E no doce mundinho de Qward, no Universo de Anti-matéria, as coisas que já eram estranhas acabam se mostrando mais bizarras ainda. Se por um lado os serviços públicos costumam ser ridiculamente precários, toscos, mal feitos e criminosamente ineficientes, pelo outro é pior ainda.

Junte isso tudo com creme de leite, açúcar e um culto evangélico e caminhamos para o que vemos todos os dias no Brasil.

La sereníssima Fátima, no uso de suas atribuições, resolveu me dar mais uma prova como são excelentes os atendimentos à população aí no Brasil. Ninguém espera muito dos serviços públicos brasileiros, mas eles são necessários e não se tem como fugir. Nós, de Tuvalu, achamos isso estranho, mas a população brasileira parece ter se acostumado (ou se acomodado). Assim, de posse de coragem, algumas pessoas se armam de paciência e tentam conseguir algo de funcionários que se importam tanto com você como eu me importo com o que mora no ralo do meu banheiro. Foi o caso dos pobres diabos que dependeram dos serviços que deveriam ser prestados numa delegacia em Guarapari, Espírito Santo (ironia pouca é bobagem).

Tal qual o Inferno descrito por Dante, em repartições públicas com conceito A no Provão da Tosqueira deveria ter um cartaz escrito “Lasciate ogni speranza, voi che entrate” (não traduzo. Vai estudar!). Na parede do Departamento de Polícia Judiciária de Guarapari não tinha este cartaz, pois os meganhas de lá não se entendem bem com idiomas complexos, como português de Ensino Fundamental. Assim, eles colocaram outro cartaz. Este que você está vendo aqui do lado.

Às quartas-feiras acontece um culto religioso entre 9 e 10h da manhã. Zé Povinho que espere! A espera por atendimento gerou indignação por parte da população, mas provavelmente você não soube disso, pois aquelas pessoas não possuem conta no Twitter.

O chefe da delegacia, Paulo Rogério Souza, afirma que o culto não interfere no atendimento, e mesmo que interferisse, como foi provado depois, ele diria que isso é alguma articulação de Satã para desviar as pessoas do caminho da paz de Jesus, que mandou comprar armas e meteu a porrada em um monte de camelôs no templo.

A digníssima senhora Lígia chegou antes das 9 horas ao DPJ para tirar o documento de identidade e ficou chupando o dedo até depois das 10 horas. A revolta foi maior ao se deparar com o cartaz, dizendo que o motivo da espera seria a realização de um culto religioso. Claro, esta indignação é velada, pois se reclamar é bem capaz de ser rpesa por ofender funcionário público, os nossos queridos “Barnabés”.

Segundo informação que deram a ela, eram ordens superiores e (meio que na surdina) ela que calasse a boca, pois ali tinha otoridade.  O delegado chefe do Departamento de Polícia Judiciária de Guarapari, Paulo Rogério Souza da Silva, confirmou que o culto é realizado no local semanalmente, mas, segundo ele, não interfere no atendimento à população. Mesmo porque, o país é laico e isso significa que um bando de funcionário vagabundo, escroto, bandido, safado e preguiçoso deixe de atender a população, pois o deus VAGABUNDO deles precisa ter a porra do saco puxado, caso contrário a bandidagem poderia ser condenado ao Inferno (no Rio, há um adágio: a diferença de bandido pra polícia é que só um usa farda).

Ao ligar para a ouvidoria da polícia, Dona Lígia tomou uma dose do xarope que mostra como é o corporativismo, já que eles disseram que tinha que ir até a capital, Vitória, para reclamar, com orientação de procurar a Corregedoria da Polícia Civil. Isso traduz um excelente modo de impedir que o cidadão faça valer seus direitos. No mundo da Ditadura Branca chamada Brasil, você não tem direitos. Só tem o direito de permanecer calado ou entra na porrada.

Em nota, a Polícia Civil informou que o atendimento durante a quarta-feira (10/08) aconteceu normalmente, como coisa que eles iriam falar algo diferente.

É vergonhoso termos que aturar disparate semelhante, não pela reza em si. Por mim, o cara pode até sacrificar-se em honra ao Falo Santo do Boi Ápis. O que não pode é aquele bando de energúmenos simplesmente ignorar a função pela qual recebem religiosamente seu salário (“religiosamente”, entenderam? Eu sou um piadista!), por causa da merda de um culto em honra a um defunto qualquer. Fico imaginando que todos ali devam ser obrigados a participar da tal reza, na base do “senão…”

Mateus 6:5-6 – E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.

Nem pra crentes eles servem!

Fonte: G1