A reportagem não era sobre futebol. Era num recantão do mundo largado por todos os deuses que puderam existir, existem ou existirão. Era o interiorzão do Nepal, no orifício anal do planeta Terra, o cu do mundo, para ser exato. O repórter pergunta a um molequinho lá naquele fim de mundo se ele tinha ouvido falar do Brasil. O moleque para e só diz uma única coisa: “Pelé”.
Todos estão noticiando o passamento de Pelé, cognominado o Rei do Futebol, mas não é verdade. Morreu o corpo, o legado fica. Morreu Edson, o Pelé é eterno, mágico. Brasil se tornou “O país do Futebol” por causa dele e daqueles que jogaram com ele. Não que os outros não tenham tido suas importâncias. Gérson e seus passes milimetricamente perfeitos a 50 metros de distância. Rivelino e sua patada atômica e o grande Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas.
Mas Pelé? Não se tem palavras. Atleta do Século, Rei do Futebol, Deus do mais belo dos esportes. Responsável pelo Brasil ser temido ainda hoje nos campos de futebol, apesar da escória ridícula que joga hoje, se vangloriando de dias dos quais não foram responsáveis.
Recebido por presidentes, reis, rainhas e apenas pessoas comuns que queriam autógrafos, Pelé trouxe o que poderia ser de melhor para o esporte brasileiro: o Brasil nos palcos do mundo. O que Pelé não aceitava era a tirania do Regime Militar e a escrotice de João Havelange, então presidente da CBD, a Confederação Brasileira de Desportos.
Os toscos dos Regime Militar queriam capitalizar qualquer conquista do Brasil, vinculando ao governo ditatorial daqui. Pelé disse que encerrava a carreira em 1970-1971. João Havelange queria ativar uma lei tão ridícula quanto ele obrigando Pelé voltar aos jogos pela Seleção. Pelé bateu de frente, preferindo acabar a carreira no alto dos seus 30 anos, em plena forma física e habilidade esportiva.
Vários jornais (puxando saco da Ditadura Militar, óbvio) começaram a atacar Pelé, as charges e reportagens eram mais violentas que todos os adversários que ele enfrentou em campo. O tempo passou, a Ditadura Militar caiu, Pelé continuou com a sua majestade, único, inigualável. Tinha defeitos, claro. Todos os santos têm pés de barro. TODOS. Nem mesmo os santos e deuses que tanto veneram possuem imagem ilibada. Mas isso é o tipo de coisa para anular tudo o que Pelé fez? Não sei, sinceramente não sei.
Pelé foi mais que um atleta. Se transformou num embaixador, num símbolo, num mito, e eu sinto dor no coração por não ter visto todos os seus jogos ao vivo. Não dá para postar todas as homenagens que estão publicando. Eu prefiro esta foto:
O menino pobre de 3 Corações olhando com amor para uma taça, uma simples taça que coroou o melhor do mundo. Uma foto que nos traz alento e esperança, que mesmo tendo nascido pobre, você pode chegar ao estrelato, graças ao seu esforço e escrever seu nome entre as estrelas do esporte de todos os tempos.
Ave Pediludium Rex! Qui ludunt te salutant
O Lugar Além da Vida verá uma reunião de craques jogando amistosamente pra relembrar os velhos tempos. Os que aqui ficam sentirão sua falta, os que lá estão esperavam a chegada do amigo. E todos eles olharão para os jovens que inspiraram com sorrisos de orgulho.
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“apesar da escória ridícula que joga hoje, se vangloriando de dias dos quais não foram responsáveis” – Frase simplesmente perfeita e que resume bem o que é a seleção brasileira hoje em dia.
E o povo, gado do jeito que é, ficou do lado desses ataques contra ele. Até hoje bastante gente chama o Pelé de filho da puta por não ter jogado a Copa de 1974, esquecendo-se das quatro Copas que ele disputou, em que ganhou três, fez 12 gols e, na última dele, só não fez chover.
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