Pareidolia e o Vale da Estranheza

Eu sempre prefiro abordar as bases que fundamentam e explicam os meus artigos, antes de entrar no foco principal. Não sou adepto de estilos na base do “vai lá, vem cá”, fazendo o leitor ficar que nem iô-iô (agora com esta porcaria de reforma, eu não sei se essa palavra tem acento ou não). Assim, não estranhem a introdução, ela é fundamental para a compreensão do artigo como um todo.

Já foi sentenciado e não tem nenhuma escapatória! É fato que somos máquinas biológicas, destinadas a uma única coisa: reprodução e gerarmos descendentes. Para isso, precisamos de parceiros(as) – a menos que você seja uma bactéria (aí você se livra de muitos problemas, como sogras, por exemplo).

Nenhuma espécie biológica subsiste, de uma forma geral, sozinha. A Evolução nos deixou um legado de vida em sociedade e a Seleção Natural tem tudo a ver com isso. Indivíduos que convivem em grupos possuem maior capacidade de sobreviverem, gerando mais descendentes, do que aqueles que vivem solitariamente. Para isso, os indivíduos desenvolvem um processo de reconhecimento desde nascença.

Todo mundo acha lindo um bebê. Aquela coisinha rosadinha, fofinha e sorridente derrete o coração de qualquer um (não estou levando em consideração as fraldas sujas). E isso se torna mais acentuado quando ele nos reconhece, não é mesmo? É algo mágico! Só que a magia é orquestrada mais uma vez pela Seleção Natural.

Eu sei que é desconfortante saber que somos apenas uma máquina biológica; que nascemos adaptados a nos reconhecer mutuamente. Isso vem do fato que os que não possuíam esta capacidade, não foram reconhecidos como “um de nós”, isto é, seus pares os estranharam também, largando o dito cujo pra lá como sendo mais uma “coisa”. Aqueles que conseguiam reconhecer, e demonstrar alguma empatia, eram aceitos e protegidos, sobrevivendo, crescendo, gerando descendentes etc.

O trecho abaixo foi extraído do livro “Macaco Nu”, de Desmond Norris (você poderá baixar o livro AQUI).

Parece que a reação do riso evoluiu a partir do choro, da maneira seguinte, como um sinal secundário. (…) O seu aparecimento coincide com o início do reconhecimento dos pais. Pode ser uma criança sisuda a que reconheça o próprio pai, mas é sempre uma criança risonha a que reconhece a mãe. Antes de aprender a identificar o rosto da mãe e a distingui-lo do de outros adultos, um bebê pode gorgolejar e balbuciar, mas não ri. Quando começa a conhecer a própria mãe, começa também a ter medo dos outros adultos. Aos dois meses, qualquer cara mais velha serve, todos os adultos amigáveis são bem recebidos. Em seguida começa a amadurecer o medo do mundo em volta e a presença de qualquer pessoa desconhecida é capaz de incomodá-la e desencadear o choro. (Mais tarde, não demorará muito a aprender que alguns outros adultos também podem compensá-la e perderá o medo deles, mas isso obedecerá a uma certa seleção, baseada na identificação pessoal).

Como resultado desse processo de ligação à mãe, o bebê pode encontrar-se envolvido num estranho conflito. Se a mãe faz alguma coisa que o assuste, transmite-lhe dois tipos de sinais opostos. Por um lado, indica-lhe: “Sou a tua mãe, o teu protetor pessoal: não tenhas medo”, e, por outro: “Atenção, vais levar um susto”. Esse conflito não pode acontecer antes de o bebê reconhecer individualmente a mãe, porque nesse caso, se ela fizesse alguma coisa que o assustasse, seria apenas a origem de um estímulo assustador. Mas agora a mãe indica-lhe ao mesmo tempo: “Há perigo, mas não há perigo”, ou, por outras palavras: “Pode haver certo perigo, mas, como parte de mim, não precisas tomá-lo a sério”. Como resultado, a criança dá uma resposta que é ao mesmo tempo uma reação de choro e um gorgolejar por reconhecer a mãe. Essa combinação mágica produz o riso. (Ou melhor, produziu num dado momento da evolução. Desde então, o riso fixou-se e desenvolveu-se como uma resposta independente).

