Um dragão em minha garagem

Desde a metade do século XX, os partidários da hipótese extraterrestre nos asseguram que a evidência física – e não se trata de mapas de estrelas de anos atrás, nem de cicatrizes, nem de solo alterado, mas de tecnologia alienígena real – estava à mão. A análise seria liberada a qualquer momento. Essas afirmações remontam à primeira fraude dos discos acidentados de Newton e GeBauer. Já se passaram décadas, e ainda estamos esperando. Onde estão os artigos publicados na literatura científica autorizada, nos periódicos de metalurgia e cerâmica, nas publicações do Instituto dos Engenheiros Elétricos e Eletrônicos, em Science ou Nature?Essa descoberta seria de grande importância. Se houvesse artefatos reais, os físicos e os químicos estariam lutando pelo privilégio de descobrir que há alienígenas entre nós – que usam, por exemplo, ligas desconhecidas ou materiais de resistência à ruptura, de ductilidade ou condutividade extraordinárias. As implicações práticas de uma descoberta dessas – independentemente da confirmação de uma invasão alienígena – seriam imensas. É por descobertas desse tipo que os cientistas procuram. A ausência delas deve nos dar uma dica.

Manter a mente aberta é uma virtude – mas, como o engenheiro espacial James Oberg disse certa vez, ela não pode ficar tão aberta a ponto de o cérebro cair para fora. Sem dúvida, devemos estar dispostos a mudar de opinião, quando autorizados por novas evidências. Mas estas devem ser fortes. Nem todas as afirmações têm igual mérito. Na maioria dos casos de raptos por alienígenas, o padrão de evidência é aproximadamente o mesmo dos casos da aparição da Virgem Maria na Espanha medieval.

O psicanalista pioneiro Carl Gustav Jung tinha muita coisa sensata a dizer sobre questões desse tipo. Ele afirmava explicitamente que os UFOs eram uma espécie de projeção do inconsciente. Numa discussão correlata sobre regressão e o que hoje em dia se chama “canalização”, ele escreveu:

“Pode-se muito bem […] tomar esses fenômenos simplesmente como um registro de fatos psicológicos ou como uma série contínua de comunicações do inconsciente […]. Eles têm essa característica em comum com os sonhos; pois os sonhos também são declarações sobre o inconsciente […]. A presente situação contém motivos suficientes para esperarmos calados até que apareçam fenômenos físicos mais impressionantes. Se, depois de descontarmos a falsificação consciente e inconsciente, o auto-engano, o preconceito etc., ainda acharmos algo positivo por trás de tudo isso, então as ciências exatas vão certamente conquistar esse campo pelo experimento e pela verificação, como aconteceu em toda outra área da experiência humana”.

Sobre aqueles que aceitam esses testemunhos ao pé da letra, ele observou:

“Essas pessoas não só têm insuficiência de pensamento crítico, mas também desconhecem as noções mais elementares de psicologia. No fundo, não querem aprender nada, mas simplesmente continuar a acreditar sem dúvida a mais ingênua das presunções, em vista de nossas falhas humanas”.

Talvez algum dia um caso de UFO ou de rapto por alienígenas seja bem testemunhado, acompanhado por evidências concretas convincentes, e somente explicável em termos de visitas extraterrestres. É difícil pensar numa descoberta mais importante. Até agora, entretanto, não houve casos assim, nada que chegasse perto disso. Até agora, o dragão invisível não deixou nenhuma pegada impossível de ser falsificada.

O que é, portanto, mais provável: que estamos sofrendo uma invasão maciça, mas em geral imperceptível, de alienígenas que cometem abusos sexuais, ou que as pessoas estão experimentando um estado mental que desconhecem e não compreendem? Reconhecidamente, somos muito ignorantes tanto em seres extraterrestres, se é que existem, como em psicologia humana. Mas, se essas são de fato as duas únicas alternativas, qual você escolheria?

E, se os relatos de raptos por alienígenas versam principalmente sobre a fisiologia do cérebro, alucinações, lembranças distorcidas da infância e embustes, não temos diante de nós uma questão de suprema importância – que diz respeito às nossas limitações, à facilidade com que podemos ser enganados e manipulados, à formação de nossas crenças, e talvez até às origens de nossas religiões? Há um tesouro científico genuíno nos UFOS e nos raptos por alienígenas – mas tem, a meu ver, um caráter nitidamente nativo e terrestre.


