
Protesto é algo inerente aos seres humanos desde que Gronk ficou com uma parte maior da caça do que você. Gronk é um fidamãe e você não vai ficar calado com isso e vai mandar a real pro chefe. O protesto é uma forma de externar suas opiniões. E sim, apedeutas, existe protesto a favor, já que um protesto é uma firme declaração de algo. Vai depender do que você quer declarar.
Só que não basta declarar, tem que ser incisivo, nem que apele para outros artifícios, como se vestir de mulher e se chamar Rebecca… Mas hein?
No século XIX, o País de Gales estava passando por uma série de protestos realizados por agricultores e trabalhadores agrícolas em resposta aos níveis de tributação imposta pelos ingleses. Ou seja, um dia como outro qualquer nas colônias de Sua Majestade.
Os pedágios foram introduzidos na Grã-Bretanha no final do século XVII como meio de arrecadar receita para a manutenção de estradas públicas (cof cof cof, vai você acreditar nisso). Esses pedágios eram regulados e mantidos pelos Turnpike Trusts, órgãos individuais criados pelo parlamento. Sim, eram privatizados, mas mantidos pelos membros do governo. Já podem imaginar o que vem daí, certo?
A comunidade agrícola sofreu muito com as más colheitas nos anos anteriores aos protestos e os pedágios foram uma das maiores despesas enfrentadas por um agricultor local. As taxas cobradas para fazer até mesmo as coisas mais simples, como levar animais e plantações para o mercado e trazer fertilizantes de volta para os campos, ameaçavam seu sustento e sua própria existência.
Os pedágios há muito eram considerados um fardo pelo povo. Mas as reclamações aos magistrados sobre sua regulamentação injusta foram amplamente ignoradas. Portanto, os pedágios passaram a ser considerados símbolos de opressão a serem demolidos, com a agitação concentrada principalmente em Carmarthenshire, Cardiganshire e Pembrokeshire.
Esses protestos ocorreram entre 1839 e 1843 e ficaram conhecidos como os “Distúrbios de Rebecca” (Rebecca Riots ou, em galês: Terfysgoedd Beca), mas tem um detalhezinho: os homens envolvidos frequentemente estavam vestidos de mulheres e eram conhecidos em galês como Merched Beca (filhas de Rebecca). Os membros desses protestos eram também chamados Rebeccaites.
Mas por que diabos os caras estavam vestidos de mulher? Aproveitando o Carnaval? Transicionaram? Crossdressers? Ao que tudo indica, o nome “Rebecca” veio de uma interpretação literal do livro de Gênesis:
Gênesis 24:60 – E abençoaram a Rebeca, e disseram-lhe: Ó nossa irmã, sê tu a mãe de milhares de milhares, e que a tua descendência possua a porta de seus aborrecedores!
O texto se refere à descendência de Rebeca possuindo os portões de seus inimigos. Soa muito maneiro e eu sempre gostei do caráter Filme Épico do Velho Testamento. Entretanto, para falar a verdade, ninguém sabe realmente por que o nome foi escolhido. Eu acredito que pessoal estava no pub totalmente chapados até que algum bebum soltou “Sabe o que seria bom, mesmo? A gente protestar usando os vestidos de nossas mulheres”. Todo mundo já em órbita começou a gritar “aê, isso mesmo. Uhuuuuuulll!!”
A primeira aparição registrada dos Distúrbios de Rebecca se deu em 13 de maio de 1839, quando um pedágio em Efailwen, em Pembrokeshire, foi demolido. Rebecca emergiu novamente durante o inverno de 1842, com os protestos se intensificando durante o verão de 1843. Os ataques visavam pedágios e propriedades privadas, enquanto os cobradores de pedágio e figuras de autoridade também eram intimidados.
Esses incluíam a pequena nobreza local, que mantinha a lei e a ordem localmente como magistrados e supervisionava a administração dos pedágios como membros dos Turnpike Trusts. Aqueles que protestaram eram predominantemente jovens agricultores arrendatários, servos de fazenda e trabalhadores agrícolas. Mas outros manifestantes incluíam trabalhadores não agrícolas de regiões industrializadas de Carmarthenshire e Glamorgan.
Como dito, o elemento marcante do protesto foi a adoção de roupas femininas, que muitos insinuam ser para ocultar as identidades dos envolvidos.
No entanto, os distúrbios de Rebecca foram mais do que apenas um movimento de protesto contra os pedágios; eles também foram uma reação ao clima socioeconômico, à depressão agrícola, às colheitas fracassadas, ao aumento dos níveis de aluguel e ao peso de vários impostos. Todos esses fatores coletivamente colocaram uma pressão substancial sobre as comunidades rurais.
Os distúrbios que abalaram o País de Gales no final de 1843 chegaram ao fim. A figura misteriosa conhecida como Rebecca, que liderou uma série de protestos em nome dos agricultores, não conseguiu produzir um efeito imediato na vida daqueles que procurava servir. No entanto, a revolta sem líder dos camponeses oprimidos em busca de justiça em um sistema injusto marcou um importante evento sociopolítico no País de Gales.
Após os distúrbios, algumas vitórias foram alcançadas: reduções de aluguel, melhorias nas tarifas de pedágio e a reconstrução de casas de pedágio destruídas. Além disso, os protestos levaram a várias reformas, incluindo uma Comissão Real sobre a questão das estradas de pedágio, que resultou na Lei dos Trusts de Pedágio do Sul do País de Gales de 1844. Esta lei consolidou os trusts, simplificou as tarifas e reduziu pela metade o odiado pedágio sobre o movimento de cal.
Não apenas isso, os distúrbios inspiraram protestos galeses posteriores, incluindo a oposição à privatização das reservas de salmão no Rio Wye nas décadas de 1860 e 70, conhecidas como “Os Segundos Distúrbios de Rebecca”, e a formação na década de 1970 do coletivo de artes radicais conhecido como Grupo Beca.
Os Distúrbios de Rebecca podem não ter produzido um efeito imediato, mas eles desencadearam uma série de mudanças que moldaram o futuro do País de Gales. A luta de Rebecca contra a injustiça e a opressão deixou uma marca indelével na história do país, inspirando gerações futuras a se levantarem contra a injustiça.
Porque mesmo um pequeníssimo país, que mais parece um bairro, pode fazer grandes mudanças, mesmo sobre o Império Onde o Sol Nunca se Põe.

2 comentários em “A Revolta de Rebecca: o protesto de saias que tocou o terror no País de Gales”