Dessa forma, mostra-se que o reconhecimento facial e a demonstração de empatia e “aceitação” para com nossos pais torna-se vital no tocante à nossa sobrevivência. Devemos, portanto, nascer com uma capacidade de reconhecer rostos, para podermos diferenciar quem são nossos pais dos que não são; e é justamente isso o que acontece, pois já nascemos com esta capacidade cognitiva, de acordo com a pesquisa de Dóris Tsao, que na época pesquisava os padrões específicos de reconhecimento de faces em macacos, na Harvard Medical School. Mais tarde, em colaboração com Sebastian Moeller e Winrich A. Freiwald, ela usou eletrodos para estimular neurônios em padrões específicos relacionados a rostos, enquanto observavam o restante do cérebro com o auxílio de imageamento de ressonância magnética funcional – fMRI. Este estudo foi publicado na edição da revista Science, em junho de 2008.

Mas, o que isso tem a ver com as esquisitices da pareidolia e ver Jesus numa torrada?

Tudo a ver, pois nascemos já com uma região do cérebro – em locais específicos do lobo temporal – com a capacidade de reconhecer rostos. Assim, aprendemos logo de início a reconhecer nossos pais, nossos parentes, vizinhos etc., numa hierarquia de valores e importância que aprendemos a atribuir ao longo da vida. Isso somado ao fato de aprendermos a identificar quem não pertence ao nosso grupo, caracterizando um possível inimigo natural.

É por causa disso que, de uma maneira geral, casais que querem adotar filhos possuem a disposição natural (ainda que inconsciente) de escolher crianças que se aparentem com eles mesmos. A tendência natural de dar continuidade à espécie, tendo (indiretamente) indivíduos semelhantes a si, perpetuando (ainda que de forma não natural) o máximo de genes semelhantes aos seus, como Richard Dawkins costuma dizer, ao se referir a genes egoístas.

Obviamente, isso não é uma regra fixa e imutável, pois alguns pais não se importam com o fenótipo da criança, levando pais brancos a adotarem crianças negras ou amarelas. Biologia não é ciência exata e existem muito mais interferências em vias psicológicas do que se pode supor, pois nosso comportamento é moldado ao longo do tempo, sofrendo muita influência do meio no qual vivemos.

Levando tudo isso em conta, podemos dizer que os seres humanos sempre procuram encontrar padrões facilmente reconhecidos (muitas vezes onde esses padrões não existem). Padrões que os levem a uma situação cognitivamente confortável, já que o desconhecido sempre acarreta medo e insegurança, mais uma vez devido ao nosso senso de auto-preservação. Por exemplo, ande sobre uma mureta estreita a cerca de 35 cm do solo, com espaço apenas para um pé de cada vez. Você consegue se equilibrar sem muito esforço. Agora, pense que você está sobre um parapeito, também com espaço para um pé de cada vez, mas a 35 metros do solo (mais ou menos a altura de um prédio de 10 andares).

Imagino que só de pensar nisso já te dá desconforto, não é? Ok, vamos para outro experimento. Agora, andando na mesma mureta a 35 cm do solo, mas com os olhos vendados. Você sabe que está a menos de meio metro do solo. Você sabe que está nas mesmas condições. Mas, ainda assim sente um desconforto, porque não consegue ver. Vem aí um medo do desconhecido. Obviamente, com treino você conseguirá superar este medo (ou não) e cegos sequer são afetados por isso, por motivos óbvios.

