Peguem aquele pombo!
Durante a Primeira Guerra Mundial, o esforço de guerra americano recrutou mais de 200.000 pombos para conduzir vigilância e retransmitir mensagens. Eles tinham toda uma infraestrutura, com veículos próprios para transportar pombos-correio e gente designada apenas para cuidar deles.

E se você pensa que pombos levavam e traziam mensagens, fique sabendo que eles não apenas levavam fotografias. Eles TIRAVAM fotos. Claro, não apontavam uma câmera e clicavam o objeto a ser fotografado. As câmeras eram automáticas.
Julius Gustav Neubronner foi um boticário/apotecário/farmacêutico (use o termo ue quiser) alemão, inventor e um dos pioneiro da fotografia e cinema amadores. Ele adorava fotografar mas, mais que tudo, ele era um sujeito que pensava fora da caixa. Enquanto todo mundo dispunha de algum tipo de entregador, ele usava… pombos. Sim, pombos. Prendia o medicamento na perna do pombo e o pombo levava o remédio a quem tinha contratado o serviço. Genial, não?
Mas calma. Neubronner ainda pensou se era possível colcoar uma câmera pequena num pombo de forma a captar fotos do céu. Ele foi na contramão de Lawrence para fazer a mesma coisa. Não, ele não conseguiu imensas fotos panorâmicas, mas nem por isso o resultado foi excelente:


Em sua patente “Method of and Means for Taking Photographs of Landscapes from Above” (Métodos e meios de tirar fotos de paisagens de cima), Neubronner descreve coo os pombos podiam carregar câmeras feitas exclusivamente para eles.

Pombos de Neubronner já equipados
Muitos desses pombos foram utilizados na Primeira Guerra Mundial. Mais tarde, a OSS (o berço do que seria a Agência Central de Inteligência, CIA) produziu uma câmera com bateria para pombos como ferramenta de espionagem, embora os detalhes do uso permaneçam secretos até hoje, mas não devem diferir muito da invenção de Neubronner. Até a Segunda Guerra Mundial, “pombos de guerra” estavam em uso, embora permaneça desconhecido se eles foram usados ??para vigilância aérea. Mas só em mandar mensagens escritas, pombos faziam a diferença.
Lembram que eu falei sobre tráfego de informações e da importância de impedir que elas cheguem até o inimigo ou de você fazer de tudo para que o inimigo não impeça que chegue? Isso faz a diferença entre a vitória e uma catástrofe. Que o diga o major Charles W. Whittlesey, durante a Primeira Guerra Mundial.
O major Whittlesey comandava o 308º Regimento de Infantaria dos EUA. No início de 2 de outubro de 1918, com a 28ª Divisão Americana à direita e partes do Corpo do 4º Exército francês à esquerda, o Major Whittlesey e seus homens entraram na posição fortemente arraigada e entrincheirada na floresta de Argonne, com o “Monte 198” como objetivo deles. Ao avançarem para a floresta, encontraram resistência, mas estavam confiantes de que seus flancos estavam seguros. Só que eles estavam errados.
Os krauts começaram uma ofensiva bem mais feroz. Os franceses recuaram. A outra tropa americana que estava dando apoio, também. Whittlesey não sabia disso e ele e seus homens ficaram sozinhos, sem apoio. Quando ficou sabendo disso, Whittlesey sabia que tinha apenas duas opções: segurar a posição ou recuar. Whittlesey disse algo como “aqui ó, que vou recuar”. Era 4 de outubro de 1918.
O comando de operações americano não estava ciente da decisão de Whittlesey. Eles simplesmente não sabiam onde o 308º estava, já que o GPS ainda não fora inventado. A alternativa era meter bomba onde se achava que os alemães poderiam estar, rezando para que o 308º Regimento não estivesse lá.
Acertaram 50%.
As bombas começaram a cair em cima dos alemães, e isso era um bom sinal. Whittlesey e seus homens estavam no mesmo lugar do bombardeio, e isso era péssimo! Em meio ao ataque, a única saída era avisar ao QG americano que eles estavam ali e, de preferência, que parassem de jogar aquelas malditas bombas! Era impossível mandar um soldado. Sendo assim, mandaram o pombo Cher Ami, ou Querido Amigo.
Este pequeno herói emplumado voou para o Corpo de Sinais do Exército dos EUA na França, tendo transmitido 12 mensagens importantes, mas aquela era mais que uma mensagem importante. Era uma questão de vida ou morte.
Cher Ami saiu voando, carregando um apelo desesperado para parar o bombardeio:

