do argônio. Outro exemplo, poucas pessoas sabem que o urânio não decai diretamente para o chumbo, mas passa antes por uma série de elementos mais leves, cada um com uma meia-vida relativamente curta (dias ou minutos), até chegar ao chumbo.
Todos esses elementos de vida curta apresentam decaimento exponencial bem comportado, então não há motivos para achar com um elemento de meia-vida longa seria diferente.
GEO-07: O decaimento atômico pode ser alterado
Alegação:
O decaimento atômico dos elementos radioativos podem ter sido alterados por partículas como os neutrinos, múons e raios cósmicos, invalidando os métodos de datação.
Resposta:
Embora algumas partículas possam provocar mudanças nucleares, elas não são capazes de alterar a meia-vida dos elementos. Essas mudanças nucleares são bem compreendidas e são ínfimas em rochas. As grandes mudanças nucleares que ocorrem são na verdade os próprios decaimentos atômicos dos elementos radioativos.
Existem apenas três formas conhecidas de alterar significativamente a meia-vida de elementos radioativos, e nenhuma delas interfere nos métodos de datação. Eles são:
· No interior de estrelas;
· Em altas velocidades, próximas à da luz, como previsto pela Teoria da Relatividade de Einstein;
· Captura de elétrons em rochas sob alta pressão, porém isso afeta apenas elementos leves, que não são usados em métodos de datação.
E, diferentemente do que os criacionistas mais paranóicos acham, não há como o ser humano alterar propositalmente a meia-vida dos elementos para forjar dados.
GEO-08: Cientistas escolhem as datas que quiserem
Alegação:
Cientistas manipulam os dados e escolhem as datas que quiserem, de acordo com a conveniência.
Resposta:
Essa é a forma mais conspiratória de criacionismo: aquela em que se acredita que todos os cientistas estão unidos em uma enorme conspiração, liderada por Satã, obviamente, para enganar a humanidade e faze-la acreditar que a Terra não é como a bíblia diz. Satã, esperto que só ele, foi capaz de encobrir todas as suas pistas, e de alguma forma impedir que qualquer cientista se atreva a revelar a verdade: que todos os métodos são puramente especulação.
Enfim, os métodos estão aí, para qualquer um ver, testar, e contesta-los.
Se você acha que eles não funcionam, isso é o que deve fazer: escreva artigos científicos e publique-os em jornais e revistas com peer-review, explicando como os métodos não funcionam e como Satã está enganando a humanidade. De preferência, invente seu próprio método científico que mostre que a Terra não tem mais que alguns milhares de anos, como a bíblia diz.
Caso consiga, não esqueça de pegar o seu prêmio Nobel.
E se não conseguir, ou não quiser provar nada disso, faça o que sempre faz, e apenas culpe Satã por seu insucesso. É muito mais fácil do que admitir estar errado e buscar a verdade, doa a quem doer.