Pense na quantidade de pessoas precisando de água. Pensem que 75% da superfície do planeta é coberta de água. Pensem que a larga maioria dessa água é imprópria para consumo por ser água salgada. Processos de dessalinização da água do mar nem é novidade, só é caro. Alguns pensaram em trazer Nurembergs, digo, Rosembergs… não… Zuckerbergs! Sim, isso. Zuckerbergs! O problema de trazer os Udenbergs é que sai caro, bem caro. Então, melhor investir em sistemas de dessalinização, mesmo.
Entretanto, químicos não se contentam com isso. Se algo está ótimo, pode ser melhorado. Dessa vez com o auxílio de nanotecnologia, obviamente. Tudo fica legal com nanotecnologia.
O dr. Huanting Wang é químico (com ele a oração e a paz). Wang trabalha como professor do Departamento de Engenharia Química e diretor do Monash Center for Membrane Innovation da Universidade Monash. Sua pesquisa estuda estruturas metalorgânicas ou MOF (Metal-Organic Frameworks), que para resumir são polímeros com estruturas tridimensionais de substâncias orgânicas com íons metálicos ligantes formando ligações coordenadas com moléculas complexas. Para simplificar, são “plásticos” (estou simplificando, não enche!) com metais dentro com propriedades muito diferentes do que se elas estivessem separadas, porque o todo não é a soma das partes.
Sim, é uma síntese de um resumo resumido. Não vou escrever um tratado a este respeito que seria mais útil para profissionais da área, e eu gosto de escrever para todo mundo.
A ideia de Wang e seu pessoal é fazer uso das MOF junto com a luz do Sol para purificar a água, usando um processo que é bem mais eficiente do que o existente técnicas,. O processo é simples e complicado ao mesmo tempo. Como falei, vou explicar a parte simples.
Os pesquisadores criaram um novo MOF chamado PSP-MIL-53, que era parcialmente feito de um material chamado MIL-53, já conhecido pela forma como reage à água e ao dióxido de carbono. Ok, vamos deixar isso de lado. Vamos ao ponto que isso nem é novidade, mas sim a parte de reaver a parte sequestrada pelo MOF (por sequestro, entenda a substância que ficou presa na molécula do MOF). As MOFs, em geral, são materiais muito porosos, acabando por agir feito filtros.
Suponha que a sua piscina esteja cheia de folhas. Você não vai beber a água desta piscina (de nenhuma piscina, mas é apenas um exemplo), então, você vem com uma rede e cata todas as folhas. Você não vai jogar a rede fora, certo? Você simplesmente tira as folhas na rede e joga no lixo, ou queima ou faz um sacrifício ao demônio das árvores, sei lá.
A técnica de Wang é a mesma coisa, em que a estrutura da MOF cata todos os aglomerados iônicos (sais não formam moléculas, mas aglomerados iônicos. Se quiser chamar de molécula, eu deixo. O importante é que você entenda), removendo-as da água. Depois a luz faz com que esse sal se desprenda da estrutura e possa ser reaproveitado para alguma coisa, como temperar a sua salada, por exemplo (óbvio, este sal passará por refino). A água estará ali limpinha para ser consumida e muito melhor que a água da piscina.
Eu falei para não beber água de piscina, não falei?
Após apenas quatro minutos de exposição à luz solar, o material libera todos os íons de sal que foi absorvido da água e está pronto para ser usado novamente.
E não, não é pra agora. Como toda pesquisa, ainda está na fase laboratorial. Fazer acontecer pra valer mesmo demora, mas só em usar a luz do sol como fonte de energia já lhe faz superior às alternativas existentes no mercado ou em laboratório com o famigerado grafeno, que faz tudo, menos sair do laboratório.
A pesquisa foi publicada na Nature Sustainability.