Em geral, cientistas não ficam chocados ao lerem artigos de seus colegas, pois estão mais ou menos a par do que vem acontecendo na área. Esse não foi o caso de um resultado de física experimental no qual um pulso de luz foi injetado em um aglomerado de matéria e resgatado em outro local, intacto. O trabalho pode ter implicações importantes para o desenvolvimento de computadores quânticos e armazenamento de informação através da luz.
Michael Fleischhauer, da Universidade de Kaiserslautern (Alemanha), confessou que não pôde acreditar quando leu pela primeira vez os resultados do grupo de Lene Hau, da Universidade de Harvard (Estados Unidos). Em seu comentário na mesma edição, ele diz que o fenômeno parece “magia negra”. “Mas é, também, mecânica quântica”, completou na mesma frase.
Há poucos anos, a equipe de Hau já havia ganho destaque na mídia por fazer a luz diminuir a sua velocidade de 300 mil km/s para meros 60 km/h (a velocidade de um ciclista) depois de passar pela matéria. Agora, outra façanha: ela e dois outros pesquisadores incidiram um pulso de luz sobre um aglomerado superfrio do mesmo tipo de matéria conhecido como CBE (Condensado Bose-Einstein), que se comporta como se fosse um átomo gigante. Com a ajuda de um feixe de laser para controlar a experiência (ele incidia sobre os dois CBE’s ao mesmo tempo), a informação contida no pulso ficou armazenada no primeiro CBE. Portanto, velocidade zero.
No entanto, a energia do pulso fez com que alguns átomos desse primeiro aglomerado ficassem mais energéticos (os físicos dizem que eles passaram a estados excitados) e, com isso, se movessem em direção do segundo CBE e lá fossem absorvidos. Os dois CBE’s foram preparados de forma independente e estavam separados por 160 milésimos de milímetro.
Quando o laser de controle voltou a incidir sobre os dois CBE’s, o pulso de luz foi recuperado do segundo, com características idênticas ao primeiro pulso, apenas um pouco mais fraco no quesito energia.
Esses resultados, dizem os especialistas, serão certamente úteis para o desenvolvimento do computador quântico, que promete resolver em segundos tarefas que levariam milhões de anos para o mais veloz computador atual. Poderão também ser desenvolvidas formas de armazenar luz na matéria e posteriormente resgatá-la, juntamente com a informação nela contida.
Fonte: Ciência Hoje – março/2007
