Normalmente, eu reservo as sextas-feiras para alguma história inusitada, engraçada, curiosa ou absurdamente louca. Não por acaso, eu a chamo de Sexta Insana, o que não é nem um pouco criativo. Muitos dão nomes assim “_______ insana”. Enfim. Talvez eu fosse catar alguma maluquice assim, mas não. Não é uma semana boa, porque 3 gênios nos deixaram. Pessoas que eu acompanhei na infância/juventude. Alguns podem ver algo de ruim nisso, e lágrimas são vertidas; mas, como diria Gandalf, nem todas as lágrimas são um mal.
Sócrates disse que a vida é um caminhar para a morte. Talvez sim, e este seja o fatalismo último. Tudo acaba em morte e nós acabamos num fim, muitas vezes anônimo. Alguns vivem uma vida plena e deixam marcada na história um legado. Esta semana perdemos três artistas. Uma embaladora de sonhos com suas músicas, um comediante quando comediantes eram engraçados e um exemplo.
Gal Costa nos deixou, eu me lembro, ao pé de um aparelho de som, um disco seu rodando em 33 rotações, com a melodia de sua voz enchendo o ambiente. Era uma voz cálida, como quando estava cantando Baby, até a festeira cantando justamente Festa do Interior. Se a poesia é voz do coração, logo a música é a voz da alma, já disseram antes. A alma que nos abraça e comove, que nos muda o ânimo, o estado de espírito, nos deixa reflexivos, nos alegra, nos entristece, mas dificilmente nos deixa apáticos. Mas uma voz canora como a de Gal não se apaga quando sua dona se silencia. Ela ainda permanecerá por muito tempo.
Outro nome que nos deixou foi Roberto Guilherme, mas talvez muitos não associem o nome à pessoa. Certamente, lembrarão do Sargento Pincel, um dos poucos militares que não eram uma mancha de vergonha neste país. O Sargento era uma figura engraçada e, como falei, um dos últimos humoristas a fazer humor e ser engraçado. Não os standapeiros ou os que ficam puxando briga em rede social para se tornarem relevantes, pois suas obras mesmo não sobreviverão. Eu era criança e morria de rir com as trapalhadas dele e a turma do Didi. E quando lembro das cenas, eu volto a sorrir, pelo artista que ele era, pelo esforço em trazer um sorriso e alegria para aquele que o assistiam.
Por último, mas não o último. Hoje chegou a notícia do falecimento de Kevin Conroy, que desde os anos 90 tem sido “A” voz do Batman em animações e vídeo games. Ele até fez uma participação no Crossover Crise nas Infinitas Terras, da CW. A voz dele era inconfundível, todos o reconheciam pela voz, o que é uma marca deixada. Aí, eu já era adulto, corrigindo prova e preparando trabalho, deixando passar a série animada no som original. Não a vi dublada, pois, o horário que passava não era condizente com os meus horários. Ainda assim, eu vi, e a voz de Kevin enchia a tela e transbordava para o ambiente. Era o Batman!
Eu poderia colocar fotos, vídeos e entrevistas. Mas eu não quero fazer isso. Quero continuar lembrando dos momentos que eu passei, não momentos de outros eventos. Não são esses que me interessam. O que me interessam são as memórias, o sentimento que eu tive ao entrar em contato com a obra desses magníficos artistas pela primeira vez. Não será a mesma coisa se eu puser um vídeo qualquer. Será ótimo, mas me faltará algo.
Talvez vocês tenham as suas memórias afetivas com eles, talvez não. Eu só postei porque eu realmente sentirei falta deles, e lamento profundamente esta perda para seus familiares, que obviamente estarão sentindo um pesar muito mais intenso do que uma criança que ficou ouvindo música num dia de domingo, um palhaço que fazia ordem unida com a intenção de fazer graça e não fazendo graça achando que está fazendo ordem unida e um ator que só pela voz deu vida, alma e personalidade a um desenho em quadrinho que ganhou as telas de TV graças a um desenho que era para só sair em DVD e mais nada.
Meus profundos agradecimentos a vocês três, Gal, Roberto e Kevin. Vocês se foram, mas suas obras permanecerão, e como diz o Tao Te King: aquele que morre, mas não perece, alcança a imortalidade.
Já que vc disse da Gal Costa, no mesmo dia que ela se foi, também se foi o Rolando Boldrin.
Como eu vi (e li) num comentário num site, cada vez mais se vai o sertanejo e fica o sertanojo.
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