Notas:1. Então, numa frase que nos lembra o quanto o paradigma dos raptos por alienígenas está ligado à religião messiânica e milenarista, Mack conclui: “Sou uma ponte entre esses dois mundos”.2. Não podem ser chamados simplesmente de testemunhas – porque muitas vezes o ponto em discussão é exatamente se testemunharam alguma coisa (ou, pelo menos, alguma coisa no mundo exterior).

26 comentários em “Um dragão em minha garagem

  1. hduhduadhsfhaudhasas, tem o caso do Jesus na bunda do cachorro também!!! udhasudhaudhaduhud!

    como se chama isso, pare… alguma coisa!!!

    Curtir

  2. concordo, a ciência tem derrubado um monte de mitos e fraudes, e mesmo que um dia ela derrube minhas crenças, eu acredito que se isso acontecer, será uma coisa muito boa pra mim!

    o que seria da humanidade se não existice o impulso, ou desejo, de elucidar os fatos, entender, e aprender? acredito que ainda estariamos vivendo dentro de cavernas, no escuro, quase que como animais irracionais.

    não é por que tenho uma crença, que não aceito a palavra da ciência.

    além do mais, acho que ninguém tem o direito de queer impor aos céticos, que acerditem em algo, do mesmo jeito que acho um abuso, certos céticos quererem impor para uma pessoa, que ela perca a fé dela em algo, so por que eles não acreditam nesse algo. É um abuso de ambas as partes.

    perde-se mais tempo discutindo se algo existe ou não, do que tentando fazer algo, para se melhorar as condições péssimas em que vivemos.

    e perdoem alguns erros de gramática, pois tenho dislexia, e isso não é desculpa, ra justificar burrice!

    beijos!

    Curtir

  3. concordo, a ciência tem trabalhando muito, para derrubar mitos, e mesmo que um dia ela derrube minahs crenças, acredito, que será algo muito bom pra mim.

    melhor perder a fé em algo, porém sair da cegueira.

    Curtir

    1. Cada coisa a seu tempo. A transição da vida religiosa para a não religiosa pode ser desagradável (varia para cada pessoa), então deixe que ela decida quando e se vai acontecer. A vida é dela e não adianta pressionar, ela é quem tem de decidir.

      Curtir

      1. Concordo com o Edmilson mas também penso como o Chico Sá.
        A Mirtes não é como as ovelhinhas que aparecem no Cet de vez em quando. Talvez ela não queira se tornar como eu, um maldito ateísta :mrgreen: .
        Mas é provável que em pouco tempo se torne ao menos agnóstica.

        Venha para o lado cético da Força Mirtes :twisted:

        Curtir

    2. Por mais que eu ache que as religiões servem para manipular o povo e desde o inicio foram criadas com esse intuito, ainda assim tenho que admitir que analisando antropologicamente, as crenças no divino fizeram a humanidade se estruturar e se unir em torno de algo. Nenhuma sociedade evolui sem liderança e organização hierárquica, e desde o início a religião foi usada para isso. Sem leis para dirimir conflitos o mundo seria um caos, e com a religião os líderes conseguiam impor regras de convivência que só eram aceitas por todos por ser “a vontade de Deus”.

      Curtir

  4. Só para contribuir com a matéria do Carl Sagan:
    Nos anos 80 eu gostava de ler a coluna do Franz Paul Trannin da Matta Heilborn – mais conhecido entre seus leitores da Folha de São Paulo pelo pseudônimo de Paulo Francis. Uma vez ele falou sobre a ideia das folhas de chá… É o seguinte:
    Um cara estava com muita vontade de tomar chá, aí ele abriu a gaveta e ela estava vazia. Ele viu então que a gaveta que conteve chá durante décadas era forrada por uma folha de papel.
    A folha estava até meio manchada. Será que se ele picasse e fervesse essa folha de papel o produto resultante teria as propriedades do chá? :roll: Entrem os Mithbusters!
    Isso que é a fé. Se você acha que essa folha de papel tem as propriedades do chá, então você tem fé. Se acha que não tem as propriedades do chá, você não tem fé.

