A Lâmpada que ilumina o coração hipócrita

Havia dois Diógenes. Diógenes Laércio, historiador, filósofo e biógrafo de antigos filósofos gregos. Nascido no ano 180 EC em algum lugar do Império Romano, que não se sabe qual é. Quase nada sabemos sobre ele. Temos Diógenes, o Cínico, nascido em Sínope (por isso, ele é chamado também de Diógenes de Sínope), uma colônia jônica no Mar Negro, em alguma data entre 412 ou 404 AEC. Diógenes Laércio escreveu sobre seu xará de Sínope em sua obra Vidas e Opiniões de Eminentes Filósofos; Plutarco também escreveu sobre o filósofo de Sínope, dizendo que Diógenes, o Cínico morrera em Corinto no mesmo dia que Alexandre da Macedônia, então, foi algo em 323 AEC. Estas datas estão certas? Ninguém sabe.

Diógenes era chamado O Cínico dada a escola filosófica que ele fundou; ou, pelo menos, iniciou: o Cinismo. As palavras mudam de significado com o tempo, e Cinismo era uma escola filosófica em que seus seguidores tinham para si que o objetivo da vida é viver em virtude, de acordo com a natureza. Achavam que seres humanos, como criaturas racionais, podem obter a felicidade treinando rigorosamente e vivendo de uma maneira natural para si mesmas, rejeitando todos os desejos convencionais de riqueza, poder, sexo e fama. Em vez disso, eles deveriam levar uma vida simples, livre de todos os bens. Eu mesmo não estou nesse nível. Não por habilidade, mas por achar, como o tocador de cítara disse, se apertar demais a corda arrebenta; se afrouxar, não se consegue tocar o instrumento.

Diógenes vivia como um mendigo. Fora sequestrado por piratas, vendido como escravo e foi parar em Atenas, onde perambulava seminu. Chegou a ser visto se masturbando enquanto dizia que ele gostaria de saciar a sua fome esfregando sua barriga. Os atenienses o detestavam, mas um camarada gostava dele: Alexandre da Macedônia. São várias as referências e histórias de encontros entre eles dois. Diz-se que Alexandre chegou perto dele e disse que ele podia escolher o que quisesse, que ele, Alexandre Magno, atenderia. Diógenes disse-lhe em tom raivoso que saísse da frente do sol e que não lhe prometesse o que não podia dar.

Conta-se também que Alexandre saiu dizendo “Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes”. Sim, eu duvido que que tenha acontecido exatamente assim, mas histórias, contos e parábolas eram a forma que os antigos usavam para dar lições e transmitir ensinamentos.

Contam-se outras histórias de Diógenes, como ele andar pelas ruas de Atenas com uma lanterna em busca de um homem honesto. Sim, achavam que Diógenes era totalmente pancada da ideia, mas era algo que os presunçosos não entendiam o que ele queria dizer. Aí, o que fazem? Preferem as sandices de Aristóteles e Platão porque era um monte de bobagem que agradava a poderosos, ainda mais que ambos eram defensores de escravidão e puxavam o saco de poderosos. Diógenes continuava a ser melhor que todos eles.

A Verdade é uma busca, não uma simples opinião. A busca nos faz aprender mais, a rejeitar os mitos, as mentiras e a desfaçatez. Todos podem estar mentindo. Todos podem ter uma agenda própria, todos podem escolher o que querem mostrar, fingindo que a realidade em volta não existe.

Alguém precisa meter a lanterna na fuça e procurar a verdade, perguntando se aquela é uma pessoa honesta. Perguntas simples (tipo “sim” ou “não”) são o bastante. Se é preciso enrolar e não responder, já se sabe com que tipo estamos falando.

A exigência de provas das alegações é uma obrigação. Ceticismo é se posicionar em dúvida do que está acontecendo e não ter uma mente que usa o que interessa sem averiguar informações. Quem faz isso, ao ser iluminado pela lanterna, já se coloca à mostra do que está acontecendo e como está se posicionando. O Homem Honesto ao ser iluminado deve enfrentar a si mesmo. Alguns preferem apagar a lanterna de quem busca a verdade.

Em séculos e mais séculos, figuras questionadoras buscam o conhecimento, mas a filosofia decaiu para alguém com certezas, e não para alguém que busca o conhecimento. Acabamos com criaturas de ideias pré-concebidas, sem ter a coragem e a honestidade de perguntar ao outro baseado em que ele afirma tal coisa. A resposta pode não ser agradável, então, melhor ignorar e continuar espalhando o que se tem como verdade.

Não vivemos num mundo mágico, nem num mundo de torpes maquinações. O mundo é mais simples do que se pensa, mas algumas pessoas precisam de algum drama existencial, inimigos a serem combatidos, mesmo ao se viver numa insana fantasia de gigantes malvados e guerreiros, quando são apenas moinhos. Mas as pessoas querem histórias fantasiosas e incríveis vilões, como em histórias em quadrinhos e filmes do James Bond. O mundo é bem mais simples que isso, e esse é o problema do mundo. Seus problemas são simples, e isso guarda certa complexidade, pois um grande inimigo é derrotado com um ataque coordenado, mas pequeninos inimigos são deixados de lado. Por isso, não temos mais mamutes, mas mosquitos ainda dominam o mundo.

Queremos um grande vilão, projetamos um ser nefasto em tudo à nossa volta, mas o que estamos querendo mesmo é nos fazer de heróis, de resistência, de inimigos do Rei, de Titãs em luta. Citamos Carl Sagan sobre as evidências extraordinárias, pois o ceticismo não cabe quando se quer espalhar uma verdade que só existe na cabeça, rezando, implorando, para não aparecer alguém com uma lanterna e questionar o que fundamenta isso. Quando aparece, é colocar os dedos no canal auditivo e falar “lálálálá”. Acho que tem um nome. Aliás, vários deles.

Quando eu e meus amigos montamos este site, resolvemos que nosso símbolo (como é usual, claro. Pouco original, entretanto) seria um cérebro sem corpo. Apenas pensamento, sem nos apegar de quem era o pensamento, pois Jeriba Shigan ensinou que a Verdade é a Verdade, não importa de onde venha.

Na atualização do logo do site, eu escolhi a cérebro dentro da lâmpada, numa versão mais moderna da lanterna de Diógenes. A Lâmpada usa a luz do pensamento para iluminar cada um de vocês, expondo para vocês mesmos quem vocês são. Se vocês se aceitarão, é outra história. Mas que fiquem certos que muitos os verão, segundo o que vocês propagam e o que tentam esconder. A Lâmpada ilumina os cantos escuros de tudo o que há em busca do que é verdade. Obviamente, vocês podem devolver a luz com o auxílio de um espelho.

Mas fiquem certos: a Lâmpada já se enxergou antes de olhar para a profundeza do abismo, sem ter medo do abismo olhar de volta. Mostrem quantos espelhos quiserem. Mas guardem um para vocês mesmos.

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