Mapa do cérebro de camundongo revela segredos de mamíferos

Por Marília Juste, do G1

Mais de 21 mil genes foram catalogados em banco de dados gratuito. Feito pode ajudar no tratamento de doenças neurodegenerativas.

O cão pode ser o melhor amigo dos homens comuns, mas o preferido dos cientistas ainda é o camundongo. Não é de se estranhar, portanto, que um grupo deles esteja se dedicando exclusivamente a fazer um mapa para que seus colegas possam navegar tranqüilamente pelos mistérios do cérebro de suas cobaias preferidas. O trabalho, feito no Instituto Allen de Ciência Cerebral, em Seattle, nos EUA, resultou em importantes descobertas, que serão publicadas nas próximas semanas em uma das revistas científicas mais prestigiadas, a Nature.

A importância do levantamento é grande. Entender como o cérebro dos camundongos opera é um passo importante para desvendar segredos dos cérebros de todos os mamíferos – inclusive do homem, que divide mais de 90% de seus genes com esses animais. Com isso, os pesquisadores acreditam que deve ficar mais fácil encontrar tratamentos, e até curas, para doenças como Alzheimer, Parkinson, epilepsia, esquizofrenia e autismo.

O que o grupo de cientistas fez foi unir neurociência e genômica para detalhar exatamente o que cada gene faz no cérebro. Os genes “fabricam” proteínas e a combinação delas é responsável pelas características do sistema nervoso central dos mamíferos. Ao todo, mais de 21 mil genes foram catalogados. O estudo mostrou quais deles estão ativos em quais partes do cérebro, ligando cada um a uma função específica.

Para Traci Paulk, do Instituto Allen, o trabalho é “uma espécie de Google da atividade genética no cérebro”. “Com ele, os cientistas reduzem drasticamente o tempo gasto na identificação de potenciais linhas de pesquisa e podem partir logo para a fase de investigação. Gostamos de pensar que estamos presenteando a ciência mundial com ganho de tempo”.

Ao fazer o banco de dados, os cientistas já começaram a registrar alguns resultados interessantes. Entre as descobertas, está o fato de que cerca de 80% dos genes são ligados no cérebro – anteriormente, acreditava que seriam apenas de 60% a 70% deles. E também que poucos genes são ativados em apenas uma área do cérebro, o que pode melhorar as pesquisas sobre os efeitos colaterais de certos medicamentos.

“Os dados revelam a incrível complexidade estrutural e celular do cérebro. É uma complexidade que ressalta a natureza desafiadora de toda pesquisa científica nessa área”, diz Paulk.

O material – composto por aproximadamente 85 milhões de imagens e mais de 600.000 gigabytes (para Paulk, “20.000 iPods”) – está disponível para qualquer cientista, gratuitamente, no site do Instituto.

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