Igreja fica chocada com os efeitos de uma pata de camelo

Natal é uma época muito legal. Pessoal enche o rabo de peru, deixa o lombo assado, cai de boca no peito entre outras comidas de um único sentido, já que vocês me conhecem muito bem e eu não poderia ficar sem fazer estas piadinhas sem graça. O pior é que esta data acarreta pessoas fazendo uma escolha existencial importante: ir à igreja assistir a uma natividade tradicional, com crianças vestidas de pastores tropeçando em lençóis mal amarrados, ou ir a uma megaigreja texana assistir a um espetáculo de 90 minutos com acrobacias, músicas estilo Broadway, luzes de Las Vegas e, claro, camelos de verdade desfilando pelo corredor.

Uma mulher em Houston teve um problema com isso quando escolheu a segunda opção e descobriu, da pior forma possível, que autenticidade bíblica tem seu preço, e esse preço pode incluir uma viagem de ambulância, que não é de graça nos Isteites.

A Champion Forest Baptist Church é uma megaigreja com cerca de 7 mil fiéis semanais e um orçamento de produção que faria a Disney corar de inveja. Eles realizam anualmente o “Christmas Spectacular”, no words in the vernacular. Os organizadores – que seguem o deus que pregou a humildade e o desapego de bens materiais (além de dizer que quem reza em igrejas é hipócrita) – descrevem como o maior show natalino de Houston.

Trinta mil pessoas compareceram no ano passado para ver essa extravagância evangélica que inclui acrobatas voando pelos ares, canções dignas da Broadway e, porque aparentemente ninguém aprendeu nada com o Jurassic Park, animais vivos circulando entre a plateia. Nada mais natalino que um espetáculo megalomaníaco de hora e meia com efeitos especiais, só faltando chamar a IL&M.

Alguns desses animais são camelos e dromedários (o dromedário tem apenas uma corcova). O problema com esses bichos, ao contrário de atores mirins fantasiados, não passam por ensaios de segurança nem assinam termos de responsabilidade, e um deles decidiu, no meio do desfile pelos corredores da igreja, demonstrar seu descontentamento teológico com toda aquela situação através do método mais direto disponível no repertório comportamental camelídeo: um coice certeiro na fuça de uma fiel que teve o azar cósmico de escolher um assento na ponta do corredor.

Eu ouvi um amém?

A plateia assistiu ao espetáculo duplo naquela noite: primeiro, a recriação do nascimento de Jesus Cristo com todos os sinos e apitos que o dinheiro pode comprar; segundo, uma demonstração prática de por que animais selvagens e espaços fechados cheios de humanos formam uma combinação tão aconselhável quanto combinar tequila com decisões importantes. Enquanto alguns espectadores corriam para ajudar a vítima, o show continuou, porque nada, nem mesmo um ataque de um camelo kickboxer, interrompe uma produção de 90 minutos quando você tem 30 mil ingressos vendidos. The show must go on!

A igreja, num comunicado que transpira o tipo de pânico corporativo que só megainstituições conhecem, afirmou que “lamenta profundamente o ocorrido” e que sua equipe “respondeu imediatamente”, engajando os serviços de emergência. Traduzindo do corporativês: “meu Deus, meu Deus, por que nos abandonastes e também onde está nosso advogado”.

Steven Miori, diretor de comunicações da igreja, classificou o episódio como um “incidente inesperado”, o que tecnicamente está correto da mesma forma que o iceberg foi um “obstáculo inesperado” para o Titanic. A igreja anunciou que, pelo resto das apresentações, descontinuou a prática de desfilar animais pelas áreas de plateia. Uma decisão sensata que levanta apenas uma pergunta: por que diabos isso não era a política desde o início?

A mulher foi hospitalizada, tratada e liberada, e está agora se recuperando em casa, provavelmente reavaliando suas escolhas de entretenimento natalino e considerando mudar de religião, provavelmente, Budismo não tem camelos chutadores, né?

O debate online dividiu opiniões (aka pessoal só faltou se matar nas redes sociais). Apoiadores defendem a tradição e a experiência familiar proporcionada pelo evento. Críticos questionam por que uma instituição religiosa está gastando fortunas em produções hollywoodianas quando poderia estar, sei lá, seguindo os ensinamentos de humildade e caridade de seu personagem principal.

Mateus 21:11-13 – E a multidão dizia: Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia. E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e disse-lhes: “Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.


Fonte: NBC News

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