Não fomos feitos para o desconhecido, por isso as pessoas de uma maneira geral têm medo da morte e de coisas tidas como “inexplicáveis”. Fomos feitos para procurar padrões que se encaixem no nosso conhecimento de mundo. Procuramos padrões que nos façam nos sentir “em casa”, com figuras que para cada um de nós é sinônimo de conforto. E quando estamos ávidos por procurar padrões em todos os lugares, fatalmente os encontramos; não porque eles existem, mas porque os fabricamos. Nosso subconsciente preenche lacunas de informações com fragmentos de suas próprias experiências, criando padrões que muitas vezes não existem, mas queríamos que existisse. É nisso que se baseia o teste de Rorschach, que consiste em dar possíveis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta simétricas onde, a partir das respostas obtidas, pode-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indivíduo. Obviamente, dado ao seu critério extremamente subjetivo, o teste de Rorschach é muito criticado, apesar dele ainda ser largamente empregado.

É engraçado como tudo isso depende de nosso subconsciente. Um exemplo tirado do site Skeptic’s Dictionary ilustra isso. Vendo uma mancha de suor numa camisa (clique na imagem para ampliar), podemos relacionar com duas coisas: ou um símbolo nazista ou uma suástica, que é um símbolo budista (na verdade, os nazis usaram este símbolo, a fim de ilustrar um Reich que duraria mil anos, mas que falhou miseravelmente).

Suor. Nazista ou discípulo de Buda?

Dependendo de sua formação, você relacionará ou com uma coisa ou outra. Isto é, budistas verão primeiro como sendo o símbolo de sua religião, mas de uma maneira geral, as pessoas farão uma ligação com o símbolo daquele austríaco maluco. Mas, trata-se apenas de uma mancha de suor e duvido muito que as glândulas sudoríparas do sujeito sejam fascistas ou tenham alguma religião.

A pareidolia é quando o cérebro procura padrões em todos os lugares. E isso baseado no que a pessoa quer ver (ainda que de forma inconsciente). É comum entre os católicos verem a imagem da Virgem Maria em tudo que é vidraça. Um exemplo disso foi quando uma suposta imagem da Virgem Maria surgiu numa vidraça de uma casa em Mogi das cruzes, São Paulo. O detalhe é que nem a própria Igreja Católica admitiu que fosse a imagem dela, mesmo porque, só se vê uma mancha que parece ser algo com um manto ou capuz ou sei lá o quê. Mas, se procurarem na net, dificilmente verão uma outra foto de um ângulo diferente. É quase certo que um protestante nunca veria a imagem da Virgem lá, simplesmente porque eles não a aceitam como digna de veneração.

Jesus está em todos os lugares

Jesus tá te vendo

Agora, se tem uma coisa que tanto católicos quanto protestantes não divergem é quando aparece uma imagem de Jesus. Por que será? Costumam vê-lo em torradas, em manchas de sangue e em muitos lugares. Não é de admirar, então, que vire piada geral (e é claro que eu irei adotar também) o fato de Jesus aparecer na bunda de um cachorro.

Prestou bem atenção ONDE fica a cabeça de Jesus na foto? :-D

E isso não acontece só com figuras cristãs. Os muçulmanos também vêem suas representações, como foi o caso do pessoal que viu o nome de Alá num pedaço de carne, num restaurante nigeriano. Como mostrei no artigo, se olharmos a imagem de ponta-cabeça, aparecerá um M. Madonna nos ama.

Tudo isso é produzido dentro de nosso cérebro. Os próprios emoticons são uma representação da pareidolia, afinal, um símbolo de “dois pontos” e um “fecha parênteses” podem simbolizar uma carinha feliz :) ; mas se for um “abre parênteses”, será uma carinha triste :( . Agora e se for ponto entre parênteses? (.) O que você vê? Ou melhor, o que você QUER ver? ;-)

