Você não é nada sem seu intestino. O malvadão é que aguenta toda a merda que você apronta. Não apenas isso, você também não é nada sem as bactérias que estão lá, ainda mais que estas mesmas é que vivem na merda. As células do intestino e as queridas bactérias estão sempre lá, juntinhas, mas ainda não se sabe em detalhes como é essa relação entre o casalzinho.
Entretanto, isso vai mudar com uma nova pesquisa, que estuda a fabricação e utilização de um chip microfluídico que permite que bactérias e células epiteliais humanas sejam co-cultivadas, de forma que possamos entender e identificar o papel do microbioma lá naquele recantinho que você finge que não existe, até dar a primeira infecção.
O dr. Sasan Jalili-Firoozinezhad é pesquisador do Instituto Wyss, no departamento de Engenharia de Materiais Bioinspirados. Ele estuda como manipular materiais de forma que se assemelhem o que 3 bilhões de anos de evolução biológica conseguiu por tentativa e erro. Um dos seus focos é entender a dinâmica do microbioma, isto é, teve um vislumbre de tudo o que acontece dentro de nós, verdadeiros viveiros de outras criaturinhas vivas, seja ara o melhor ou pior.
Sasan parte do princípio que um dos principais obstáculos nas pesquisas envolvendo a maneira como o microbioma afeta o nosso corpo é a tendência das bactérias a rapidamente sobrecarregar e matar células humanas quando elas crescem juntas em um prato de cultura de células. Sim, pois é. Como seu cunhado, estas desgracentas se alimentam de tudo o que você dá a elas, ams se você bobear, elas acabam com a sua vida. Bando de vagabundos.
As bactérias também!
Muitas bactérias que crescem no lúmen intestinal são anaeróbias, o que significa que elas detestam ambientes com oxigênio livre. Aliás, oxigênio é outro cara maneiro, nos ajuda e tal, nos mantém vivos, mas ao mesmo tempo nos mata por ser um enérgico oxidante.
Pois é. As maravilhas de um projeto inteligente!
Sasan e seu pessoal e seus colegas desenvolveram um chip microfluídico que contém dois compartimentos separados por uma membrana porosa – um para uma cultura de epitélio intestinal humano vascularizado e outro para um microbioma complexo. Ao cultivar o dispositivo em uma câmara anaeróbica personalizada, os pesquisadores criaram um gradiente de oxigênio pelo qual as células humanas recebem o suficiente para crescer e sobreviver, mas as bactérias são expostas a condições de baixo oxigênio, que imitam a situação no intestino humano.
O que os pesquisadores chefiados por Sasan, que parece algum nome de pseudoremédico energético (Tome biotônico Sasan, e seja forte como Sansão!), conseguiram gerar um gradiente de oxigênio nos dois canais que ainda permite que o epitélio intestinal seja sustentado com a difusão do oxigênio através da membrana porosa, com um chip que monitora a concentração de oxigênio. Oxigênio demais mata tudo; bactérias e se bobear você também. O tal dispositivo hospedava uma enorme diversidade de bactérias, semelhante à observada no microbioma humano, e a camada intestinal formava uma barreira protetora de muco, como a do intestino humano. Em outras palavras, eles recriaram todo o ecossistema intestinal para saber como é a relação entre as bactérias e você.
Tem vídeo? Tem vídeo!
O vídeo mostra como as baixas condições de oxigênio no chip implantado no intestino permite um complexo microbioma humano com bactérias que aparecem como minúsculos pontos em movimento que existem em contato direto com as células epiteliais intestinais.
Qual a utilidade desse chip? Ainda nenhum, pois o estudo está no início, mas tem um futuro promissor em ajudar a regular nossa flora intestinal, de forma a evitar infecções entre outras doenças sérias no intestinão malvadão.
A pesquisa foi publicada no periódico Nature Biomedical Engineering