“We are along the road parallel 276.4. Our artillery is dropping a barrage directly on us. For heaven’s sake stop it.”
“Estamos ao longo da estrada paralela 276.4. Nossa artilharia está lançando uma torrente de bombas diretamente nas nossas cabeças, seus idiotas. PAREM JÁ COM ISSO, MOTHERFUCKERS!” (tradução livre)
Os alemães viram o Cher Ami voando. Saiu o alarma geral: MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!!![Carece fontes]
Os krauts fizeram de tudo para derrubar o Cher Ami, sentando o dedo no pombo, e quase conseguiram matá-lo, e nem mesmo o sistema anti-pombo impediu o Cher Ami fazer o seu trabalho; e por “sistema anti-pombo”, estou me referindo a alemães usarem falcões, lançando as aves de rapina para sair voando e caçar os pombos. Naquela confusão daquele fatídico dia, não foram usados falcões, mas tiro, mesmo. Talvez tenha sido isso que tenha salvado os homens do major Whittlesey.
Apesar de levar um tiro no peito e na perna, Cher Ami conseguiu completar a sua missão e entregar a mensagem, que estava pendurada na sua perna quebrada. Dos 554 homens do 308º Regimento, houve um saldo de 107 mortos, 190 feridos e 63 desaparecidos. O Exército dos EUA concedeu a Medalha de Honra a três soldados envolvidos no cerco, incluindo o Major Whittlesey, que também recebeu imediatamente uma promoção no campo de batalha para o posto de tenente-coronel.
Cher Ami, ferido, ficou a cargo dos médicos do batalhão, que fizeram de tudo para tratar de seus ferimentos. Foi agraciado com a comenda Croix de Guerre com a palma da folha de carvalho pelo governo francês, a medalha de ouro dos Organized Bodies of American Racing Pigeon Fanciers e foi incluído no Hall da Fama dos Racing Pigeon. Seu cuidador, Enoch Clifford Swain, do Corpo de Sinais, também recebeu um prêmio por seus serviços. Cher Ami morreu em 1919, por seus ferimentos de batalha, e até que resistiu bastante!
Seu corpo está em exibição na exposição “Price of Freedom: Americans at War” do Museu Nacional de História Americana Smithsonian em Washington, DC, e em novembro de 2019, foi agraciado postumamente pela Medalha de Bravura de Animais na Guerra e na Paz.

O que muita gente ficava intrigada com os pombos é: como esses penosos conseguem voar em ambientes tão desfavoráveis, com ventos de 45° açoitando-os? Até agora não se sabia ao certo, até que um grupo de pesquisadores estudaram como aves conseguem voar quando colocadas em um túnel de vento.
Os resultados, publicados no Proceedings of National Academy of Science, foram matematizados em modelos computacionais, e basicamente mostra como agapornis navegam estabilizando e fixando seu olhar no objetivo, enquanto guiam seus corpos em um vento cruzado, muitas vezes tendo que contorcer seus pescoços a um ângulo de 30° ou mais. O modelo gerado por computador indicou que, enquanto o controle do pescoço está ativo, a reorientação do corpo no vento é obtida passivamente.
Foi graças a esta capacidade que Cher Ami e tantos outros conseguiram completar a sua missão.
Mas calma. Você pensa que acabou? Eu até poderia acabar aqui, mas ainda tenho mais umas coisinhas interessantes a dizer, como falar pra vocês que o major Whittlesey dispor naquela época a capacidade de mandar imagens para locais por outros meios que não fossem carta. Ele dispunha de meios eletrônicos para isso.

Sensacional, não conhecia a história do Cher Ami, mas eu conhecia a história do Vaillant, que aconteceu na batalha de Verdun, durante o cerco do Fort Vaux:
https://www.20minutes.fr/loisirs/4008481-20221111-11-novembre-vaillant-pigeon-heros-grande-guerre
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