O fenômeno religioso precisa de algum meio de demonstrar que deuses, santos, beatos, espíritos etc estão entre nós. Religiosos dizem que não precisam provar nada, que somente a fpe basta, mas não é verdade. No fundo, no fundo, eles precisam de algo pra reforçar a sua fé. Necessitam de alguma mensagem, imagem, som ou palavra que faça sentido (para eles) e reforce a sua fé. Existem muitos sites questionadores como o Ceticismo.net. Se dependessem apenas de seus livros religiosos, com suas figuras mítica e histórias absurdas, ninguém seria religioso. Assim, resta aos embusteiros padres, pastores, videntes etc. criarem algum modo de mostrar que aquelas histórias se referem a algo que seja “real”. E é por isso que receiam em mostrar alguma prova. Não poderiam. A pareidolia é algo particular. Algumas pessoas dizem que tem uma imagem de São jorge na Lua. Eu nunca consegui ver nada assim. Outros dizem que tem um coelho lá. Faça a sua escolha e seja feliz, são apenas crateras, mas se uma imagem que seu próprio cérebro cria o deixa mais tranquilo, que seja.

A pareidolia nem sempre é visual, mas auditiva também. Isso ficou evidenciado quando um bando de pais toscos ficaram horrorizados com o caso da “boneca satânica” que, assim como no caso daquela lenda urbana sobre a maldição do boneco do Fofão, apareceu um bando de idiotas aterrorizados com uma boneca cuja fala gravada supostamente evocaria o Capetão, conforme postamos anteriormente e o Kentaro Mori também noticiou. Estes são exemplos onde a pessoa ouve o que espera ouvir, ilustrando um caso de pareidolia auditiva.

No mesmo artigo onde foi desmentido o mito do boneco do Fofão, que traria um punhal e uma vela, citei o caso que eu chamei de “Os Alegres Cantores do Inferno”, onde pensaram estar ouvindo gritos e gemidos vindos do Inferno. Você mesmo pode fazer vários testes sobre sua percepção, bastando assistir aqueles vídeos do Tônico com Guaraná ou a versão indiana do Thriller, com sérias restrições orçamentárias, Golimar (na boa, eu morro de rir com esses indianos).

Se vocês não tiveram um derrame de tanto rir, podemos continuar.

Observem que as legendas quase que chegam perto do som, não é? Isso porque vocês lêem a legenda junto com a… música? Bem, dificilmente, vocês ligariam uma coisa a outra se vissem apenas o vídeo, além do fato de haver muitas legendas diferentes zuando esses vídeos. O mesmo acontece com as aulas de inglês em cursinhos. O professor passa uma gravação com uma conversa ou a leitura de um trecho. No início, parece uma algaravia que não significa muita coisa. Mas, quando ele libera para você ler o texto do livro junto com a gravação, você reconhece nitidamente o que foi dito. Mais uma vez, o nosso cérebro busca um padrão, um reconhecimento. E se colocar um texto cujo som seja diferente, mas com sonoridade semelhante, é bem capaz do aluno reconhecer todas as palavras que são ditas pelo texto que lhe for apresentado.

Até agora, vimos como o cérebro procura por padrões, sejam eles quais forem. O problema reside quando, ao “achar” um padrão, o próprio cérebro se recusa a aceitá-lo. Acontece uma espécie de curto-circuito e há uma espécie de “guerra” dentro da cabeça, onde uma parte do cérebro diz “Sim, é isso aí, parceiro!”, enquanto a outra parte diz “Tá maluco? Não pode ser!”. É o chamado Vale da Estranheza (também chamado de Vale Estranho, derivado do termo em inglês “Uncanny Valley”).

Masahiro Mori é um conceituado roboticista japonês, nascido em 1927. Ele é o pioneiro sobre a resposta emocional dos seres humanos a entidades não-humanas, e é conhecido sobre seus pontos de vista sobre religião e robôs. Em 1970, Mori (que eu acho que não tem nada a ver com o Kentaro Mori, mas ainda estou em dúvida) escreveu um artigo para a revista Energy, onde criou o termo “Vale da Estranheza” (Uncanny Valley), cujo conceito afirma que quando uma tentativa de produzir uma pessoa artificial chega próximo à perfeição, sem atingi-la de fato, o resultado gera uma espécie de desconforto. O gráfico abaixo ilustra o que é este vale (clique para ampliar).

