O fóssil de um animal parecido com um musaranho, descoberto há uma década no Deserto de Gobi (Mongólia) deu origem a uma das pesquisas mais abrangentes sobre a origem dos mamíferos placentários, a grande maioria dos mamíferos de hoje (com exceção de marsupiais e animais que botam ovos, como o ornitorrinco).
“É claro que ficamos animados ao encontrar algo bem preservado do Cretáceo (período compreendido entre 145 milhões e 65 milhões de anos atrás)”, diz John Wible, do Museu Carnegie de História Natural em Pittsburgh e principal autor de um estudo que conclui que os mamíferos placentários se originaram há cerca de 65 milhões de anos, entre os períodos Cretáceo e Terciário, quando os dinossauros desapareceram. “O fóssil em si não é tão interessante assim, mas nos levou a um estudo notável”.
Para classificar e verificar a idade do fóssil mongol adequadamente – estima-se que o Maelestes gobiensis tenha entre 71 milhões e 75 milhões de anos –, Wible e sua equipe o compararam com 409 características de crânios, dentes e vestígios de esqueletos de outros animais, desde mamíferos de hoje até bichos que viveram há mais de 100 milhões de anos. Em uma tentativa para determinar se ele era um mamífero placentário, os cientistas construíram uma árvore mapeando a evolução desse tipo de animal, começando no Cretáceo. “Queríamos descobrir o que nosso fóssil era”, diz Wible, “e testar se algum outro fóssil do Cretáceo poderia ser placentário”.
Wible e seus colegas, no estudo publicado na revista Nature, afirmam que, ao terminarem a análise e classificação dos espécimes, descobriram que nenhum do Cretáceo parecia ser um mamífero placentário; ou seja, esses mamíferos provavelmente evoluíram há 65 milhões de anos – o que corroborara a conhecida teoria do “modelo explosivo”, que afirma que a morte dos dinossauros abriu caminho para o florescimento dos mamíferos. “Os dinos desapareceram e os mamíferos placentários se aproveitaram dos nichos deixados por eles”, diz Wible.
J. David Archibald, da San Diego State University, considera o novo estudo a análise mais abrangente já realizada sobre a evolução dos mamíferos placentários com base nas formas dos fósseis. Mas criticou a conclusão, ressaltando que estudos anteriores indicam que alguns mamíferos placentários estavam presentes no Cretáceo Superior.
Wible reconhece que ainda já muitas questões a serem respondidas. “Um dos problemas é que temos que lidar com o registro fóssil, que é imperfeito”, ele diz. “Não temos formas de vida do Cretáceo perfeitamente distribuídas em cada continente”. Mesmo assim, ele afirma que a idade é relativa, especialmente quando se trata de milhões de anos. Wible cita um estudo recente, conduzido por uma equipe internacional de especialistas em biologia molecular que usaram o DNA de mamíferos placentários de hoje para estimar que seus ancestrais tivessem aparecido há mais de 100 milhões de anos. “No futuro, eu não ficaria surpreso se encontrasse um placentário do Cretáceo de 80 milhões de anos – o que são outros 10 milhões ou 15 milhões de anos?”, pergunta Wible. “Por outro lado, seria uma grande surpresa encontrar um placentário do cretáceo de 120 milhões de anos.”
Fonte: Scientific American Brasil
