Por causa de uma propaganda enganosa, várias pessoas foram presas

Esta é uma das ideias mais sacanas, engenhosas e diabolicamente lindas de se imaginar. Imagine que você tenha uma série de fugitivos da justiça que estão… bem, fugindo da Justiça. O que se faz? Claro, você pode responder que é para despender grandes somas de dinheiro em investigação e recursos para caçar cada um deles de forma que eles não escapem ao longo braço da lei.

Bem, se você pensou isso, você jamais poderia ter trabalhado para os U.S. Marshals, já que eles foram um pouquinho mais brilhantes que você, rezando na cartilha: Se a Montanha não vai até Maomé, Maomé que se dirija para a cadeia por livre e espontânea vontade… ou quase isso.

O United States Marshals Service, mais conhecidos como U.S. Marshals ou, aportuguesando, Serviço de Delegados dos Estados Unidos, é uma agência de aplicação da lei ligado diretamente ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Por definição, uma das atribuições dos U.S. Marshals é além de garantirem o funcionamento eficaz do sistema judicial, mas eu tenho uma outra definição: Caçar bandido onde quer que o vagabundo se esconda.

O problema dos bandidos é que eles não se ligam nesses lances de leis e nem acham uma boa ideia serem presos, sempre buscando ficar fora do alcance da polícia. por outro lado, as Promotorias não veem com bons olhos bandidos fujões, então ficam naquele impasse de um caçando e o outro fugindo.

Em fins da década de 1970 e início da  década de 1980, o Procurador Geral dos EUA transferiu a responsabilidade de investigar e monitorar criminosos federais do FBI para os U.S. Marshals. A ordem era trazer a galerinha do barulho que andava aprontando mil confusões pro seio da Justiça de forma que eles se emocionassem atrás das grades.

Para auxiliar os U.S. Marshals, foi criado o Fugitive Investigative Strike Team  (FIST). conduziram nove operações para catar criminosos no O FIST era composto por uma série de investigadores que poderiam ser destacados em operações para qualquer distrito do país, a fim de investigar e prender rapidamente os criminosos “Classe 1”, como fugitivos federais, gente que deu balão na fiança, violadores de liberdade condicional.

De 1981 a 1986, os U.S. Marshals conduziram uma série de nove operações FIST,  com um listão de milhares de procurados pela Justiça. Então, um espírito de porco com uma alma sacana chamado Toby Roche teve uma ideia de fazer todos eles se apresentarem por livre e espontânea vontade e eu aposto que quando se falou isso pela primeira vez, deduziram que o sujeito ou estava completamente louco ou fazendo uso de quantidades industriais de LSD, mas algum espírito de porco com alma mais sacana ainda numa esfera bem mais elevada disse “Por que não?”, e foi assim que teve início a Operação Flagship.

Os Feds criaram um canal de TV fictício chamado Flagship International Sports Television. ALIÁS, os meganhas sacanas usaram a sigla FIST para batizar o canal de TV. Preste atenção no nome. Eles começaram a mandar cartas para os criminosos convidando-os para um brunch, e dois ingressos para o jogo daquilo que os americanos chamam de football entre o Washington Redskins e o Cincinnati Bengals.

Parece uma ideia imbecil e ninguém com mais de meio neurônio iria cair, certo? Bem, se o sujeito fosse inteligente, não seria facilmente encontrado pela polícia. Na carta tinha um telefone e choveu ligação de gente querendo ir ao brunch e mais ainda ao jogo. Era uma oportunidade imperdível, ainda mais que era a final do Super Bowl!

A armadilha foi tão bem feita e convincente, que a trama foi tão convincente que um advogado de uma empresa de televisão a cabo – que de alguma forma recebeu a notícia da festa – apareceu para reclamar que a Flagship não tinha a licença adequada para operar em Washington. Alguns senhores com cara de poucos amigos do Departamento de Justiça, óbvio, tiveram uma conversinha com o advogado sobre o que estava acontecendo e o que aconteceria se ele desse com a língua nos dentes.

Centenas de… cahan… convidados apareceram no Centro de Convenções de Washignton, prontos pro brunch e de lá serem conduzidos para o estádio para assistirem ao jogo. O clima era de festa! Dentro do Centro de Convenções o nível de ruído era alto, o rock comia solto nos alto-falantes, uma fita do jogo dos Redskins no Super Bowl de 1982 era tocada no salão de festas. Os convidados estavam muito felizes e comemoravam.

Temendo que os bandidos reconhecessem os delegados federais, vários oficiais vieram de outros estados para participar da operação, e passaram seis semanas treinando para a ocasião, incluindo três ensaios gerais. Todos os oficiais estavam disfarçados para se apresentarem como membros do canal de TV, dos times, da organização do Super Bowl e até de garçons, cheerleaders e mascotes dos dois times. O Centro de Convenções só teria duas classes de pessoas: policiais e bandidos, e mais ninguém.

Para impedir que houvesse tumulto e fugissem, os “contemplados” chegavam e passavam por triagem pára saberem quem era quem, e só depois eram conduzidos para o salão. Quando todo mundo estava sentadinho, o Mestre de Cerimônias chegou e deu boas vindas a todos e, em seguida, ele se apresenta: era o Chefe de Operações Louie McKinney e deu voz de prisão em todos os que estavam lá, na mesma hora, todos os bandidos são cercados por dezenas de policiais armados até os dentes e a prisão foi efetuada, com todo mundo metendo o galho dentro, porque ninguém ali estava afim de fazer o dia de nenhum meganha.

Entre os mandados de prisão executados tinha 15 mandados por agressão, 5 por assalto a mão armada, 6 por roubo, 4 por fuga, 19 por inadimplência ou violação de fiança, 18 por violações de narcóticos, 59 por violação de liberdade condicional e 41 por uma variedade de acusações bem levinhas, que iam de estupro a incêndio criminoso e falsificação. Todo mundo ganhando hospedagem digrátis às custas do contribuinte americano.

Ah, sim, alguns dos presos perguntaram se ainda assim poderiam assistir ao jogo. Infelizmente, isso não foi possível. Uma pena.

O custo total da operação foi de 22,1 mil dólares (US$63.060,17 a dinheiro de hoje) ou 218,81 dólares por prisão (ou US$624,35 em dinheiro de hoje). Uma bagatela, e quer saber? Considerando que este tipo de criminosos nunca são a faca mais afiada da gaveta, se fizerem isso de novo, vão catar mais um monte de gente.


Fontes:

AP

Washington Post

A NFL fez um documentário curto sobre a operação.

https://youtu.be/1LsNBA2XwXU

Aqui tem uma reportagem de emissora local

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