Vale da Estranheza

Note que quando ele vai chegando próximo a aparência de um ser humano saudável, há uma queda num vale. E a súbita até o ponto onde o cérebro reconhece como sendo a aparência de uma pessoa saudável é bem íngreme.

Quando temos um robô que parece humano, mas fica nítido que ele tem um comportamento… digamos, de máquina, nós sentimos uma certa aversão, pois, como eu disse lá em cima, não há uma resposta similar à nossa atitude; soando no nosso subconsciente “ele não é um de nós”. A este tipo de aversão, dá-se o nome de Complexo de Frankenstein. Isaac Asimov explorou muito bem isso em seus livros e contos, principalmente no livro Eu, Robô (não percam tempo vendo o filme, que é extremamente inferior ao livro, como sempre). Você poderá baixar o livro AQUI. Com um pequeno detalhe: Asimov escreveu Eu, Robô em 1950, vinte anos ANTES do artigo de Mori, demonstrando que nosso falecido amigo ucraniano era um visionário!

Conhecendo a natureza humana, não é muito difícil de prever isso, já que somos propensos a odiar e rejeitar qualquer coisa que julguemos ser diferente. Ao explorar nossos preconceitos numa atmosfera de ficção científica, Asimov nos brindou com um verdadeiro tesouro literário. Ainda hoje, quase 60 anos depois, as Três Leis da Robótica constituem um paradigma para os pesquisadores da área. São elas:

  • 1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  • 2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
  • 3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e Segunda Leis.

Obviamente, nada é perfeito e Asimov sabia bem disso. E é exatamente nas “imperfeições” – em fatores imprevistos – que o livro Eu, Robô tem seu enredo desenvolvido. Recomendo fortemente a sua leitura.

Voltando ao Vale da Estranheza, é um desafio para os especialistas em filmes de animação evitarem de cair nele. Filmes como Shrek não causam tanta aversão nas pessoas, porque são caricatos, conforme o Cardoso relatou numa postagem do MeioBit. Aliás, se formos prestar bastante atenção no filme do Shrek, vemos uma clara representação de como nosso cérebro “ama” gestos que nos lembrem seres humanos, em especial os bebês, como no caso da cena do gato de Botas que faz aquela carinha meiga cuti-cuti-cuti, ilustrado na imagem ao lado.

Fazendo uma breve pausa, mas ainda dentro do assunto, podemos reparar que filmes de animação abordam bem esse jogo de aceitação de nossa psicologia. A Disney, por exemplo, deixa um visual fofinho em seus heróis e um aspecto malévolo em seus vilões, como é o caso do jovem Simba, de o Rei Leão, e seu tio malvado Scar. Você consegue distinguir quem é o mocinho e quem é o vilão?

Simba e Scar

Simba e Scar

AizenBem, isso reflete um pouco a nossa cultura. Em quadrinhos e animações japoneses (os chamados mangás e animes), os personagens não seguem muito essa linha. Vamos ver o camarada aqui ao lado, com óculos, cara de gente boa e aspecto de professor de colégio estadual, com seus contra-cheque realmente jogando contra. O tipo de cara que você não se incomodaria que namorasse a sua irmã, certo? Ele é Sousuke Aizen e, acredite, o sujeito é mau pra cacete.

Foi um artifício do autor dar um aspecto inofensivo ao vilão, afim de oferecer uma reviravolta na história. Assim como coloca-se um personagem caladão e afastado, com péssima aparência, para causar desconforto inicial, como é o caso do Hiei, da foto abaixo. Antes de continuar, agradecimentos ao Abbadon pelas informações sobre os animes. Particularmente, eu detesto mangás e animes. Até mesmo Hentais eu acho ruins.

HieiMuitos cientistas não acham que o Vale da Estranheza seja algo plenamente confiável, posto que o artigo de Masahiro Mori não se baseou em dados experimentais e, conforme relatado na edição Scientific American Brasil (ano 7 nº 80) estudos recentes que mapearam a reação humana perante robôs humanóides apresentaram resultados conflitantes. Pesquisadores argumentam que a rejeição depende do nível estético que o robô apresenta.

