A preocupação com as notícias

Nós, do Ceticismo, Ciência & Tecnologia, sempre procuramos trazer informações e notícias aos nossos leitores. Tanto as notícias quanto nossos próprios artigos são revisados, à procura de alguma informação errada ou sentido obscuro. Chamamos isso de responsabilidade.

Agora, é claro que todos nós cometemos erros e, vez por outra, alguma gafe pode passar desapercebida. Contamos com nossos leitores para isso. Pena que nem todos pensam assim, como foi o caso da BBC e do G1 no que eu chamo de “O Caso do Peixe Highlander”.

Explico: A BBC Brasil trouxe uma notícia, cuja manchete é “Cientistas estudam peixe que vive sem sexo há 70 mil anos”. Como eu sou daqueles que gosta de provar o que eu falo, tirei um screen shot da pérola.

Só pela manchete, o que podemos extrair da informação? Que um único peixe teria 70 mil anos! Uaaaaaaau!

O pessoal do G1 pensou assim: Bom, já que a notícia é da BBC, podemos copiar direto, certo? Foi o que fizeram e o screenshot abaixo prova isso.

Enquanto isso, a turma do Terra percebeu que algo não ia bem ali. E alterou a manchete para “Espécie de peixe sobrevive sem sexo há 70 mil anos”. Isso muda totalmente o significado! Assim, uma espécie sobreviveu durante todo esse tempo. Como sua adaptação não foi nenhum malefício, impedindo que a espécie fosse extinta, a Seleção Natural atuou e ela se manteve. Lindo não é? Veja o screenshot.

Pena que há um pequeno erro também. hehehehe A notícia fala em sobreviver sem sexo. Isso, no meu entender, se refere a relações sexuais.

Infelizmente, para os pobres redatores – que não entendem nada de biologia em nível fundamental – reprodução sexuada e sexo são duas coisas totalmente distintas. Reprodução assexuada é aquela em que não há troca de gametas, isto é, formam-se clones naturais do ser vivo em questão.

Isso acontece em seres vivos pouco evoluídos, como no caso da estrela-do-mar. Basta você cortar um pedaço dela fora e os dois pedaços se regeneraram, dando origem a duas estrelas-do-mar. Se você fizer o mesmo com uma lagartixa, cortando o rabo dela fora, a pobre coitada até se regenerará, fazendo crescer um novo rabo. Mas, com certeza, o rabo extirpado não se regenerará até formar uma lagartixa completa.

No caso das reproduções sexuadas, há a participação de gametas, ou seja, papai e mamãe expelem seus gametas, estes se fundem e voilá! Mais um ser vivo (ou não, mas isso é o de menos).

Só tem um detalhe: Não é necessário ter relações sexuais para isso. Sapos, por exemplo. O macho convida a fêmea pra ir no cinema e comer (ops) um lanche. O papo tá bom, ambos lá no meio do pântano na maior conversa e o sapão pergunta: no meu brejo ou no seu?

Combinado o lugar, o macho expele seus espermatozóides na água (eca!), a fêmea expele seus óvulos e a natureza faz o resto. Houve reprodução sexuada? Sim, houve. Houve intercurso sexual (não se faça de inocente, você entendeu, ora bolas!)? Não.

E sobre a notícia? Bem, o referido peixe tem se reproduzido por meio assexuado, ou seja, sem a necessidade de parceiros.

Agora, um conselho aos redatores dessas pérolas jornalistas: Façam o dever de casa, gente. Apelar para a “otoridade” de uma fonte não fará de vocês uma fonte segura. Ainda mais num erro tão ridículo sobre um conceito de ensino fundamental. E prestem atenção aos comentários, pessoal. É ouvindo os outros que aprendemos, principalmente quando não é nossa área de excelência.

3 comentários em “A preocupação com as notícias

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