Há regras não escritas no universo. 1) Um pai fará qualquer coisa por seu filho. 2) Nenhum químico aceita "não" como resposta. Junte as duas coisas e teremos uma batalha épica, pois não existem limites quando se tem força de vontade. Esse é o caso do químico Bryan Shaw, que viu seu filho amargar a cirurgia de retirada dos olhos, ou o câncer iria passar ao cérebro do menino de 3 anos.
Entre dor, angústia, raiva, aflição e desespero, o pensamento analítico de Bryan mudou a culpa de "Por que não percebi antes?" para "Que merda, como posso impedir que isso aconteça de novo?".
Leucocoria não é bem uma doença. Eu diria sintoma, mesmo. Também chamada de "reflexo pupilar branco", é um reflexo branco que aparece na pupila, mas não é NA pupila.
Vamos falar sobre fotografia, primeiro. Antes, muitas fotos vinham com o problema dos Zóios de Satã, quando em qualquer fotografia com flash fazia com que as pessoas pareciam ter olhos vermelhos. Em ambientes mediamente iluminados, as pupilas estão abertas, permitindo a entrada de mais luz na retina. Em ambientes mais iluminados, as pupilas se fecham, como um diafragma (mesmo porque, diafragmas forma idealizados para regular a entrada de luz nas câmeras, simulando o papel das pupilas), assim, não entra um fortíssimo feixe de luz em nossos olhos, evitando danos na retina (isso não significa que você pode olhar pro sol, que mesmo com as pálpebras fechadas pode causar danos na sua querida retina.
O olho vermelhão acontece porque o disparo do flash dura uma fração de segundos, não dando tempo para a pupila se fechar, registrando o fundo da retina, irrigada por sangue e dando isso aqui:
À meia-noite vou estraçalhar seu cachorro, devorar sua mulher e mijar no seu X-Box!
Diferentemente, alguns animais, como gatos, cães e o demônio atrás da cortina, têm um brilho característico nos olhos, quando alguma fonte de luz incide em determinado ângulo sobre eles, fazendo com seus olhos "brilhem" de noite, apavorando qualquer um que veja e adorado por diretores de filmes de terror. Isso acontece por causa do tapetum lucidum, uma membrana imediatamente atrás da retina, que reflete a luz visível de volta através da retina, aumentando a luz disponível para os fotorreceptores, embora desfoque a imagem inicial da luz em foco. Em outras palavras, ele aumenta a luz disponível para a retina, o que pode ser muito ruim quando há excesso de luz, mas gatos, por exemplo, têm uma pupila em forma de fenda, que deixa uma fina área de absorção luminosa quando de dia, abrindo-se totalmente quando na escuridão.
Agora, vamos pro que eu realmente quero relatar.
A leucocoria não tem nada a ver com a visão noturna de felinos. É um sinal médico para uma série de condições, incluindo doença de Coats, catarata congênita, cicatriz corneana, melanoma do corpo ciliar e o retinoblastoma.
O retinoblastoma é um tumor maligno que se desenvolve na retina. Pode ser de origem hereditária ou não, e é decorrente de uma mutação num gene no cromossomo 13, mas isso seria se mutações existissem, mas todos sabemos que os seres vivos são fixistas, não sofrem nenhum tipo de mudança. A doença pode ser congênita ou manifestar-se nos primeiros anos de vida das crianças e afetar os dois olhos ou apenas um deles. O miserável não causa apenas cegueira, pode levar à morte, pois como todo câncer que se preza, ele não sossega se não se espalhar por tudo, afetando o cérebro. A saída, se não se diagnosticar a tempo, é a enucleação, ou seja, arrancar o olho afetado fora.
Mas a Natureza é perfeitinha e ética.
O dr. Bryan Shaw trabalha com Química Bioanalitica no Departamento de Química e Bioquímica da Universidade Baylor. Ele viu seu filho Noah sofrer de retinobasltoma e soube com tristeza que o menino teria que retirar o olho, aos 5 anos de idade. Se ao menos houvesse um sistema melhor para detectar o problema no início, Noah não precisaria ter seu olhinho removido. Talvez sim, talvez não. Bryan nunca saberá e isso o corroerá por longos anos. Mas ainda há um cientista dentro dele. E ele decidiu que se algo não existe, é preciso inventá-lo. Se algo existe, pode ser melhorado. Ele é químico e muito provavelmente disseram que ele não seria capaz de criar um sistema informatizado para detecção da doença. Como nenhum químico aceita a palavra "impossível". o dr. Shaw foi lá e fez.
Ele e sua esposa, Elizabeth, tinham visto a leucocoria em fotos de bebê quando Noah tinha 3 meses de idade , mas no momento em que as fotos foram tiradas , eles não sabia o que tinha acontecido. Muitos pais também não sabem. Bryan então pensou se não poderia fazer com que câmeras comuns, dessas que o pessoal usa no Chat Roulette para se mostrar (me disseram), para a detecção da leucocoria, evitando que outros casais passassem, como eles, por meses de quimio e radioterapia.
Bryan só precisava aprender a programar (algo que não é tão difícil), e depois ensinar o software a reconhecer a leucocoria logo de início (aí que a coisa pega). Para projetar o software, Shaw precisava encontrar o mais antigo exemplo de que a reflexão branca nos olhos do bebê Noah. Isso seria dizer-lhe o quão cedo você pode pegar um sinal da doença. Como sua esposa era fotógrafa amadora, tinha uma coleção completinha, com um mundo de fotos de Noah, desde bebezinho, e isso ajudou a Bryan a desenvolver o software.
Eu gostaria de dizer que o programa está completinho, pronto para ser baixado e usado por qualquer um. Mas a vida não é simples ou justa. Ele conta com a ajuda de pais de crianças com retinoblastoma de forma que estes possam enviar fotos dos filhos, afim de ensinar melhor o software a reconhecer os sinais logo de início.
Ele praticamente trabalha sozinho, mas ao olhar pro filho, o dr. Bryan Shaw vê a força necessária para levar seu projeto adiante. Ele pode fazer isso. Nós temos a tecnologia, só precisamos aperfeiçoá-la, e não custará tantos milhões de dólares assim. Só de contribuições de fotos para levar seu projeto adiante.
O exame de olhos vermelhos não é obrigatório por lei federal (nossos políticos estão mais preocupados em ficar batendo boca com apresentadora de programa infantil). Mas em alguns estudos estados é, como Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Desde junho de 2010 é obrigatório aos planos de saúde o pagamento para a realização do Teste do Olhinho, e o Sistema único de Saúde diz que está garantida a realização do exame em todos os municípios participantes da Rede Cegonha, só que menos de 50% dos municípios estão na Rede Cegonha, afinal é apenas saúde pública. Mas suponha que um simples celular pudesse fazer este exame. Não é ficção científica, já se usa o Peek Vision para outros tipos de exames oftalmológicos. Este software só seria a melhoria de algo que já funciona tão bem em comunidades afastadas, e melhor ainda nas grandes cidades. Basta haver interesse em ajudar.
Fontes:
Olá André, ótimo texto.
Só uma correção: no último parágrafo está escrito “Mas em alguns estudos é, como Bahia, Distrito…” Acho que vc quis dizer “Mas em alguns ESTADOS…”
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Em “O imperador de todos os males” mostra algumas fotos do câncer de olho em estágio avançado. É assombroso.
O que mais me deixou intrigado no post é como um Químico e uma fotógrafa não se atentaram antes a esse detalhe.
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