Isso significa dizer que não é porque um robô apresenta aparência humana que ele estará caindo automaticamente no Vale da Estranheza. Como mostrei anteriormente, temos um mecanismo interno que rejeita aparências que nós julguemos que não seja “um de nós”, que seja feio, em palavras mais diretas.

Assim, vamos a mais um exemplo, como a bela moça aqui embaixo (clique para ampliar). Bela, cabelos lisos, lindos olhinhos puxados, uma expressão calma. Um esplêndido tipo feminino de…

Robô!

Oi, gato! Você vem sempre aqui?

Bem, na verdade é uma Actroid – mescla dos nomes Actress (atriz) e Android (andróide). Como o próprio nome diz, ela é um andróide, um robô humanóide, inicialmente desenvolvido pela Universidade de Osaka e fabricado pela Kokoro Company. Foi exibido pela primeira vez em 2003 na Exposição Internacional de Robôs, em Tóquio. A foto acima é uma versão coreana apresentada em 2006 e, como pode-se notar, os técnicos da Kitech capricharam mais que os da terra do Sol Nascente.

Ela não causa tanto desconforto visual, apesar de vermos o Asimo mais como um robô do que a nossa beldade de olhos puxados (ali não são só os seios que são de silicone, mas toda a pele). E sim, eu sei o que você está pensando, seu pervertido. Existem modelos assim para fins… digamos, mais divertidos. ;-)

Jocelyn Wildenstein

Agora, vamos para um outro exemplo, como o da foto ao lado, que você deverá clicar para ampliar, mas não me responsabilizo.

Não, meu caro, não é um monstro do antigo seriado da Bela e a Fera. Seu nome é Jocelyn Wildenstein, vulgarmente conhecida como Noiva Wildenstein, que fez tanta cirurgia plástica pra ficar com um jeito… felino (?), e acabou daquele jeito. Conta-se que o marido quando a viu soltou um grito de terror e se ela pensou que ficando assim estaria mais atraente, se enganou, já que pegou o marido na cama com uma modelo de 19 anos. Assim são as vaidades deste mundo. ;-)

Bem, ela é um ser… real (???) mas que nos confere uma sensação de desconforto. Se o Vale da Estranheza realmente existe, a Noiva Wildenstein foi pro subsolo dele.

Assim, nos resta perguntar: O que é realmente o Vale da Estranheza? Não é apenas a representação de nossos preconceitos, onde rejeitamos figuras que não são esteticamente adequadas à nossa formação cultural? Ou será que ele existe para mostrar que ainda somos definidos pelo instinto social que herdamos de antepassados para reconhecer aqueles que em teoria não são ameaça para nós? Seria a pareidolia um escape de nossa mente, para que não nos sintamos sozinhos e tornemos reais nossos desejos de forma a ver e ouvir o que queremos?

Não há uma resposta direta e se houver, não é simples. Só apontamos o que efetivamente acontece nesse emaranhado de estranhezas e preconceitos ao qual damos o nome de Mente Humana.

27 comentários em “Pareidolia e o Vale da Estranheza

  1. Sabe, onde vejo muito caso de pareidolia?

    Em sites sobre sobrenatural, pricipalmente em artigos, sobre os famosos quadros das crianças que choram, é um tal de ver olhos, faces, bruxas, demônios, mãos, sangue, onde não se vê NADA, além de pinceladas de tinta.

    Acho que além da pareidolia, existe a auto – sugestão (você está diante de algo sobrenatural e misterioso e TEM que achar algo, mais misterioso ainda, pra contribuir), e também a ajuda de um pintor que talvez tenha tentado expressar dor e sofrimento, atravéz do uso de crianças como modelos (por que crianças nos comovem mais que adultos?), e que na minha opinião, tinha algum problema com proporção e iluminação, abrindo caminho, para interpretações das mais malucas.

