“Lixo genômico” é fundamental para a evolução dos mamíferos

Milhares de fragmentos de DNA recém-identificados podem ter um papel no desenvolvimento embrionário. Fragmentos minúsculos e “saltitantes” de DNA estão perdendo o rótulo de “lixo genômico” para assumir um papel significativo na evolução dos mamíferos, de acordo com um novo estudo.

Pesquisadores descobriram mais de 10 mil seguimentos curtos do que pode ser DNA funcional em partes do genoma humano que não têm nenhum papel óbvio – o chamado “DNA lixo”, que constitui 95% do genoma. Os segmentos parecem ser fragmentos de transposons, pedaços de DNA capazes de se copiar e se inserir em novos locais, milhões de vezes.

“Uma das perguntas importantes é: onde o novo DNA funcional aparece no genoma?”, diz Gill Bejerano da Stanford University, que participou do estudo. “Acho que nos deparamos com uma força nunca valorizada antes”.

Bejerano e seus colegas identificaram os fragmentos de transposon procurando seqüências de “DNA lixo” quase idênticas em seis espécies de mamíferos – humanos, chimpanzés, macacos rhesus, cachorros, camundongos e ratos. Os pesquisadores consideram essas similaridades um sinal de que a evolução guardou o DNA para alguma função. Caso contrário, erros pequenos se acumulariam.

Eles compararam as seqüências conservadas com aquelas encontradas no genoma da galinha, para remover qualquer um que estivesse presente antes da evolução dos mamíferos. Em um estudo publicado online no Proceedings of the National Academy of Sciences USA, a equipe afirma que 5% dos elementos exclusivos dos mamíferos eram similares em seqüência aos tranposons. Bejerano diz que a fonte dos 95% restantes continua indefinida.

Apesar de serem encontrados nos chamados “desertos de genes” (onde os genes são dispersos), os elementos de transposon preservados ficam a uma distância impressionante dos genes ativos durante o desenvolvimento embrionário, incluindo todos os membros conhecidos de um atalho bioquímico que ajuda uma célula a se unir a outra.

As funções reais dos elementos preservados ainda não foram testadas, mas a proximidade sugere que a evolução pode ter aproveitado esses pedaços de DNA lixo para controlar as atividades de genes que estão por perto, afirma Bejerano.

Dessa maneira, os genes podem se tornar ativos em lugares novos e em períodos novos, contribuindo para as diferenças entre as espécies. Os pesquisadores tinham encontrado poucos exemplos de elementos de transposon conservados antes, mas em casos isolados. “Esse é um fenômeno genômico que parece ter um papel significativo”.

No entanto, 95% do DNA lixo conservado permanece um mistério. O próximo passo é descobrir de onde ele vem.

Fonte: Scientific American Brasil