    Curtir

  5. Se pensarmo no universo como um ciclo de explosões e implosões eternas, como o Big Bang, em que esse universo se expande, se equilibra criando a vida em alguns planetas e depois de bilhões de anos após esgotarem-se os recursos destes planetas as energias dos sóis gerando buracos negros com extrema força gravitacional que atrai seus planetas, que por consequência se unem a outros buracos negros vindo ai a grande implosão, ou Big Bang invertido para que se misture toda matéria universal e se crie vida após um outro Big Bang. Enfim, quero mostra que o difícil para gente não é entender o q há antes do nada, mas sim entender o eterno. Em relação a Deus, acho q há um erro no conceito, não foi Deus q criou o universo, Deus é o universo, é essa força que movimenta o universo, não uma “pessoa” que movimenta o universo. Toda essa tendencia que o universo tem a se equilibrar podemos chamar de Deus. O ser humano tende a humanizar Deus como um ser cheio de quereres, mas ele não é um ser todo poderoso, ele é o poder. Não há vida porque Deus quer, Deus é a vida. Deus não faz o universo se equilibrar o equilíbrio é sinônimo de Deus. É uma questão de conceito, acredito em Deus como um substantivo sinônimo de equilíbrio universal propenso a vida, uma força cientificamente explicável que leva a estabilidade do universo, uma aversão ao caos. E por isso tudo nesse mundo que leva ao equilíbrio é uma coisa de Deus. Jesus é considerado como “filho de Deus” por que a filosofia de vida por ele proposta leva ao equilíbrio universal. Não fazer mal ao próximo, dar a outra face quando formos ofendidos, entre vários outros ensinamentos são filosofias de vida que inibem o caos. Quanto ao miticismo em torno de Jesus, seus milagres e heroísmos isso deixamos para o homem. Podemos acreditar em Jesus, segui-lo, sem mitifica-lo, ele foi um homem extraordinário como muitos outros que surgiram na história da humanidade, Buda, Gandhi, Madre Tereza e vários outros deram exemplo de conduta, e sempre buscaram o bem, a paz, o equilíbrio, a deus – escrito agora com letra minuscula propositalmente, por ser um sinônimo linguístico destas outras palavras.
    A vida não deixa de ser linda por sermos céticos, se torna até mais interessante, não perde o propósito, pois ela é o seu próprio propósito, a vida serve pra viver e viver bem, no bem comum, na paz, em busca do equilíbrio, a favor de deus. E após a morte resta apena o legado.

    Curtir

          1. @André, Parece mais um testemunho de fé. Veja que, num dado momento, ele usa o verbo acreditar e não apresenta evidência alguma que suporte as afirmações feitas sobre a tal tendência ao equilíbrio do universo. Quanto ao paragolemiado sobre Jesus: que Jesus? É aquele da bíblia? De novo? Rá!

            Curtir

          2. @Deimos, Eu não acredito em milagres, não acredito em vida após a morte, e em nada q a ciência não possa provar, ou seja, em nada sobrenatural. E é por causa da ciência, q tem a logica retórica como uma de suas ferramentas, q eu acredito na existência de Jesus, seja lá qual for o nome q ele tenha. E acredito na existência de vários outros como ele, como já citei. Sua história, ou o q agente sabe sobre a sua história é algo q contradiz qualquer preceito de manutenção no poder das classes dominantes, dos ricos senhores feudais da época, o clero e o poder absoluto do rei. Pelo q eu conheço, que é muito pouco em vista do possível, seus ensinamentos leva a uma vida de doação, entrega e fraternidade. Uma humildade nos quereres e nos padrões de vida. Isso refuta qualquer ideia de manutenção destas classes dominantes no poder, pois iguala os reis, nobres e clérigos aos civis da época como “filhos de Deus”. Não meu ver somos todos filhos do “bem” e todos temos obrigação com a manutenção do equilíbrio universal, da paz e do bem.
            Nós humanos somos falhos, mas não podemos deixar de acreditar nas evidências. O ser humano precisa de heróis, utopicamente copiáveis. É necessário q agnt nunca alcance nosso objetivo, q é a perfeição, pq precisamos de propósitos inalcançáveis para vivermos. O ser humano precisa de buscar um fim, pq ainda não aprendemos q a busca é o mais importante, não o objetivo, por isso criamos heróis com superpoderes, autores de milagres e etc etc etc. Agente não precisa ignorar uma história pq alguns atribuíram fatos sobrenaturais a ela, cabe a nós retirarmos o q a soa de verdade nesta história e ignorar os mitos.

            Curtir

      1. @deyverson,
        Opa, acabei de me registrar, mas já acompanho os atigos via feed rss a um bom tempo. Estou em fase de conflito sobre o que acreditar e esse posicionamento sobre DEUS considerei bem interessante.

        Curtir

  6. Alguém disse certa vez (não me lembro bem quem): o invisível e o inexistente são bastante parecidos. Se bem que eu acho que seria melhor dizer o indetectável e o inexistente são bastante parecidos.

    Curtir

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.