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  2. mirtes, a um tempo atrás eu morria de medo desses quadros auhau, e tambem das musicas qndo tocadas de tras pra frente sabe…a minha mãe ficava me botando medo…. ela sempre teve essas cismas, sempre dizendo q ve coisas q já viu o capetinha e por ai vai. Hoje eu me sinto bem melhor, livre dessas tosquices.
    Estava lendo agora pouco sobre isso tambm no livro O mundo assombrado pelos demonios, onde fala da face em Marte e tambem sobre abduçoes.
    Excelente artigo. Parabens.

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  3. Sobre “iô-iô”, escrevesse “ioiô”, o que não tem é hífen, podendo significar tanto o brinquedo quanto o modo que os antigos escravos negros chamavam seus senhores “ioiô e iaiá”.
    Sobre a suástica e o símbolo no Buda Chinês: nos mesmos livros de ideogramas chineses onde se acham aqueles simbolos de “Yang-yung” encontram-se os dois símbolos invertidos que significam na tradição deles na posição da suástica a “força centrípeta” e na posição do Buda a “força centrífuga”: a primeira como “força centralizadora, totalitária”, a outra como “força descentralizadora, distribuidora, emanescente”. Ou também os pólos magnéticos, são ideogramas muito antigos, os nazistas usaram o símbolo porque sabiam o que significava e combinava com seu projeto de dominação totalitarista.
    Sobre a pareodolia, penso que esteja relacionada aos dons e habilidades de “construtivismo” que temos naturalmente; eu desenho e até esculpo figuras, cenários, paisagens a partir de manchas e formas eventuais no material que encontro, depois de observa-las fixamente parece-me que o cérebro reajusta e remonta as formas e fazem algum sentido que vou acentuando depois. É claro que viajo no que as nuvens formam. No entanto, o que se vê na figura sempre tem a ver com a psiquê de quem a vê, desejos, sonhos, medos, fixações, obsessões.

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  4. Em alguns casos, pareidolia me parece ser mais um tipo de persuasão subliminar, principalmente em relação às pessoas de fé demais.

    Basta surgir um chimpanzé com a feição de Judas que no mesmo instante aparecerão armados com paus e pedras cristãos ferrenhos para malhar o pobre coitado.

    É uma resposta consciente(?) provocada pela suposta imagem do infiel projetada no símio.

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  5. sempre reparei isso nas pessoas que procuram incessantemente por mensagens subliminares em qualquer coisa, é 1 paranóia sem tamanho para alguns crentes e uma boa fonte de renda para alguns autores

    outra coisa , a inumera quantidade de orgãos genitais que eles encontram está diretamente relacionada à carência sexual :mrgreen:

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  6. Artigo muito bom. Me lembrei de quando eu paro pra olhar formas nas nuvens. Sobre a aparencia dos personagens da Dysnei o grande divulgador de ciencia e do darwinismo Stephen Jay Gould, em seu livro “O Polegar do Panda”, escreveu um capitulo sobre isso. Ele comenta o fato dos personagens bons terem aparencias mais próximas dos filhotes humanos. Isso faz com que as pessoas gostem dele, instintivamente.
    Abraços.

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  7. Prosopagnosia é um mal que faz a pessoa não diferenciar rostos, mas não implica que ela não saiba a diferença entre um robô e um ser humano, pois dificilmente eles acharão que uma animação da Pixar seja uma pessoa de verdade.

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  8. Uma coisa mal estudada é a pareidolia linguística ou verbal que está nas teorias da conspiração e nas profecias sejam bíblicas ou de Nostradamus. As pessoas querem porque querem crer que algumas falas vagas nebulosas seriam previsões do futuro ou que algumas suspeitas desconexas poderiam revelar uma conspiração secreta…

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  9. não se encaxaria em pareidolia também coisas como astrologia? a necessidade de padronizar e normalizar a personalidade e comportamento humano?

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  10. Olá. Eu gostaria de citar esse artigo em um trabalho acadêmico, e por isso gostaria de saber a data em que foi postado. Obrigada

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