Observando a evolução de 500 gerações de 100 populações, cientistas da Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça, conseguiram estabelecer algumas hipóteses sobre como e por quê a comunicação evoluiu entre os seres vivos, e como a capacidade de trocar informação pode levar a estratégias para cooperar e enganar. A análise, no entanto, não envolveu formas de vida reais, e sim robôs.
Inicialmente, os pesquisadores usaram robôs virtuais: programas de computador que simulavam não apenas o software de controle das máquinas, mas também o comportamento esperado dos aparelhos, seguindo um modelo de ambiente baseado nas condições dos robôs físicos. Ao final do “processo evolutivo”, os programas foram implementados, testados e aprovados em uma geração final de robôs de verdade.
Na fase virtual, os pesquisadores estudaram as mudanças no comportamento de 100 colônias de dez robôs cada. A movimentação das máquinas era definida por programas que podiam se misturar e mudar de uma geração para a outra, numa simulação da reprodução sexuada.
O processo se desenrolou por 500 gerações, em meio a um ambiente no qual existia uma “fonte de alimento”, que os robôs precisavam encontrar, e uma “fonte de veneno”, que deveriam evitar. O sinal trocado entre os robôs era uma luz azul, que com o tempo evoluiu para significar a proximidade do alimento.
Uma questão que o experimento enfrentou, na prática, foi o efeito da comunicação na sobrevivência do indivíduo e do grupo: afinal, um robô que anuncie onde está a comida corre o risco de ser “pisoteado” pelos demais, já que a fonte de alimento só comporta um número limitado de indivíduos ao seu redor. Já um robô que omita a informação dos demais põe a continuidade da população em perigo.
Em seu artigo, os cientistas notam que “este arranjo imita a situação natural, onde comunicar-se quase invariavelmente gera custos, em termos da geração do sinal e do aumento da competição por recursos”.
Parentesco
O estudo determinou que, quando os robôs tinham baixo nível de parentesco, ou a seleção era individual – isto é, os “genes” que compunham os programas individuais não eram compartilhados por todos, ou a geração seguinte de robôs era formada apenas pelos indivíduos mais bem-sucedidos – surgiam estratégias enganadoras: os robôs aprendiam a mentir para os demais, emitindo luz azul quando estavam bem longe da fonte de comida, afastando os outros do alimento.
Já quando o grau de parentesco era alto ou a seleção se dava por grupo – os programas de todos os robôs eram parecidos, ou a geração seguinte era formada não por indivíduos selecionados, mas por representantes escolhidos entre os grupos mais bem-sucedidos – a comunicação evoluía de forma altruísta.
O artigo descrevendo o estudo, assinado por Dario Floreano e colegas, publicado na edição desta quinta-feira, 22, do periódico Current Biology, conclui que “formas sofisticadas de comunicação, incluindo formas de cooperação e sinais fraudulentos, podem evoluir em grupos de robôs com redes neurais simples”.
Os pesquisadores descobriram, ainda que, quando um sistema de comunicação se estabelecia entre os robôs, sua presença tendia a impedir o surgimento de sistemas alternativos, mesmo que fossem mais eficientes. Essa determinação pode explicar, sugerem os autores, as ineficiências dos sistemas de comunicação “evoluídos biologicamente”.
Fonte: Estadão
