Toda criança é sádica, ou pelo menos as normais. Eu fiz, você fez e seu amiguinho de infância também cortou rabo de lagartixa pra saber se ela crescia de volta, ficava cotó ou virava o Godzilla. Claro, a geração leite-com-pêra e ovomaltine, criados numa redoma com merthiolate que não arde, são capazes de surtarem se virem uma lagartixa. Nossas amiguinhas geconídea tem muitos poderes, como subir pelas paredes (junto com as mulheres quando essas as olham). O que pouca gente sabe é que lagartixas têm capacidade de camuflagem, mudando sua cor para se misturar com o ambiente (não confundir com mimetização, que é quando o animal ou planta imita outro corpo, como é o caso do bicho-pau, que tem a forma de um gravetinho).
Mas, como é essa mudança de cor?
O dr. Domenico Fulgione trabalha no Departamento de Biologia da Universidade de Nápoles Federico II, que fica em Nápoles. Ele gosta de coisas que ficam subindo pelas paredes, mas não necessariamente a Dona Aranha ou isso aí que você está pensando. Fulgione estuda lagartixas, em especial as lagartixas-mouras (Tarentola mauritanica). Estas pequenas lagartixinhas têm uma peculiaridade: ao serem colocadas sobre superfícies escuras, elas mudam de cor. Em mais ou menos uma hora, sua pele me clara vai adquirindo tons cada vez mais escuros, até que combinem perfeitamente com o o lugar onde ela está.
Então seria assim: o bicho vê onde está e automagicamente o cérebro manda a ordem para a pele, a qual troca a padronagem de cor, Certo? ERRADO! Fulgione vendou as pobres lagartixas e o resultado foi que elas continuavam mudando de cor. A equipe de Fulgione encontraram uma pista importante quando eles repetiram o experimento e, ao enfaixarem as costas das lagartixas ao invés de suas cabeças, a camuflagem falhou miseravelmente. A camuflagem bem que tentou, mas o peixinho feliz estava visível. Tio Darwin não se deixou enganar dessa vez.
Este resultado maluco parece totalmente despropositado, mas aí entra a investigação científica. Os pesquisadores descobriram que a pele está cheia de opsinas fotossensíveis. Seriam pequenos "olhos" capazes de detectar claro/escuro, como os primeiros olhos realmente eram. Assim, estas opsinas mandam a informação pro cérebro, não os olhos propriamente ditos.
A pesquisa foi publicada no periódico Journal of Zoology.
Isso pode parecer novidade, mas não é. Alguns moluscos da ordem Sepiida tem uma capacidade de camuflagem tão grande que é capaz de imitar qualquer ambiente em que esteja repousando:
Assim como as lagartixas-mouras, o Choco aí de cima possui células da pele contendo opsinas ao longo do seu corpo. Mas, curiosamente, são daltônicos.
A forma como as opsinas agem, servindo de arma de proteção ao se esconder bem de predadores, nos ensina mais do que simplesmente técnicas de camuflagem. Elas explicam como os próprios olhos evoluíram